quarta-feira, dezembro 27, 2006

Cinco razões para ter amigos em 2006 parte II

Na continuação das listas dos amigos, Luís Nunes. Luís Nunes está para Walter Benjamin como eu estou para Senhor Aníbal: somos as únicas ligações deles ao mundo. O Luís é membro dos Jesus, The Misunderstood, uma banda que é um bocado chata e um bocado gira e é a única pessoa que alguma vez me dedicou uma canção em palco. Os concertos da banda dele acabam invariavelmente com o barbudo do Luís e o Tiago Sousa da Merzbau a tocar uma versão de "Sweet Jane" dos Velvet Underground. Mas em vez de irem pela versão suave e fofinha ao vivo que os Cowboy Junkies até versionaram, vão pela versão mainstream de Loaded, o que é uma pena.
Este blog não subscreve, de todo, as ideias do Luís e avisa que ele não é homofóbico nem nada disso. E ainda por cima esquece os Grizzly Bear, facto que nunca lhe perdoarei.

Cinco razões para ser gay em 2006 (versão orientada para homens)



Lista de alternativas em caso de desespero. A escolher ou a evitar.

5. Stuart Staples Senhor que já tocou numa banda chamada Tindersticks. Agora continua a tocar na mesma banda mas mudou o nome e também os músicos. É desajeitado, a sua figura no palco não é muito atraente e fuma desalmadamente. No entanto deve ter muitas amigas, o que é bom. O tipo deve estar sempre deprimido, o que pode resultar para contrabalançar os que de nós forem bichas alegres.

4. Kurt Wagner Proprietário de uma banda de Nashville, os Lambchop. Ex-assentador de tijoleira e actual escritor de canções, tem uma voz que parece mel (e poderá cair que nem ginjas nos ouvidos dos deprimidos mais alcoólicos). A maioria de nós já pensou "Foda-se, quero casar é com este tipo" ao ouvir os Lambchop. Pena que seja casado com uma mulher, o chapéu à camionista não lhe fica assim tão mal.

3. Senhor Aníbal Nome maior da cena musical do MySpace. Ninguém conhece a sua cara, só o seu talento, bom gosto e olho para colaborações. Escreveu canções bonitas como "Canalizador do amor", obra maior da sua já/ainda longa discografia. É o candidato mais forte porque é português e esteve no Ultramar. Toda a gente sabe que os portugueses que estiveram no Ultramar são pessoas sensíveis e empenhadas em resolver os conflitos dos outros.

2. Stephin Merritt Este é, aparentemente, o primeiro homossexual da lista. Dono de versos como “I'm the luckiest guy on the lower east side, 'cause I've got wheels and you wanna go for a ride?” e de músicas que adoram pôr-nos deprimidos (e de um gravador de 4 pistas do qual parece não se querer livrar), o líder dos Magnetic Fields, é, apesar de ser feio, um óptimo substituto para qualquer depressão amorosa. Um tipo que escreve 69 canções de amor (e ainda por cima edita-as) só pode estar pior que nós.

1. George Michael Se alguém começou a sentir o seu lado mais gay a vir ao de cima, aqui está uma boa razão para gostar de mulheres outra vez. Ou querem acordar com o vosso parceiro sexual a cantar os grandes êxitos dos Queen no duche?

segunda-feira, dezembro 25, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

Cinco razões para ter amigos em 2006 parte I

Como maneira de pilhar sem misericórdia o Nick Sylvester - que entretanto escreve na Wire e na Stylus, ainda bem, não faço ideia se há muito ou há pouco tempo, é sempre bom lê-lo -, decidi convidar amigos para as listas parvas que tenho andado a fazer.
Joana Lima é da Figueira da Foz e diz que já viu o Alex James e droga. Não sei bem a história, mas era minha colega n'Os Fazedores de Letras - inevitavelmente e, tal como eu, fartou-se da falta de rumo daquilo, ou então estava só aborrecida - e gosta de Clipse. Isso faz dela, automaticamente, boa pessoa, visto gostar de gente que vende droga. O texto e as razões que se seguem não são da minha autoria, nem da minha responsabilidade (na verdade nem sei quem é metade desta gente, à hora dos Castanets na ZDB eu estava provavelmente vestido de palhaço e podia jurar que os Cansei de Ser Sexy roubaram "aquela" linha de baixo aos Spoon) e devo só adicionar que a Joana é gira. Obrigado.
Aqui vai:

Cinco razões para usar uma peça de flanela axadrezada em 2006



5. Mary-Kate Olsen Em 2006 a gémea da Ashley, que já é maior já desistiu da faculdade e já imitou o penteado do Nosso Senhor Jesus Cristo, fez-se passar por uma Chlöe Sevigny mais fofinha e lembrou ao mundo que foi o Marc Jacobs que deu o grunge ao mundo. No meio de passeatas por Nova Iorque com uma infindável colecção de copos do Starbucks, MK provou que a única coisa necessária para se rockar o look sem-abrigo e relembrar que o Gus Van Sant fez um dos melhores filmes de 2005 é vestir uma camisa de flanela axadrezada com botas compensadas. Nunca foi avistada de I-Pod mas eu quero acreditar que tudo se deve ao Rather Ripped dos Sonic Youth que ela ouve numa Bang & Olufsen ao chegar à sua casinha de lenhadora forrada a madeira e perfeita para uma festa Cobra Snake.

4. Raymond Raposa O senhor cantautor que dá pelo nome de Castanets veio à ZDB. Deu um concerto e até era noite de Carnaval. Fazia frio. Na rua havia serpentinas e confetti e gritos e máscaras pouco imaginativas e máscaras cómicas e máscaras completamente saídas do Party Monster. Dentro do Aquário da Galeria Zé dos Bois, os disfarces não vinham sob a forma de fatos de aluguer. E o Ray Raposa tinha um boné à camionista americano (não sei porque os europeus nunca usam chapéu) de xadrez. Estou em crer que era de flanela, mas não lhe toquei. Bastou ouvir "It’s alright / To want more than this" para as mãos aquecerem.

3. Cansei de Ser Sexy Os brasileiros (sim, há um mocinho com bigode lá pelo meio) mais fixes desde o elenco de Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa apareceram em 2005. Mas foi no corrente ano que espalharam todo o esplendor da sua parvoíce pelo mundo abençoado pelo YouTube. Alala alala e sai um videoclip em que as miúdas lutam e sangram dentro de prisões de lamé em jeito de vestidos. Isto não parece muito confortável, mas é giro. E talvez demasiado anos oitenta. E talvez do facto de o vídeo contar uma briga em rewind - do fim para um início em que não jorrava sangue - brote a ideia de que a flanela conforta mais do que penteados do WIP.

2./1. Karen O + Liars Há coisas que não se separam. O CD-R violeta onde a Karen O gravou dezasseis músicas acompanhadas de um poema do Oscar Wilde (límpido como todos os poemas do Oscar Wilde) para o seu Angus Andrew e que foi roubado por um fã da casa de um dos TV on the Radio não se pode separar da "The Other Side of Mt. Heart Attack" que os Liars souberam guardar para o fim do Drum's Not Dead. Porque o amor é como uma flanela boa - sobrevive a festas de kuduro progressivo em Lisboa e a ataques cardíacos em cima de um skate berlinense.

domingo, dezembro 17, 2006

Cinco razões para não odiar o will.i.am em 2006

Os Black Eyed Peas são uma banda detestável. Uma máquina de fazer péssimas coisas que não pára. A recuperação do Sérgio Mendes num modo incrivelmente mau é insultuosa. A Fergie é uma das pessoas mais odiáveis de todo o sempre, etc. Dizem que há coisas boas no início, mas não me apetece acreditar nisso. Há cinco anos ouvi um disco deles e pareceu-me francamente horrível. Passado o horror, o senhor will.i.am deu-nos em 2006 cinco razões para não o odiarmos. Aqui vão:

5. Busta Rhymes - I Love My Bitch (feat. Kelis) Haverá algo mais estúpido que o refrão desta canção? "- I love my nigga - Yup, yup, I love my bitch". Poesia. Isto é poesia. Mas quem é que espera do Busta Rhymes, nesta altura do campeonato, mais do que isso? Ninguém. Basta ir a The Shining, o último disco do J. Dilla, com uma introdução aborrecidíssima e completamente supérflua do homem. "Bitch, bitch, fuck this" ou algo parecido. Já me esqueci, na verdade. "I Love My Bitch" é o will.i.am em modo Neptunes, mas com um beat e melodias memoráveis. Bom.

4. John Legend - Slow Dance John Legend continua a aparar a sua barba. É um bocado irritante o facto de estar tão meticulosamente bem aparada. Mas John Legend teve Let's Get Lifted. E agora tem Once Again. Pode ser considerado chato, a voz dele encontrou trejeitos estranhos, quando ouvi pela primeira vez "Save Room" nem me pareceu ele. É uma coisa mais adulta, mais madura, mais ponderada, mas que funciona extremamente bem para ele porque ele tem imensas miúdas no vídeo. "Save Room" também é de will.i.am, e os sopros e os "parapapa" tornam aquilo memorável ao fim de umas cinco audições. É um caso estranho de uma canção que eu prefiro quando me lembro dela e não a oiço. Mas no disco há "Slow Dance", que é uma das melhores de Once Again, a par de "Heaven" de Kanye West.

3. The Game - Compton Toda a gente sabe porque é que eu odeio The Game. Ele até me dedicou uma canção. Mentira, não foi ele, foi o Just Blaze, o Nas e a Marsha das Floetry. "Why You Hate The Game" é um épico. A única parte má é o próprio The Game. "Compton" é sobre como Compton é o local de nascimento do gangsta rap. The Game é um tipo estúpido que passa a vida a pedir um regresso aos valores do gangsta rap dos N.W.A. Não sabe fazer uma canção sem mencionar Eazy-E e, quando sabe, menciona Dr. Dre. Está sempre a falar do "legado" dos N.W.A. e isso irrita-me. Mas "Compton" é uma óptima canção pop. E o will.i.am não está detestável na prestação vocal dele. Porque só fala e não tenta rimar. E isso é extremamente louvável. Aquele sample do "Gangsta Boogie" apanha-me todas as vezes que o oiço, em qualquer lado.

2. Justin Timberlake - Damn Girl "My Love" é a obra-prima de Timbaland para Timberlake, mas "Damn Girl" também é grande. E é de will.i.am. Os versos dele não soam assim tão mal, mas são bastante maus, sim. Podemos ignorá-los perfeitamente. Futuresex/Lovesound é grande e, mesmo sendo a maioria das faixas produzidas por Timbaland e seguindo um esquema de entrusamento bastante bem pensando, "Damn Girl" não destoa nada lá dentro. É incrível como um tipo com um corte de cabelo horrível, membro de uma boys band estupidamente má, consegue rapar o cabelo, roubar um chapéu e uns passos de dança ao Michael Jackson, treinar um falsete invejável e contratar uns produtores bons e ficar a maior estrela pop dos nossos tempos. E em versão boa. Não podemos negá-lo. E ele até tem pinta para quem veio de onde veio. Ou talvez não. Mas tem mais que will.i.am.

1. Nas - Hip-Hop is Dead Esta é uma colaboração entre duas das pessoas mais mal vestidas dentro do hip-hop mais respeitável. O refrão é brutal, os cânticos de "hip-hop" no fim são enormes e will.i.am sabe quando se conter e quando não se conter. Bastante bom para quem nos deu "My Humps". Há um vídeo de uma actuação de ambos no programa do Jimmy Kimmel. A presença do will.i.am continua a ser incrivelmente irritante, mas até nem funciona mal. "Hip-hop has died this morning and she's dead, she's dead" é algo que fica mesmo bem naquele refrão. Claro que o hip-hop não morreu. Mas Nas sabe isso, perfeitamente. Qual é o mal de ter um single explosivo para marcar o seu primeiro disco na Def Jam e a sua amizade com Jay-Z? Qual é o mal de ser produzido por will.i.am? Nenhum. É até muito bom. "Hip-hop is Dead" é a canção irmã de "Compton", num estilo que podemos dizer facilmente que é will.i.am, ao contrário de, por exemplo, "I Love My Bitch". Um dos singles do ano, vindo de um sítio improvável.

É isto. Só não me peçam para gostar da roupa, da cara, da pose e dos movimentos dele. Nem da banda dele.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Cinco razões para ter barba em 2006

2006, o ano do bigode. Até eu usei durante uns tempos. Mas a barba está longe de estar fora de moda. Aqui, e enquanto não aparecem as listas de melhores do ano (discos e singles), cinco razões que houve em 2006 para ter barba:

5. ?uestlove O baterista dos Roots tem uma barba pouco forte que condiz perfeitamente com o seu gigante afro (ou será um natural?) com pente dentro. É um grande homem, The Game Theory foi injustamente menosprezado e é com muita pena minha que não vou vê-lo ao Musicbox sábado. Dos hoodies aos pêlos faciais, estilo e barba intemporais.

4. O gajo dos Broken Social Scene que é uma versão barbuda do Andy Dick Para começar: eu sei que o nome dele é Brendan Canning. Mas não me lembrava. Lembro-me, sim, da sua barba belíssima durante Paredes de Coura. Sim, Broken Social Scene é de 2005, mas os Broken Social Scene ainda são uma das melhores bandas de indie-rock dos anos 2000. Respeito, pela barba e pela música.

3. Kyp Malone E o que é uma lista sem os TV On The Radio? Nada. Não só a barba, todo o guarda-roupa, as poses e o estilo. O natural no cabelo, a barba na face. A voz (claro, Tunde Adebimpe é o cantor da barba, mas o Kyp Malone também faz muito). A banda, a melhor banda rock do mundo. Afro-estilo para sempre. Grande, enorme, o maior.

2. Dan Bejar Blazers cinzentos e barba. É esta a receita especial do homem dos Destroyer. Houve novo disco de Destroyer, mesmo que ele não tenha passado por cá outra vez (2005, na ZDB, foi enorme) e houve Swan Lake. Beast Moans é grande, mesmo que não se goste da voz de Bejar (e isso é difícil, basta ele dizer "la la la" para eu o canonizar automaticamente, isso não acontece com muitos), há as de Carey Mercer (que esteve cá com os Frog Eyes como banda de suporte e abertura do Bejar) e a de Spencer Krug (dos Wolf Parade e dos Sunset Rubdown). Respeito pelo estilo Shakesperiano e a barba.

1. David Cross Estive indeciso entre dar o primeiro lugar a Dan Bejar ou a David Cross. Um comediante genial, brutal, da participação no Arrested Development ao vídeo de "Sugarcube" dos Yo La Tengo (uma das minhas canções favoritas de sempre). Aliás, até está ligado a Dan Bejar, já fez um vídeo dos New Pornographers, de uma faixa em que Bejar não aparece, nem no vídeo. A razão que me faz pô-lo aqui, a maior, é o facto de o ter visto nos programas do Conan O'Brien e do Jon Stewart com uma barba que impunha respeito. Ele é careca, eu não, mas não deixou de ser responsável por eu ter voltado a deixar crescer a barba. Também apareceu num vídeo de "Juicebox", o single medíocre dos Strokes, mas não deixa de ser o maior. E de ter a maior barba.

2006, o ano do bigode em barbas. Se houvesse lista de bigodes, estaria lá o Jason Lee e o tipo dos Killers (banda medíocre, bigode excelente). E é isto. Amanhã ou depois há mais, entre "Cinco razões para não odiar o will.i.am em 2006" ou "Cinco acontecimentos absolutamente indispensáveis de 2006" e qualquer coisa de que me lembre entretanto.

segunda-feira, novembro 27, 2006

CIMENTO.

No próximo sábado estarei a passar música com CIMENTO. no LEFT em Santos. Bring da motherfuckin' ruckus!, já diziam os outros:

CIMENTO. 'se pimpin' sessions: 02/12/06, LEFT, Santos

Estado da Nação

É dia 27 de Novembro. Há decorações de Natal para aí desde Agosto, mas não faz mal. É Natal, o Hell Hath No Fury dos Clipse é o disco de hip-hop do ano, o Get Lonely dos Mountain Goats é o disco mais bonito do ano, o Rather Ripped dos Sonic Youth e o Return To Cookie Mountain dos TV On The Radio são os discos rock do ano. A ZDB continua a encher com o Ben Chasny, fazedor de música bonita mas gajo chato sozinho ao vivo. Nunca cheguei a correr com o "45:33", o UM está online e os Rapture lançaram um disco aborrecidíssimo com o Danger Mouse. Comecei um programa de rádio com o Vasco M. na Química FM (Partido Amén - ou "Ámen", a Joana jura que é "Ámen", mas no dicionário online da Priberam estão listadas as duas -, sábados das 20 às 22h, 105.4 FM), que quase ninguém pode ouvir (e ainda bem). Não sei o que dizer mais.
Os Neptunes não se cansam de guardar o melhor para os Clipse. Tem o Bilal fora de um contexto soul e consciente (não me lembro de ouvi-lo fora de discos de gente como o Common, alguém se lembra?). O Kelefa Sanneh diz que o Chad Hugo não aparece por lá, mas os beats são tão fora de tudo o que é o normal, do que vende, de, basicamente, tudo, que só confirmam o Pharrell Williams como um génio. Mesmo depois do raio do disco dele, que tinha para aí uma ou duas canções (conservadoras, como "Angel" - "ding-dong!", que tem imensa pinta mas não adiciona nada a lado nenhum) e o resto uma idiotice. Não há disco mais consistente este ano no hip-hop, o único que chega aos calcanhares dele é Blue Collar, do Rhymefest. "Devil's Pie", com o sample de "Someday" dos Strokes (que, dessa forma, estão a adicionar algo à música moderna) e "Build Me Up", com a voz desafinada de Ol' Dirty Bastard (o Jeff Mangum do rap), e o resto é quase todo óptimo, com uma ou duas dispensáveis, mas que não destoam. Mas o Rhymefest tenta ser algo que não é, diz-se tremendamente respeitador e ponderado mas depois é, basicamente, um idiota, na música dele, claro.
O Ty vem cá, o dubstep chegou mas anda chato. Digital Mystikz foi giro, durante meia-hora ou uma hora, o resto aborreceu. O MC não adicionava nada, estava a sentir-se demasiado bem para um género que, supostamente, ilustra de forma bonita a decadência urbana de uma cidade grande como Londres. E, por falar nisso, Children of Men e V for Vendetta são os filmes de ficção científica do ano (ou uma coisa assim, será que contam como isso?), ambos passados em Londres daqui a um porradão de anos e eu que nem gosto dessas coisas. Talvez seja da Julianne Moore e da Natalie Portman.
Há dois parágrafos que me fartei de links (dá um trabalho do caraças), fui a Barcelona ver o Sufjan Stevens, ele trouxe asas de águia e lembrei-me que o adorava (não tenhas medo, Rosie Thomas, é platónico). O Ys da Joanna Newsom é intenso e bonito e é o tipo de coisa que eu gostaria de ter em vinil. Talvez seja barato, é da Drag City. Comprei o Yellow House dos Grizzly Bear e outra Joana contou-me que eles eram uma banda gay e viu-os em Paris e não consigo, por muito que tente, odiá-la por isso. Também viu os TV On The Radio e era a única pessoa do mundo que poderia vê-los e eu não ficar chateado com ela (já tinha ficado chateado com um amigo e com o meu primo). Mas o Tunde Adebimpe estava bêbedo ou assim e parece que foi mau. Os Grizzly Bear não. Isso rendeu-me a a melhor prenda de sempre (obrigado, obrigado, obrigado, espero que ela já saiba o que quero dizer), como é que se pode odiar alguém nestas condições? Não há respeito.
O Kingdom Come chegou e confirma o génio do Just Blaze. O Dr. Dre irrita uma vez, os Neptunes destoam tremendamente, o Chris Martin surpreende (não que tenha algo contra ele, estes casamentos raramente resultam - como será o John Darnielle com o Aesop Rock, já que isso é capaz de acontecer?) numa das faixas mais bonitas do ano. É um bocado por aí. Mas não é o disco do ano, não é, de todo, consistente, mas quando raio é que o Jigga foi consistente? Nem no Reasonable Doubt, nem no Blueprint, nem no Black Album. É isso que a crítica tem esquecido, do Kelefa Sanneh ao Tom Breihan.
E é basicamente isto. Foi o que me saiu nesta altura. O Doctor's Advocate (acho que me enganei e escrevi "Devil" da outra vez) é a maior insistência de sempre numa insignificância. E a perpetuação da notoriedade de uma pessoa extremamente idiota. Trazer o gangsta rap de volta é parvo, pois, infelizmente, ele nunca morreu. Legado dos NWA? "Nigga nigga fuck fuck bitch bitch dope dope", é este o legado deles. O próprio Dre dizia-o. E precisamos disso? Claro que não. Mas há música boa por baixo daquilo tudo, mesmo que queiramos dar um tiro na cabeça do tipo.
Em compensação, dei por mim em Barcelona a ver Arrested Development. O sorriso estampado na cara do Speech, politicamente correcto, música conservadora (banda de versões funk/soul com dois rappers anónimos e genéricos - o "relaxado" e o "agressivo" ou "como levar uma fixação por Sly Stone longe de mais") fez-me ter vontade de abraçar o 50 Cent ou assim. Hipocrisia, sou um hipócrita. A parte boa foi que havia um velho genial no meio do palco que não fazia absolutamente nada senão ser velho e mexer-se um bocado.

terça-feira, outubro 31, 2006

Justin Blaze, pessoa mais importante de sempre

Quando toca ao tópico "The Game", a minha mão direita tem escrito "Love" e a minha mão esquerda "Hate". Mas há algo em que ambas concordam: ambas querem esmurrá-lo. The Game é um idiota. É pouco inteligente, é misógino, adora o estilo de vida gangsta, glorifica a violência enquanto dedica canções a gente que morreu em tiroteios, é, basicamente o pão-nosso-de-cada-dia da ignorânica de muitos rappers americanos. Mas a voz e o flow dele são coisas magníficas que muitos produtores adoram embelezar. E aposto que andam à luta para fazê-lo. "Hate or Love It", "Dreams" e "Church for Thugs" fizeram-me, basicamente, comprar The Documentary (e já escrevi algures que sem remorsos, visto ter sido em segunda mão).
Just Blaze ("Justin Blaze", como o Jigga lhe chama agora) está em fogo. Mesmo. Depois de "Show Me What You Got" (onde Jay-Z lhe chama isso, vi hoje o vídeo, depois dos Wu-Tang Clan no VH1 Hip-Hop Honors que passou na MTV Base, e é carros e carros e carros - a sério, parece um vídeo de Jamiroquai - e James Bond) e "Kingdom Come", ambos de El Presidente, agora aparece-nos "Why You Hate The Game", com direito a coro gospel e nove minutos de puro deleite. The Game com Nas e a Marsha das Floetry num, para citar alguém, "clássico instantâneo". Tem a particularidade de ter o Blaze a falar (e não a rimar, numa entrevista no Village Voice ele dizia que rimava melhor que milhares de rappers - o braggadocio normal - e que, se quisesse, envergonhava toda a gente, mas não queria, até tem uma voz boa, só falta ver o flow dele). Claro que The Game ainda não se esqueceu de aproveitar todas as oportunidades para falar de gente morta, especialmente de Eazy-E (ainda não ouvi nenhum tema do novo Devil's Advocate que não dissesse "Eazy" ou referisse, de alguma forma, o tipo - e se ele continuar em tronco nu mostrará sempre a tatuagem de NWA que tem) e de Compton. Mas isso não é assim tão mau porque ninguém (espero eu) gosta dele pelo que ele tem para dizer. É que ele não tem nada para dizer.
Na capa da Urb de um mês destes estava o David Andrew Sitek (dos TV on The Radio), o Tadd Mullinix (Dabrye) e o Just Blaze. Todos lado a lado vestindo fatos impecáveis. São os produtores, segundo a revista, mais importantes da actualidade. Concordo com a parte do Sitek e do Blaze, e o Mullinix também é grande. Pode não ser o único a dar piada ao The Game, mas é um dos que o faz melhor (o Kanye West também é grande a fazê-lo, e descobri hoje que o disco do ano para ele é o The Eraser do Thom Yorke, mas mesmo antes ele já tinha estragado tudo dizendo que gostava muito de Keane). E não pára. Estou a prever mais cinco ou seis grandes malhas do Blaze até ao final do ano. Como diz o Jigga, "you got two months to put your shit together", Blaze, e eu sei que consegues fazê-lo num só dia.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Para continuar os dois últimos posts

Tenho andado sem grande atenção ao mundo em geral (nas últimas 3 semanas acumulei mais jornais, revistas e suplementos de jornais que nunca, sem sequer chegar a lê-los realmente, o que é mau porque perdi o texto do Mário Lopes sobre Grizzly Bear - só o apanhei agora - no Y de não-sei-quando e o texto do João Bonifácio sobre Ty no mesmo - não percebo porque é que é assim tão estranho haver um MC que não objectifica as mulheres e não fala de violência, há milhares assim e é altura de isso deixar de ser assim tão especial, mas nunca deixará de ser louvável, não significa, obviamente, automaticamente boa música, tenho quase a certeza de que o Mike Shiinoda não é dessa onda e, apesar disso, é a maior nulidade musical de todo o sempre), por isso perdi o aparecimento de "Lost Ones". É a terceira faixa que aparece por aí de Kingdom Come, e é basicamente uma grande desilusão. É "Feelin' It", tema do Reasonable Doubt, dez anos depois sem nada de especial. Não vale, pura e simplesmente, a pena.
Quanto a LCD Soundsystem, tenho ouvido o tal set no autocarro e fico sempre com vontade de sair duas ou três paragens antes para vir a correr para casa, mas entretanto adormeço sempre e não consigo fazê-lo. Quando entram os sopros não há nada melhor. Tenho mesmo de começar a correr. O Tom Breihan não gosta de nenhuma das faixas que apareceram por aí do Jay-Z. Mas gosta dos Killers. Basicamente - e até posso de vez em quando admitir que os Killers tinham um ou dois singles memoráveis (irritantes mas memoráveis) no primeiro disco -, não consigo lembrar-me das mil audições que fiz do "When You Were Young" ou lá como se chama. Só me lembro que o tipo agora tem um bigode (e isso é, basicamente, sempre louvável).
Apareceu por aí uma nova produção dos Neptunes para a Gwen Stefani e...ela canta yodel, não há propriamente paciência para isso, por isso é para descartar. Fui ao aniversário da ZDB ontem, com Blectum from Blechdom, e acho sempre louvável fazer-se electrónica de brincar com as gémeas Olsen a passar por trás. E a cantar. Gosto do facto de elas terem nascido no meu ano. Acho que estou a começar a gostar de dubstep (fui para os estúdios da Valentim de Carvalho a ouvir Burial - estava a chover e andei de transportes públicos, é difícil ser mais urbano decadente que isso - e a capa do UM fez-me pegar em Kode 9 and The Space Ape e parece-me tudo muito bem) e a querer fortemente que chegue o dia 18 para ver Digital Mystikz com Buraka Som Sistema algures em Lisboa, organizado pela ZDB. É algo que chega cá à hora certa, que apanha algo de cá mais ou menos também à hora certa, e todos ficamos a ganhar se for num barracão como aquele em que foram os Animal Collective em Cacilhas e se aparecer gente como aquela que aparece nas fotografias de festas do Cobra Snake. Falhei Bonde do Role no Mercado por falta de paciência para baile-funk, espero não falhar isso.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Pois

Entretanto saiu o primeiro número a sério do UM, com uma gralha minha ("saxofone alto" em vez de "saxofone tenor", num texto sobre o Barreiro Rocks), com outros textos meus (entrevista a Nigga Poison e texto sobre o concerto de Final Fantasy no Club Lua). Entretanto ontem fui à televisão, e hoje estarei no Lounge na festa do Bodyspace a passar música. Entretanto, supostamente, o James Murphy "vendeu-se" à Nike e isso não me faz confusão nenhuma ("45:33" é enorme, acho que vou começar a correr).

domingo, outubro 15, 2006

Kingdom Come

É estranho. "Foda-se" foi a única palavra que me passou pela cabeça anteontem. Disse-a várias vezes depois de ver os Comets on Fire, a várias pessoas. Não conseguia dizer algo diferente. Depois não consegui escrever algo diferente. Os Comets on Fire são demasiado bons ao vivo para escrever sobre eles. É uma experiência intensa que merece ser vivida e não lida. Deixo isso para outras pessoas que o farão talvez melhor que eu. Antes do concerto, T.I., Cassie, Ruff Sqwad e Talib Kweli. Gosto disso, é como o Timbaland gostar de Black Dice, dois mundos completamente diferentes que se encontram algures. E, felizmente, não foi a primeira vez que ouvi "Get By" (Kanye West a samplar Nina Simone, com o Kweli em grande forma, ou melhor, na melhor forma possível, já que ele, tecnicamente, nunca poderá ser muito grande) ali.
Mas isto é só uma desculpa para falar de algo bem mais actual. Algo que ainda não aconteceu de facto. Já toda a gente escreveu sobre isto antes de mim. Mas só ontem é que arranjei forma de ouvir bem "Kingdom Come", o tema-título de Kingdom Come, o disco de regresso do Jay-Z. Ele é o Michael Jordan do rap, saiu da reforma para voltar e salvar o mundo. E trouxe, de repente, milhares de referências a banda-desenhada. É sobre isso que versa "Kingdome Come". Antes disso, há o primeiro single, "Show Me What You Got". Ambos os temas são produções enormes de Just Blaze, do qual ninguém, hoje em dia, espera menos que o melhor (há muitas e muitas razões para isso).
Jay-Z é o Batman, mas em vez daquela luz no céu da cidade de Gotham, basta juntar as mãos e fazer o sinal da Roc-A-Fella no ar, e ele aparece. Um super-herói à antiga, que regressou da reforma para salvar o mundo. "I'm hip-hop's savior", diz ele. Será? Numa altura em que o Nas está para lançar um disco que diz, no próprio título, que o hip-hop morreu, será que o Jay-Z é o super-herói que vai salvar não só Nova Iorque, como o mundo todo? Será que serão os dois? Os dois ex-rivais juntos para combater o mal? Se forem, será que terão o bom gosto de não usar capas? Espero que sim. Mas nada disso interessa, no final de contas, porque o que interessa é a música. Os sample de saxofone de "Show Me What You Got" é muito bom, mesmo que, se fechar bem os olhos, me lembre de Sade ou de um single do George Michael. Depois de "Pressure", do Lupe Fiasco, o Jay-Z continua em grande e nada mau poderá vir de Kingdom Come. "The ruler's back", e ainda bem.

terça-feira, outubro 10, 2006

Duas ou três ou mais ideias parvas

- O Barreiro é um sítio simpático e acolhedor. Já o tinha sido durante o OutFest do ano passado, apesar de ter estado lá basicamente meia-hora, mas provou sê-lo mais uma vez durante o Barreiro Rocks (e ainda bem que perdi o último barco no sábado);
- O M. Night Shyamalan continua a ser um parolo - basta olhar para a forma como se veste e como se mostra em frente da câmara no Lady in the Water, que raio de realizador respeitável é que faz isso? - e um realizador com um talento moderado que estraga tudo por ser parvo (Unbreakable é, talvez, um dos piores filmes de todo o sempre);
- Black Dahlia é naquela;
- Duas ou três ou mais ideias parvas para um 2007 melhor:
    - Os TV On The Radio virem cá;
    - O Timbaland parar de aparecer todos os dias na minha televisão de wife-beater (e, noutro campeonato, o Nuno Markl nos cinemas a que vou). A sério. Porque é que eu preciso disso? Parece que passou os últimos anos a fazer musculação e a comprar sintetizadores (deu-nos "My Love", do Justin Timberlake com o T.I., uma das malhas do ano, e aqueles singles da Nelly Furtado, mas, sinceramente, já chega de anos 80 bem transpostos para os anos 2000);
    - O Francisco Silva de Old Jerusalem - nem que seja ao vivo, onde falta sempre qualquer coisa à música dele, não sei bem dizer o quê, mas confirmei-o no outro dia - fazer uma versão de "Thirteen" dos Big Star, mesmo que a voz dele não seja a mais adequada para isso, para suplantar a versão do Elliott Smith;
    - Apagar da nossa memória colectiva todas as referências aos Fall Out Boy e quejandos, nos quais se incluem os protegidos deles como os Panic! At the Disco ou os Gym Class Heroes (no final do Snakes on a Plane, o melhor filme de todo o sempre, aparecem estes e estragam tudo, é indescritível, mesmo antes do "Ophidiophobia" do Cee-Lo, a melhor canção de sempre), não são necessários para nada e só poluem o mundo;
    - Aprender a arranjar mais tempo para escrever e ler o que quero sem ter problemas.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Divagações livres e sem sentido sobre Neutral Milk Hotel e Mountain Goats

Não tenho um diário. Tinha um caderno parvo no outro dia e tinha bebido e apeteceu-me escrever o que me veio à cabeça numa noite em que não me apetecia propriamente dormir e estava a ouvir, como sempre, o In The Aeroplane Over The Sea. Uma parvoíce. Nem me lembro bem do que estava lá escrito, e como já não escrevia cá há algum tempo, decidi publicar estas divagações sobre duas paixões.





terça-feira, agosto 29, 2006

In one more hour I will be gone

Acabaram. Já há algum tempo. Já sabia antes de se saber, disseram-me. Esperava que não fosse verdade. Mas era. Já houve artigos e artigos e artigos sobre isso. Este não é mais um. É só triste. Cheguei às Sleater-Kinney definitivamente apenas o ano passado, com The Woods. Muitos fãs não gostam. Eu adoro. Tinha ouvido antes outros discos delas, mas tudo o que vinha para trás parecia-me demasiado igual. Sei lá. Já foi há alguns anos.
Algures no princípio do ano, com o catálogo da Matador em promoção na FNAC, telefonei a uma amiga para perguntar qual era o melhor álbum delas. Ela disse-me Dig Me Out, e eu comprei. E é um disco óptimo, e tem uma (aliás, muitas) canção enorme: "One More hour". Acontece que foi com esta canção que elas se despediram para sempre. Ontem, ou anteontem, li um artigo na Pitchfork que me fez adormecer ao som do disco, e lembrar-me de quão boa era essa canção. As guitarras entrecruzadas, a voz sempre estridente, ou as duas vozes juntas, são coisas belíssimas e poderosas e fortes e feias e bonitas e pujantes e enormes, tudo ao mesmo tempo.
E hoje encontrei o vídeo do final do último concerto delas no YouTube. O abraço no final é das coisas mais comoventes de sempre e todo o vídeo é belíssimo. Três mulheres a fazerem aquilo que gostam mais de fazer na vida, com uma entrega e uma comoção visível. É algo bonito. E a canção também. Porque é que se deixaram disto? Talvez achem que é melhor sair antes de fazerem algo embaraçoso, para não estragar o legado que está para trás. Se calhar acharam que tinham chegado onde queriam chegar, com uma obra-prima, The Woods. E esta foi a melhor maneira de dizer adeus:


sexta-feira, agosto 25, 2006

Lost without you, half dead

Estou agradecido, do fundo do coração, à namorada do John Darnielle que o deixou. Aliás, a todas as que o deixaram, a todas as que não chegaram sequer a estar com ela, a todas. Porque foram elas que fizeram Get Lonely, que é provavelmente das coisas mais bonitas que ouvirei este ano. Nunca fui grande fã dos Mountain Goats até The Sunset Tree, e se esse era um disco sobre o padastro abusivo daquele que é o protótipo do indie rocker dos anos 2000 - lido, ecléctico (adora hip-hop e metal), carismático e cheio de piada, com um sentido de humor brutal -, este é um disco sobre o final de uma relação.
Fui ver, há pouco menos de um mês, The Break Up, o filme que tenta fingir que há uma química desvanecente entre Jennifer Aniston e Vince Vaughn. Não há. E também não há piadas. Há uma comédia proto-séria que tenta lidar com o tema, mas nunca chega bem lá. Get Lonely é tudo aquilo que The Break Up não é. Não sei porquê, mas a crítica tem recebido Get Lonely como um disco mais negro e deprimente que The Sunset Tree. Parece-me, contudo, que é bem mais fácil a pessoa comum perceber o que ele canta em Get Lonely do que em The Sunset Tree. E “canta” é a palavra-chave aqui, porque Darnielle parece estar bem mais preocupado em escrever canções propriamente ditas, com óptimas melodias e óptimos arranjos - envolvem piano, violencelo, guitarra, baixo e bateria (e um metalofone em "Half Dead" e sopros lá para o final do disco), tudo belíssimo - do que no seu modo verborreico de contar histórias em que parece não conseguir parar de falar. E canta-as com uma voz suave e sussurada, num falsete frágil estranho mas também bonito. E funciona.
John Darnielle canta sobre acordar sozinho e arrumar a casa e fazer todas as tarefas do dia-a-dia sem alguém a seu lado. Escolhe as palavras como ninguém e tem a música perfeita para as acompanhar. Aliás, mais do que acompanhar, já que as palavras e a música são indissociáveis. E é impossível não gostar de John Darnielle, um tipo com piada que faz música triste, ou um tipo triste que faz música com piada. É os dois ao mesmo tempo, depende do disco. Neste está triste, mas sabemos sempre que ele tem um sentido de humor incomparável. Acho que todos devíamos estar eternamente gratos às mulheres da vida de Darnielle que lhe fizeram mal e, como exemplificado no vídeo que se segue, eternamente chateados com o barbeiro dele.


segunda-feira, agosto 21, 2006

Oh Morrissey, so much to answer for...

Já passou quase uma semana. Já houve tempo para pensar e, especialmente, pela primeira vez, reouvir o concerto. Viva a Antena 3 e os piratas que ficam em casa e se dedicam a pôr aquilo na internet. É bom andar pela rua a ouvir o concerto de um dos nossos heróis pessoais que vimos dias antes e pensar "eu estive lá." Até porque é verdade. Eu estive lá, a escassos metros do palco, a ver aquela figura que tanto fascínio exerce sobre mim há anos e anos.
E ver essa figura ir-se embora, do nada, a meio de "Panic", foi um duro golpe no estômago. Foi-o para toda a gente que fosse fã dele. É impossível não ficar impressionado e decepcionado e triste com aquilo. Mas ele faz o que quer. Nós, que o conhecemos melhor que ninguém, sabemos melhor que ninguém que ele não é nem nunca foi boa pessoa. Aliás, deve ser um dos seres humanos mais detestáveis do mundo inteiro. Talvez por achar que a raça humana é, no seu todo, detestável e não ter esperança nas pessoas. Nós, os fãs, não somos assim. E eu odeio fãs de bandas, fãs de artistas, mas desculpo isto. Bem, não desculpo Is It Really So Strange?, o documentário assustador que vi no IndieLisboa sobre os fãs dos Smiths e do Morrissey. Não, não são fãs como nós. São pessoas doentias, que mais do que saberem todas as letras do maior poeta pop de sempre, sabem onde ele mora, fazem tatuagens de autógrafos dele, guardam como melhores dias das suas vidas os dias em que o viram, em que ele lhes tocou. E ele não sabe sequer quem eles são. Não quer saber deles. Alimenta-se deles. Mas aqui é que está a estranheza: ele dá-lhes muito mais do que quer dar. Ele, não querendo saber deles, ajuda-os. E da melhor forma, através da música. Pediu-nos, aos fãs, uma vez: "But don't forget the songs / That made you cry / And the songs that saved your life." E todos nos lembrámos. E foram as dele que fizeram isso.
É estranho, quando nos entregamos totalmente a um concerto e esperamos que ele cante isto ou aquilo. Ele fá-lo todas as noites, ou frequentemente. Escolhe o que quiser, e é interessante como, através do seu livre-arbítrio, ele consegue condicionar-nos. Podia estar antes do concerto a comer uma sandes de tofu a pensar "hoje não toco nada do The Queen is Dead porque não me apetece." E não tocou. Para quem esperava que isso acontecesse, foi triste. Mas há coisas bem piores. Vimos todos o nosso herói, nós, os fãs, algumas das pessoas mais irritantes do mundo. E ele faz de nós o que quiser. O que quiser. E o pior é que nós gostamos disso.

sábado, agosto 12, 2006

UM

Chegou às FNACs na quinta-feira a edição 0,5 do UM, um novo jornal de música, basicamente, mas que quer também fazer-se de outras coisas. Sou colaborador do mesmo, e esta edição, que também estará disponível em Paredes de Coura ("ao pontapé", dizem os responsáveis), tem um texto meu sobre o Return to Cookie Mountain dos TV On The Radio, disco que eu nunca escondi ser um dos meus favoritos do ano. Mais informações no blog do patrão, no blog do colega e no blog do futuro colega.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Let's not kid ourselves

É estranho, mas compreensível nesta era, ter um disco há 7 meses ainda dentro do plástico. Comprei, durante os saldos da AnAnAnA, quando me sobraram 12,5 €, o último disco dos Silver Jews. Obviamente, tinha-o em mp3, mas, como não tenho um gira-discos em casa, não o abri até hoje. De férias, tenho gira-discos, mas um que anda um pouco depressa de mais. Mesmo assim, deu para me lembrar o quanto gosto do disco.
Não conheço outros discos dos Silver Jews, e sei que o Dave Berman deve ser uma pessoa horrível. O que me chamou a atenção para ele foram, como costuma ser muitas vezes, os textos do João Bonifácio sobre o disco. Ele conhece-o e tudo e não me lembro de alguma vez ter falado com ele sobre isso, mas o Dave Berman deve ser uma pessoa mesmo difícil. Lembro-me também que, antes de ler o Last Plane to Jakarta, o melhor blog de sempre, o que me chamou a atenção para o génio do John Darnielle e dos Mountain Goats foram os textos do Bonifácio, que é basicamente uma coisa que me tem acompanhado neste verão ("Get Lonely" é das canções do ano e o recém-descoberto falsete do Darnielle é uma coisa deliciosa, quase tão deliciosa quanto os textos dele e as entrevistas - uma ao Tom Breihan em que ele falava de banda-desenhada, de metal e do Scarface era genial, é interessante ver como ele é o protótipo do indie-rocker em 2006 e é um fã confesso de hip-hop e metal, o que só mostra como o mundo mudou). É estranho, o Dave Berman é um poeta, acima de tudo, mas escreve óptimas canções com melodias e guitarras perfeitas que ficam na cabeça. Não me lembro, sinceramente, de gostar assim tanto do disco, tirando as frases ocasionais, como "If it ever gets really really bad / let's not kid ourselves: it gets really really bad" ou "Fast cars, fine ass / these things will pass."
O tipo tem uma barba e bebe muito álcool e outras drogas e deve ser uma pessoa deprimente e difícil de aturar. Mas faz música tão bonita. É difícil ficar chateado com ele quando diz que o Adão e Eva eram judeus. Mas nem tudo é bom. Os bootlegs que apareceram aí dos Silver Jews ao vivo - primeiros concertos de sempre - são sofríveis. Mas ele há-de chegar lá. E, com esperança, cá.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Arthur Lee

Aconteceu-me a mesma coisa quando o John Peel morreu. No dia em que se descobriu que tinha morrido, estava a explicar ao meu irmão quem ele era. "Não sabes quem é o John Peel?" E, pouco depois, ele tinha morrido. Hoje, não faço ideia porquê, quando acordei quis ouvir o Forever Changes dos Love. Alguma vez o teria ouvido pela primeira vez se não tivesse lido que era um grande disco? Não me parece, não é propriamente de um género que me atraia muito, mas graças a listas e listas dos melhores discos de sempre, conheci-o.
E hoje ouvi o Forever Changes. E pensava na personalidade maior-do-que-a-vida de Arthur Lee, da entrevista que ele deu ao Blitz há dois anos ou três anos, em que provava estar completamente louco. Mas não interessa. Há umas semanas, invejava o Robert Christgau, por ter feito 60 anos e ter passado o mês de Junho a ver concertos. Um deles era um tributo aos Love com imensa gente interessante, incluíndo os Yo La Tengo. Lembro-me de pensar que gostava de ser assim quando fosse grande. Mas o Christgau vive em Nova Iorque, esteve lá em quase todas as maiores revoluções musicais daquela cidade dos últimos 30-40 anos, aposto que tratava os seguranças do CBGB pelo nome próprio, etc. Era um artigo bestial, e tinha há pouco tempo comprado a reedição de 2001 do Forever Changes por um preço estupidamente barato. E hoje ouvi o disco.
Não posso dizer que conheça mais discos dele, mas não me lembro de não gostar daquele disco. Agora descobri que ele morreu, no dia em que me apeteceu, não sei por que raio, tirar o disco da caixa e ouvi-lo. É um dia triste.

domingo, julho 30, 2006

TV On The Radio

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi (com atenção) "Wolf Like Me", do último álbum dos TV On The Radio. Tinha gostado, na altura do Desperate Youth, Blood Thirsty Babes, moderadamente do disco e do Young Liars que veio antes. Com o tempo, veio a crescer. Antes era só "Ambulance", que cedo se tornou umas das minhas canções favoritas de sempre. Nessa noite, estava eu no Incógnito, nem sei bem porquê (tinha ido ao Lounge ver um amigo meu tocar e só tinha chegado no fim e não queria desperdiçar uma viagem de táxi só para ver o final de um amigo meu a tocar), e a DJ passou (disse que era para mim), o tema. Não pensei muito nisso, pareceu-me só mais ou menos, só depois é que veio a revelar-se como uma malha enorme, que mete a um canto quaisquer revivalistas do rock. Como basicamente todas as canções dos TV On The Radio, é uma canção simples, com algumas partes diferentes, mas com uma produção que dá a volta a isso tudo (e a parte final de "We're howlin' forever ooh-ooh", com a tipa dos Celebration, é deliciosa). Ainda não tinha ouvido o Return to Cookie Mountain que, pouco mais de um mês depois, já se tinha tornado num dos meus discos favoritos do ano. Mas ainda não cheguei aí.
Essa foi uma boa noite. Apresentaram-me alguém importante nessa noite (na verdade, reaparesentaram-ma, já a tinha conhecido antes). Foi bom. E hei sempre de associar os TV On The Radio a isso, não só por essa pessoa também ser fã e partilhar comigo o fascínio por "A Method", que se tornou, rapidamente, uma das minhas canções favoritas de sempre. O meu pai está sempre a chatear-me porque, para ele, os Wilco do A Ghost is Born são os Beatles e os TV On The Radio dessa canção, quase só a cappella e percussão (uma progressão de "Ambulance", do disco anterior, outra das minhas canções favoritas, uma das melhores canções de todo o sempre), com um assobio delicioso são os Beach Boys. O meu pai é assim. Para ele, os Pavement são "genéricos". Gosto muito dele, mas pronto. E depois tento provar que não, que os TV On The Radio não são os Beach Boys, mas logo que começa a música ele diz "preciso de dizer alguma coisa?" e assim. São coisas da vida.
Os TV On The Radio são enormes porque soam enormes, épicos, deviam ser muito maiores do que realmente são. Mas soam como se fossem, e, no final de contas, deve ser isso que mais interessa. É música urbana e sofisticada, mas sempre com uma produção que remete para a decadência da sociedade industrial, para o encontrar beleza dentro de um cenário pós-apocalíptico, de encontrar magia num mundo de betão e assim. Claro, David Andrew Sitek é um produtor talentoso e perfeccionista, mas há sempre ali qualquer coisa de selvagem e completamente fodida (tradução do inglês "fucked-up", que não quer dizer a mesma coisa). Os TV On The Radio são a melhor banda de pós-punk da actualidade, por muitas razões, sendo a maior delas não quererem soar ao que soavam as bandas de pós-punk canónicas. E isso é muito mais do que posso dizer de muitas outras bandas de hoje em dia. Têm um dos meus discos do ano, duas das minhas canções de sempre, e uma pessoa de quem gosto muito. E isso chega-me. E, mesmo que passe a vida a implicar com aquilo, valeu a pena ir ao Incógnito naquela noite.

domingo, julho 23, 2006

De alguma forma, sem fazer sentido

De alguma forma voltava ontem do Lisboa Soundz e, numa avenida 24 de Julho cheia de carros, ouvia o Yankee Hotel Foxtrot dos Wilco. Não sei quando é que se tornou o meu disco favorito de sempre, mas tornou-se. De alguma forma andava por aquela avenida absolutamente impossível, cheia até mais não, e procurava um táxi. E o Jeff Tweedy cantava. Como cantou dezenas e dezenas de vezes. Acho que, desde 2002, quando um 10/10 da Pitchfork me fez dar atenção ao disco, nunca o abandonei, apesar de julgar só o ter compreendido realmente a partir de 2004. Lembro-me, por exemplo, de ouvi-lo em jantares de amigos onde não tinha propriamente nada para dizer, como as canções soam tão melhores assim, à espera de boleia para voltar para casa. Ou num campo de futebol manhoso no inverno (quando anoitece às 6 da tarde ou pouco antes) numa terreola do Oeste que me é querida.
Nunca fui a Chicago, mas, sei lá, se calhar o disco tem alguma coisa a ver com isso. Ou pode mesmo não ter, sei que imagino sempre uma cidade grande quando ouço isto ou duas das minhas canções favoritas do Summerteeth: "How to Fight Loneliness" e "Via Chicago". Não tenho carta de condução, nem sequer sei conduzir, mas de alguma forma imagino alguém a guiar pelo estado do Illinois com aquilo. E, de alguma forma, aquilo faz tanto sentido aqui em Portugal, em Lisboa.
Acho, de alguma forma, o 'Sno Angel Like You do Howe Gelb é dos meus discos do ano. Comprei-o há uns meses, sem ter ouvido antes, e adoro-o. Nunca fui fã de Giant Sand e acho que a culpa do meu amor pelo disco é do coro gospel que o Gelb desencantou em Ottawa. De alguma forma conseguiram pôr o Howe Gelb a abrir praticamente o Lisboa Soundz, e trazer com ele o coro gospel. The Voices of Praise Gospel Choir. Ali, à tarde, com o sol a bater, fez, de alguma forma, tanto sentido. Ele trazia uma camisa preta e um chapéu e deve ser o homem com mais pinta de sempre. Quando for grande gostava de ser assim.
A voz dele é sempre igual, monótona, mas de alguma forma funciona tão bem ao lado do coro gospel. Isso e a sua guitarra dá uma cor especial a tudo, bem como a dos músicos convidados (todos de Ottawa, acho eu). É um tipo carismático, as canções são enormes, e ele sabe como interpretá-las e mostrar o que elas valem. Diz piadas, comunica, etc.
Lembro-me, de alguma forma, de ter gostado de Amorino em 2003. Mas lembro-me que o disco da Isobel Campbell deste ano é uma chatice pegada. Também o foi o concerto dela. De alguma forma, diziam-me - pessoas cuja opinião eu prezo muito, mesmo - que os Los Hermanos são bons. Juntam mpb e indie rock e fazem-no às vezes bem, outras menos bem. Gosto bastante ao vivo, é simpático e tal, mas não me parece que vá pegar muitas vezes neles ou que tenham muita coisa memorável. Contudo, respeito muito essas pessoas e vou tentar mais vezes. Pareceu-me bem, sinceramente.
E continuar com o "de alguma forma" torna-se tão cansativo para mim quanto para quem me ler, por isso não vou fazê-lo. Até é uma coisa bem chata, acho eu, como é a auto-consciência disso e o discutir um texto dentro do próprio texto. Mas é como sai e não há nada a fazer. Não vou dedicar muito tempo aos She Wants Revenge e os Dirty Pretty Things, porque isto costuma ser sobre as coisas de que gosto e não sobre as coisas que odeio intensamente (os DPT são sem o "Intensamente", os SWR são, basicamente, um novo ódio de estimação).
Algures entre os Dirty Pretty Things e os Strokes encontrei um alcoolizado Howe Gelb a passear pelo recinto. Achei por bem dizer-lhe que tinha adorado o concerto e o disco e que o coro funcionava mesmo bem. "Oh yeah, they're amazing", dizia-me ele, parecendo estar tão impressionado com o coro quanto eu.
E então ia eu pela rua à procura de um táxi ao som do meu disco favorito de sempre e a pensar basicamente no que se segue. Há uns 4/5 anos, quando descobri Is This It?, não conhecia nenhuma das pessoas com quem partilhei, de uma forma ou de outra, o dia de ontem. E algumas dessas pessoas são das minhas pessoas favoritas de todo o sempre, gente que espero conhecer e continuar a estimar ao longo da minha vida toda. De alguma forma sei que nunca me fartarei dessas pessoas, como sei que nunca me fartarei do Yankee Hotel Foxtrot. E, enquanto os Strokes tocavam da mesma forma que tocam praticamente todas as noites - suponho eu - aquelas canções, tinha pensado exactamente no mesmo. Claro que as canções do segundo e do terceiro disco não são tão boas, apenas duas, três ou quatro é que chegam aos calcanhares delas, ao vivo. Mas os Strokes conseguem soar como se fossem a maior banda do mundo, durante uma hora e tal, uma hora e meia, será? Não sei. Sei que foram a banda que, de alguma forma, me fez gostar primeiro da Christina Aguilera (os mash-ups geniais, cujo nome, "A Stroke of Genius", diz tudo) e que me deram imenso. São enormes, mesmo que se armem demasiado em guitar heros que não são no último disco, ainda valem a pena.
E pensava nisto à procura de um táxi e depois quando apanhei o táxi e tive de falar com o taxista (os taxistas tanto podem ser as melhores como as piores pessoas do mundo, ontem tive sorte) sobre os perigos da estrada e as pessoas que bebiam e não bebiam e todas essas coisas. Tirei um dos headphones e, de um lado ouvia "Radio Cure", e, do outro, "Crazy Little Thing Called Love" dos Queen no rádio do carro. E, lá no meio, a voz do taxista. E, de alguma forma, fazia sentido.

sábado, julho 15, 2006

Just keep on struttin'

Para o Rui.

No outro dia fui ao lançamento do disco de Double D Force à Flur. Tarde bem passada, com D-Mars nos pratos (lembro-me, por exemplo, do Kurtis Blow e dos Whispers), à beira-rio (o Tejo é tão bonito ali daquele sítio). Pedi ao Rui Miguel Abreu que me recomendasse um disco, porque estava com 10 € no bolso e não concebo uma ida a uma loja de discos sem comprar nada (hoje comprei o Roots do Curtis Mayfield). Procurou e procurou e deu-me para a mão um disco dos Meters e um do David Axelrod. Estava numa de Meters e trouxe os Meters. E ele pediu-me um relatório completo. E aqui vai.
Como não sou grande conhecedor da obra deles, pensava, através de um artigo que li na MOJO de um mês qualquer deste ano, que eram apenas uma banda de funk instrumental. Para isso também ajudou o loop do "1-Thing" da Amerie, a guitarra mais perfeita de sempre e um dos melhores usos de samples de que há memória, numa das melhores malhas deste milénio, uma daquelas canções enormes às quais é impossível fugir. Mas aqui há canções e quase-canções. Chamo "quase-canções" a coisas como "Struttin'" ou "The Handclapping Song", que, respectivamente, têm vozes a imitar galinhas entre palavras de ordem como "Just keep on struttin'" e "Clap your hands now". Esta "Handclapping Song" deu-me aquele prazer que há sempre quando se descobre inadvertidamente um sample usado numa canção qualquer de hip-hop. Era, obviamente, "Clap Your Hands" dos A Tribe Called Quest, do Midnight Marauders. É das coisas de que mais gosto nessa cultura do sampling, a forma como se recontextualiza certas coisas, se parte do antigo para criar o novo, mesmo que não se modifique assim tanto o antigo (e aqui modifica-se), só uma recontextualização traz tudo. Exemplos disso são, por exemplo, "Eye Know" dos De La Soul, uma das minhas canções favoritas de sempre, ou "The Light" do Common, em que o Jay Dee corta e edita uma canção do Bobby Caldwell e cria algo de novo, mesmo que o Common não estivesse lá e só existisse o refrão e a base instrumental que foi limpa e à qual foi adicionada um sintetizador e outros pormenores interessantíssimos. Esse exemplo é paradigmático do criar algo novo do antigo, como retirar de uma canção um verso e torná-lo um refrão, recontextualizá-la para dizer algo de novo.
Mas não é isso que interessa. Os Meters eram uma banda de topo, óptimos músicos, cheios de funk cru e puro e duro, mesmo que não fossem propriamente os melhores escritores de canções de sempre. Passei a "Handclapping Song" na sexta-feira passada no LEFT e não há nada melhor que tentar acompanhar aquelas palminhas, aquele riff de guitarra, e aquelas vozes. Por pouco menos de 10 €, numa tarde solarenga de sexta-feira, à beira-rio, uma lição de história divertida. Ou talvez nada disto faça sentido, mas devia isto ao Rui.

Parvoíces sem sentido sobre Neutral Milk Hotel com a caneta sem tinta e sem editor de imagens

Baseado em factos verídicos

quarta-feira, julho 12, 2006

Inglaterra

Em 19 anos de vida, nunca vi um concerto fora de Portugal. Vi, uma vez, num jardim em Cambridge, os Counterfeit Stones, uma banda de versões dos Stones que, pelos vistos, é muito boa, já que apareceu no Biography Channel ou no Odisseia num documentário sobre os originais. Portugal só vai receber os Rolling Clones, o que é uma pena. Ou então não é pena nenhuma e ainda bem que só recebe uns deles. Porque não há qualquer propósito em haver bandas de versões de bandas que ainda por cima ainda existem.
Mas queria ter ido a um concerto. Li, num ou dois sites, que o Tony Allen ia tocar a um clube em Brixton quando eu estava em Londres. Mas não deu para o apanhar, porque não fazia ideia de onde era o clube. Perguntei a todos os seguranças de discotecas que vi, e nenhum deles tinha sequer ouvido falar daquilo. É bom ver que os seguranças de discotecas são as pessoas mais simpáticas do mundo quando não queremos entrar nelas. Apanhei, contudo, um espectáculo bem diferente.
Milhares de putos com ténis Vans axadrezados saíam da Brixton Academy, vindos de um concerto dos Lostprophets. Eu, que vi os Lostprophets há uns anos numa Deconstruction Tour, tive uma vontade estranha e semi-incontrolável (apesar de tudo, não cheguei a fazê-lo) de gritar que os Lostprophets eram horríveis e me aborreceram de morte quando os vi há uns anos. Havia umas 20 ou 30 t-shirts diferentes deles, todas compradas na própria noite por milhares de putos felizes por terem ido ver a sua banda favorita. Há que dizer que os Lostprophets agora são iguaizinhos aos My Chemical Romance, aos Fall Out Boy ou aos AFI de agora, e estão na frente da revolução emo para quem nunca ouviu Embrace, Rites of Spring, nem sequer Sunny Day Real Estate ou Get Up Kids. E foi este escalão sub-16 que transformou aquilo que era para meia dúzia de alienados e pessoas diferentes em algo tremendamente mainstream. Até bullies com wife-beaters e raparigas giras de peitos avantajados havia, a encher o metro com roupa preta e assim. Ou seja, estes não são os putos que levam porrada, são os putos que dão porrada. É uma mudança radical, mas foi o que aconteceu.
Mas, horas antes, aconteceu uma coisa estranha. Eu, que nunca dei nada pelos Yeah Yeah Yeahs, dei por mim a gostar deles. Não sei porquê, talvez tenha visto o Fever to Tell em promoção, ou assim, fiquei com o refrão de “Maps” na cabeça. E aquilo irritava-me antes, agora não me irrita, de todo, e fiquei com uma vontade tão incontrolável de ouvir aquilo que comprei o raio do disco, se bem que dois dias depois. Deu também para comprar meia dúzia de livros, inclusivamente o Can’t Stop Won’t Stop do Jeff Chang que já comecei a ler (ou melhor, só li mais ou menos a introdução do Kool Herc), e dois da colecção 33 1/3, sobre o In The Aeroplane Over The Sea dos Neutral Milk Hotel (que já li, de tão pequeno que é) e o Meat is Murder dos Smiths (escrito pelo Joe Pernice dos Pernice Brothers).
Pareceu-me uma colecção interessante, mesmo que demasiado bajulatória para os discos em questão. Nenhum disco é perfeito, ou é? Todos os meus discos favoritos têm coisas das quais não gosto. Por exemplo, acho que o Yankee Hotel Foxtrot dos Wilco ganharia ainda mais se não tivesse a secção de metais no final do “I’m The Man Who Loves You”, acho que o The Queen is Dead dos Smiths ganharia muito mais se tivesse cordas a sério e não sintetizadas, se não tivesse aquele final parvo do “Vicar in a Tutu”, como quem não quer acabar aquilo e se não tivesse aquela voz do Morrissey com o pitch mudado no refrão de “Bigmouth Strikes Again”. Curiosamente, não me lembro de nada de que não goste no In The Aeroplane Over the Sea, mas pronto. É bom saber como o disco foi feito e produzido, e como é que o Jeff Mangum passou de génio a recluso, mas sem querer seguir o Syd Barrett (que, entretanto, morreu e eu não sabia), mas sim o Robert Wyatt, na parte de voltar 10 anos depois. Ora, 2007 está aí ao virar da esquina, e a melhor pior voz de sempre podia bem voltar.
Perdi o Tony Allen, ganhei os putos emo, os livros, os discos, as casas sempre iguais no campo inglês, aqueles tijolos cor-de-laranja que eu aprendi a não odiar e a achar extremamente confortáveis e, especialmente, o sorriso da minha bisavó que, aos 97 anos, ainda é a melhor pessoa de todo o sempre.

quarta-feira, junho 21, 2006

Desilusão do ano

O meu coração está dividido. Por um lado, gostei mesmo dos últimos discos dos Belle & Sebastian. Dos últimos dois, mesmo o novo sem a magia do Trevor Horn. Já o tinha dito por aqui. Tinha mesmo vontade de vê-los ao vivo, o Tom Breihan diz que são óptimos ao vivo e se tornaram realmente bons a tocar aquelas canções do disco, com bons instrumentistas e profissionais qb. Mas o Tom Breihan vive em Nova Iorque, uma cidade em que tudo se passa todas as semanas, e onde não se põe o problema que agora enfrento e que dá a volta à minha jovem cabeça.
Longe vão os tempos em que Lisboa era uma "Ghost Town", como os Specials tão eloquentemente disseram nos anos 80. Para dizer a verdade, nunca os vivi. Comecei a ir a concertos regularmente e por vontade própria aos 13 anos. Desde essa idade, e já vão seis anos, nunca me pude queixar muito de bandas que não vinham cá. Agora ainda menos. Claro que não estamos em Nova Iorque, nem sequer em Londres ou em Barcelona, mas as coisas vão acontecendo com mais ou menos atrasos. Nem sequer vou falar das vozes que se apressaram a tratar o concerto dos Arcade Fire em Paredes de Coura como algo que aconteceu imediatamente em Portugal, dentro do tempo e tal, quando Funeral, quer se queira, quer não, saiu em 2004 e não em 2005 e toda a histeria gerada à volta dele em blogs de mp3 e em webzines e na imprensa americana aconteceu em 2004. Ignorar isso é ignorar que ninguém espera pelas datas de edição europeia, e ignorar a imprensa estrangeira e, basicamente, ser muito cego e viver num casulo. Mas em Nova Iorque não há problemas se o Kanye West e os Belle & Sebastian derem um concerto na mesma noite. Provavelmente há um novo concerto duas semanas depois e ninguém se chateia.
Os Belle & Sebastian já vieram cá há uns anos ao Sudoeste, mas ninguém me convidou para ir e convidaram o meu irmão. Nunca mais o perdoei, ainda por cima nem teve de acampar e aposto que dormiu normalmente, ao contrário de mim no ano passado. Ele viu-os, mas na altura Dear Catastrophe Waitress e o funk choninhas ainda não eram uma realidade. Agora já são uma realidade ultrapassada e eu estava mesmo excitado por vê-los. Mas na Mojo portuguesa, a revista Blitz, que lida maioritariamente com artigos de fundo e música do passado (ou pelo menos de protagonistas do passado, esta primeira capa tem os Rolling Stones), e que está muito bem conseguida desse ponto de vista, veio a notícia: Kanye West vem a Portugal no dia 17 de Julho.
Kanye West nunca esteve cá, não vende assim tantos discos em Portugal, mas algo me diz que esgotará o sítio (onde quer que seja) onde actuará. Mesmo que duas experiências me digam o contrário (a minha primeira prestação como DJ alcoolizado num parque de estacionamento subterrâneo ao pé da antiga FIL na minha gala de finalistas, em 2004, onde "Slow Jamz" foi recebido como se fosse um tema dos Wolf Eyes ou assim, com total desprezo das pessoas; o mesmo tema, dois anos depois, no carnaval, para meia dúzia de tipas que lá foram jantar a casa que, até essa altura, não se queixaram de nenhuma das produções dos Neptunes, da Missy Elliott, nem da M.I.A.), o que me leva a pensar que os adolescentes de classe média mainstream portugueses ignoram totalmente a pura diversão que é esse single (aquelas frases sobre o Michael Jackson são clássicos modernos). Mas não ignoram a obra-prima e o enorme banger gospel que é "Jesus Walks". E é em Oeiras ou em Sintra, Cascais é ali ao lado, por isso não deve haver problema nenhum em encher aquilo.
Há três hipóteses que me levarão aos Belle & Sebastian: a data do Kanye West estar errada, o Kanye West actuar muito mais tarde ou os bilhetes para o Kanye West esgotarem e eu não conseguir arranjá-los. Mas, provavelmente, as miúdas giras e tímidas com ganchinhos nos cabelos e óculos de massa terão de esperar. Isso e a música dos Belle & Sebastian, que também interessa um bocado, mas não tanto. Mesmo adorando ambos, algo me diz que o Kanye West se tornou num dos maiores artistas da actualidade, a julgar pelo Late Orchestration que eu só vi uma vez ao longe numa loja mas me pareceu muito bem. É triste, mas são coisas que acontecem, e é saudável podermo-nos dar ao luxo de ter coisas tristes destas em Lisboa em 2006.

sábado, junho 17, 2006

Cat Power

Muito tem sido dito por causa da forma como Chan Marshall deixou de ser aquela louca maníaco-depressiva sensível drogada, etc. que tanto podia escrever as canções mais bonitas do mundo quanto parar a meio de uma canção ao vivo e começar a chorar ou a contar histórias sem piada. Não vou dizer muito sobre isso, até porque não a vi no Festival do Porto há três anos e, especialmente, porque as palavras não conseguem descrever isto:



Ela dança e canta com uma voz belíssima no David Letterman, até faz a dança da galinha, está descalça, tem bling-bling ao pescoço, não sei mesmo o que dizer. Não sou pessoa de deixar aqui vídeos, mas não há outra maneira de falar disto. Ah, sim, e a capa do The Greatest, não sendo feia, impede-me de comprar o disco porque aquele cor-de-rosa me deixa enjoado (e isto não é uma piada).

Yo La Tengo

Apareceu hoje por aí o novo disco dos Yo La Tengo. Pelo menos parece ser. As faixas parecem não estar completas, sempre com fade-out um bocado estranho (o disco sai em Setembro). Chama-se I'm Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass, um nome horrível, mas desculpamos sempre aos Yo La Tengo aqueles nomes enormes que não fazem assim muito sentido, mesmo que este seja anormalmente mau. Não sei porque é que fico tão contente e excitado quando aparecem discos de bandas de quarentões quase cinquentões por aí (estou a mentir, só aconteceu outra vez este ano, com o Rather Ripped). Mas fico e não costumo sair-me muito mal.
Tem canções bonitas. Adorei a melodia de "Beanbag Chair", a voz do Ira Kaplan está cada vez melhor, com o piano e a secção de metais, "I Feel Like Going Home", a voz da Georgia Hubley continua sempre óptima, com a guitarra suave e a secção de metais, o cowbell, o falsete e o groove de "Mr. Tough", muito brasileiro, muito big band genérica dos anos 60. A voz dele (é a voz dele?) é tão frágil que fica tão esquisita e ao mesmo tempo soa tão bem em falsete. "Why don't you meet on the dancefloor?", canta ele, longe, mas tão longe de "The Last Days of Disco" de ...And Then Nothing Turned Itself Inside-Out.
A forma como as vozes do casal se entrecruzam em "The Race is On Again" mostra porque é que são uma das melhores bandas de rock do mundo, uma das últimas grandes. A voz da Georgia é tão infantil, mas bem menos infantil que a da sua predecessora óbvia, a Moe Tucker dos Velvet Underground, no campeonato de bateristas que cantam com vozes angelicais. E depois tudo pára quando ela canta "yesterday" e volta a entrar. E entram as linhas de baixo do James McNew. E logo a seguir canta por cima de baixo cheio de fuzz (ou talvez seja teclado), percussão psicadélica, pratos de choque e teclados aqui e ali, de uma forma tão blasé que funciona tão bem, especialmente nos "ah-ah".
Há madeira a arder (ou pelo menos soa como isso) no meio de Instrumental, dois acordes na guitarra alternados ad nauseam, com piano aqui e ali e outra guitarra atmosférica arranhada de forma suave e uma outra guitarra também de vez em quando. Muito cinemático. Parece ser um disco variado, da primeira faixa devedora dos Yo La Tengo dos anos 80, com uma malha de baixo repetida até à exaustão, num resultado não muito bom, em que Ira Kaplan esconde a sua voz por baixo de efeitos, até esta "Instrumental". A seguir a isto vem a parte dos anos 50/60. "I Should've Known Better" é rock'n'roll britânico dos anos 60, mas passado pelo filtro YLT, canção imediata, rápida e eficaz, sem rodeios. "Ronnie" é rock'n'roll clássico, mas a meio pára para um break com sopros e logo a seguir para um só de bateria. Muito fuzz e um solo simples.
"The Weakest Part" é muito country, mas com um piano honky-tonk, com a voz da Georgia e o Ira Kaplan a fazer harmonias de voz com ela em "ah-ah" lá atrás. "Tonight" é uma canção bem bonita, se bem que não me pareça que a guitarra tipo Byrds funcione muito bem lá no meio. "Happiness is a Warm" não é uma versão dos Beatles, mas antes, sei lá, como a música do genérico do Batman, com os papéis do casal de "The Weakest Part" trocados (Ira canta, Georgia faz harmonias por trás). "The Story Of" é a "Sugarcube" ou "Cherry Chapstick" que todos os discos de Yo La Tengo têm de/deviam ter, mas começa de forma muito calma (a bateria só entra aos 2 minutos e meio), mas é uma canção muito menor que essas duas.
Isto é só à primeira audição. A maturidade de que falava no caso dos Sonic Youth já chegou aos Yo La Tengo há muito tempo. O falsete do Ira Kaplan é um bocado estranho, em "Sometimes I Don't Get You" também dá ares da sua graça. A verdade é que os Sonic Youth são uma banda de rock'n'roll e continuarão a ser. Sempre com aquelas guitarras distorcidas, aquela dissonância, as vozes pouco polidas, os harmónicos patenteados, enquanto os Yo La Tengo vão buscar inspiração a estilos dos anos 60, à pop e ao soft-rock, com bocados de bossanova ou surf-music aqui e ali. Funciona realmente bem com eles, escrevem melodias mesmo bonitas e algumas óptimas canções, mas não sei se este novo disco é o que eu queria deles. Mais uma vez, é só à primeira audição. Em termos de casais quarentões do rock, continuo a preferir o Rather Ripped este ano, mesmo que, fora deste disco, os Yo La Tengo tenham das minhas canções favoritas de sempre. E isso é um bocado difícil de ignorar.

quinta-feira, junho 15, 2006

Coisas que aprendi nos últimos dias

1. O Noo Bai é dos melhores espaços para se estar em Lisboa.

2. Adormecer ao som de Sonic Youth a meio da tarde e ir no 23 e ele não fazer o desvio para o Pólo Universitário da Ajuda porque é feriado e está a chover são basicamente as melhores coisas que podem acontecer na vida de alguém.

3. O kuduro progressivo é o baile funk português.

3.1. O Adamastor pode ser um bom sítio de vez em quando (também serve como 1.1).

4. O DJ Shadow faz provavelmente a manobra menos comercial da vida dele, virando-se para o hyphy, e toda a gente protesta, dizendo que é comercial, que ele se vendeu, e que o que faz agora é igual ao que passa na MTV (nunca vi hyphy na MTV, nem na MTV Base).

4.1. O Armando Teixeira é fã de wife-beaters e nunca ninguém se vestiu tão mal quanto o DJ Shadow.

5. O The Squid and the Whale (óptima companhia+constatação de que até o puto Jesse Eisenberg - mais velho que eu, contudo - faz uma versão numa guitarra desafinada do "Hey You" dos Pink Floyd que mete a um canto a foleira versão original) é como um filme do Wes Anderson, só que é passado no mundo real. Quando no final apareceu o nome dele como produtor fez-se luz na minha cabeça. Gosto e quando for grande quero ter uma barba como a do Jeff Daniels.

sábado, junho 10, 2006

Sonic Youth

O que é a maturidade? Hoje, na Praça Camões (sempre pensei que fosse um largo, por se dizer "O Camões"), uns quantos boneheads estavam reunidos para celebrar o 10 de Junho. Aquele tipo do PNR que tem um bigode ou um bigode uma pêra e que parece ser dos tipos mais ridículos de sempre, o tipo que diz que a segurança é mais importante que a liberdade mas invoca a liberdade para poder dizer as barbaridades que diz, estava lá a discursar.
Esta gente hoje em dia diz que é muito respeitadora e só faz manifestações pacíficas, mas um tipo qualquer estava prestes a ser espancado, e teria sido se a polícia não estivesse lá. "Este gajo espancou um amigo há duas semanas!", diziam eles, ou algo parecido. E, referindo-se à cor da pele do polícia a quem o tipo se tinha dirigido, "só estás protegido ao pé dos macacos", "quando te apanharmos matamos-te".
Têm mais 10 anos, no mínimo, que eu, idade para ter juízo, mas quando se junta um intelecto superior ao consumo exagerado de cerveja e a assistir-se a demasiados jogos de futebol dentro das claques onde se espanca o adversário porque é de um clube diferente (faz tanto sentido quanto odiar o próximo porque é de um país diferente, e sentir orgulho exacerbado e violento no próprio país porque é aquele onde se nasceu). Será que são maduros?
Não sou adulto, não me parece que alguma vez vá ser, mas é suposto esta gente ser adulta. O tipo do PNR tem mais de 30 anos, veste camisa e gravata, não é suposto ser adulto? Quando passei por eles, tinha acabado de comprar o Rather Ripped. Supostamente ainda não saiu, mas já está à venda numa certa loja de origem francesa, como aconteceu, por exemplo, com o Feels dos Animal Collective no ano passado. É capaz de ter acontecido com outros discos, mas não estou a ver nada agora. Hoje em dia já não interessa muito a data de saída dos discos, não tanto quanto há 10 anos, ou há 20, quando a data de saída era uma celebração.
De qualquer forma, dizem que os Sonic Youth são maduros, atingiram a maioridade. Faz sentido, têm todos mais de 40 anos, são pais, filhos, vestem-se de forma mais ou menos respeitável (o Lee Ranaldo aparece em muitas fotografias promocionais, e no próprio disco, de camisa e gravata). Musicalmente, têm muito menos tendência para explodir em milhentos pedaços de puro barulho a meio das canções (e quando o fazem parecem muito mais disciplinados, mais uma vez, que há 10 e 20 anos), estão muito mais melódicos e mais pop. O Thurston Moore é fã de Be Your Own Pet, uma banda convencional de acordo com os padrões de hoje, que soaria fresca há uns 20/30 anos, o que poderia significar algo, mas não significa muito. Ainda é um dos responsáveis da Ecstatic Peace, ainda toca de vez em quando com os Sunburned Hand of the Man como Sunburned Hand of Thurston, e continua a ser como um mecenas da cena underground. O Lee Ranaldo ainda tem discos chatos de improvisação livre na guitarra, o próprio Moore também toca em discos desses, etc.
A capa de Rather Ripped é feia, mas lá dentro escondem-se muitas óptimas canções, e até a do Lee Ranaldo soa estranhamente pop. Ainda nenhum deles sabe cantar a sério, mas as suas vozes estão melhor do que nunca, especialmente a da Kim Gordon. É viciante e orelhudo (odeio esta palavra, prefiro o inglês catchy) ao mesmo tempo, com guitarras ultra-melódicas, refrões onde se repete uma única palavra, mas sempre com estruturas não muito convencionais onde há espaço para passagens instrumententais óptimas que nunca se tornam cansativas, só há um verdadeiro freak-out digno desse nome, em "Turquoise Boy", mas muito controlado e estruturado, e as dissonâncias e os arranhões nas guitarras estão em segundo plano, muito ao de leve. Há espaço para folk na última faixa (ainda há uma bónus), com guitarras acústicas e com a melhor pergunta de sempre para acabar um disco: "Which came first? The music or the words?", mesmo que o venha antes não seja grande coisa (perguntas a bandas e histórias de tournées, algo que não interessa a mais ninguém a não ser à própria banda). Mas os Sonic Youth fazem isto com uma perna às costas, melhor do que ninguém, e é isso que faz deles uma das melhores e maiores bandas do mundo. Sente-se a falta de Jim O'Rourke, mas mais em termos de produção do que qualquer outra coisa, a banda funciona perfeitamente - como sempre funcionou até ele aparecer - como um quarteto. E agradecem-lhe no booklet, por isso ele voltar não parece estar assim tão fora de questão quanto isso.
Talvez seja este o som da maturidade, o som de gente a entrar na casa dos 50 já bem instalada e sem paciência para grande experimentação. Mas não é, eles ainda sabem fazer aquelas coisas esquisitas que sempre fizeram, os dias de hoje é que são mais propícios a uma separação entre a componente experimental e a componente pop. Não sou adulto, não sou maduro, não me parece que alguma vez vá sê-lo no verdadeiro sentido da palavra, mas se este é o som da idade adulta, tenho muito por que esperar se ela alguma vez chegar.

sexta-feira, junho 09, 2006

Divagações livres sobre a associação Primo+X-Tina

Lápis é uma má escolha

(dá para perceber que o lápis é uma má escolha e que vale sempre a pena perder tempo à procura da caneta de acetato preta, peço desculpa por qualquer incómodo causado, é uma canção porreira, quase só percussão e sopros, com uma guitarra funky aqui e ali e scratch a condizer, e a voz dela chega até lá acima a meio mas de uma forma nada foleira nem forçada só para a distanciar mais da Britney Spears, ao contrário do que seria de esperar dela)

Sell out

By the way, if anyone here is in marketing or advertising... kill yourselves. Just planting seeds... No joke here, really, seriously, kill yourselves. You have no rationalization for what you do, you are Satan's little helpers, kill yourself, kill yourself, kill yourself now. - Bill Hicks

Talvez seja assim. Talvez não seja assim, porra. A propósito da malta da Elephant6, li há uns tempos, talvez no ano passado, um artigo acho que do New York Times, já com alguns anos, sobre a música na publicidade. Falava de como os Apples in Stereo reagiram às críticas dos fãs quando venderam um tema deles para publicidade (são um casal e tinham acabado de ter um filho e puderam finalmente comprar uma casa, mas os fãs estavam devastados porque era suposto eles serem muito underground e tal). Precisavam mesmo de dinheiro e venderam a alma ao diabo ou então a um carro, não sei. Nunca tive grande paciência para a maior parte da malta Elephant6, mas o Danger Mouse trabalhou com aquela gente numa loja de discos e chegou a fazer remisturas de Neutral Milk Hotel - Neutral Milk Hotel e Of Montreal são as duas únicas bandas de que gosto mesmo naquele universo -, por isso está tudo bem. O que até mostra mais promiscuidades com o mainstream. Mas não ficam por aí. Para um "colectivo" (não sei o que lhes chamar) que venera os Beach Boys e tem de tê-los em tudo, não faz muito sentido pensar em vender-se ou não, nessa velha questão parola.
Os Clash vendem carros, os Beatles também, a MTV abusa dos seguintes artistas em separadores e nos The Fabulous Life of...: Jurassic 5, Common, New Pornographers, Ted Leo & The Pharmacists, etc., por isso já nada dessas coisas fazem sentido. Mas não é por aí que quero ir. A primeira vez que ouvi o que quer que fosse do Jim O'Rourke foi há alguns anos, num anúncio da TMN. O tal artigo do New York Times dizia que os jovens que gostavam de música estavam a crescer, e que, como tal, arranjavam empregos em empresas de publicidade e assim e sacrificavam os seus ideais de juventude e punham a música de que gostavam nos anúncios. O anúncio da TMN era de uma campanha natalícia, e era o princípio de "Prelude to 110 or 220/ Women of the World", do Eureka. Lembro-me que na altura queríamos ter uma banda e, nesta varanda onde me encontro agora, juntámo-nos porque um de nós tirou de ouvido o riff de guitarra. Outro cantou, outro tocou bateria (ou o mesmo, não me lembro de nada), gravámos tudo no MiniDisc e eu não fiz nada a não ser tocar no botão para gravar. Dois de nós acabaram nos We Shall Say Only The Leaves, por isso deve ter sido uma experiência mais ou menos positiva.
Para mim, o próprio conceito de alguém se vender desvanece-se quando se começa a perder um preconceito quanto à música pop e, apesar de eu respeitar a integridade e o caraças do Q-Tip ou do Talib Kweli, por exemplo, não me posso esquecer que o Q-Tip canta o refrão no "Girls, Girls, Girls" do Jay-Z (um óptimo tema, e eu adoro o Jay-Z) e que o Talib Kweli aparece em reality-shows da MTV ao lado da Cameron Diaz e do Justin Timberlake. E ambos recorrem às produções dos Neptunes. Porque aí, longe do punk parvo que ouvia quando era ainda mais novo, e onde estas parvoíces faziam sentido (a Epitaph e a Fat Wreck e a Victory são editoras como todas as outras, o objectivo é vender), o que interessa no final de contas é a música.
Mas quando, por exemplo, ouço o novo tema dos Jurassic 5 que apareceu por aí, é o Dave Matthews que estraga tudo. Lembra-me aquele tema dos Long Beach Dub All Stars (eu era fã de Sublime na minha juventude mais longínqua) com os Black Eyed Peas horrivelmente mau, naquela mistura de "estamos na praia aqui todos boa onda" e hip-hop (só que os J5 são bons e os Black Eyed Peas nunca foram, por muitos Q-Tips que enganem para aparecer nos seus discos) que faz o genérico de uma das piores séries de sempre - Joey, e eu até gosto de Friends -, e, se isso já nem fazia sentido em 2001, muito menos em 2006, especialmente com a responsabilidade que os Jurassic 5 têm. O que interessa aí nem é o vender-se, provavelmente os Jurassic 5 vendem mais que a Dave Matthews Band (ou venderiam, num mundo justo), mas esta tentativa não só de juntar artistas bons e artistas maus (por muito bem que a banda do Dave Matthews toque, aquilo é horrível), mas também de os Jurassic 5 fazerem coisas sem o Cut Chemist, não resulta nada bem.
Mas, claro, há certas companhias que são o demónio, há certos artistas a quem nem devemos dar dinheiro, há certas coisas que fariam o Joe Strummer revirar-se na sua campa, e quem faz publicidade não devia conseguir dormir à noite, no final de contas o que conta é a música. E há demasiada música boa por aí para alguém ter preconceitos contra o que vende, contra o que ajuda a vender e contra o que é feito para vender. Ou talvez não e talvez devamos ignorar tudo o que passa na MTV (mas não o que passa na MTV2), por o mainstream era bem melhor nos anos 80 e já não se faz música a sério, valha-nos os revivalistas, viva os Editors que são os Interpol com sotaque inglês e os Bloc Party, só para dizermos que não somos racistas e gostamos de música negra.

quarta-feira, junho 07, 2006

Deerhoof=melhor banda pop da actualidade?

Não me lembro, e já passaram 6 meses, de este ano ter estado tão excitado por ver uma banda como estava ontem para ver os Deerhoof. Mas tinha também um certo desgosto pelo azar com que todos apanhámos por Chris Cohen ter saído da banda há muito pouco tempo. E duas guitarras nunca podem ser apenas uma guitarra, só em certos casos, por isso perde-se sempre um bocado, especialmente se a banda ainda não estiver habituada a tocar como um trio e não um quarteto.
Há uma girafa embalsamada - se for mesmo uma girafa é algo repugnantemente vil e cruel - no meio da pista de dança do Lux, à qual já não ia há alguns meses e que foi recentemente remodelada. Nem parece o mesmo espaço. Tirando a inexplicável girafa lá no meio, até é um bom espaço, acolhedor e simpático.
Parece que os Lobster são uma boa banda de abertura, mas merecem menos do que 45 minutos. Têm poder e força, mas não pude deixar de me aborrecer de morte lá para o meio. Felizmente ainda tinham um ou dois truques na manga que acabaram por compensar mais ou menos. O guitarrista toca no meio do público e não tenho propriamente nada contra isso, só torna a coisa um bocado difícil de ver e assimilar, mas também não estraga muito. Já não querem ser só os Lightning Bolt, o que é muito bom, porque também não têm sensibilidade pop para escrever um "Dracula Mountain". A guitarra sempre suja e a bateria sempre a partir podem dar coisas muito simpáticas, numa coisa que se distancia imenso dos Fish & Sheep, talvez por ter muito menos improviso, mas que pode resultar em algo igualmente catártico. Só não é bom para ver durante muito tempo.
A Satomi Matsuzaki tem, no máximo, um metro e meio. O ar japonês não engana ninguém, só faltava uma farda e podia ser uma colegial de 6 anos. Apeteceu-me, não sei porquê, dizer-lhe que ela era a minha heroína pessoal. Se calhar é, da voz aguda de criança à postura em palco, a fazer aeróbica com o baixo na mão, a abrir as pernas e a saltar, a fazer aqueles gestos coreografados divertidíssimos, a armar-se em crooner de jardim-escola a cantar para um coelhinho, tem tudo para ser um exemplo a seguir por mim. Ela limitou-se a agradecer, com um sorriso falso e cordial nos lábios daqueles que só os asiáticos sabem fazer, com a cabeça a abanar para cima e para baixo.
John Dieterich é o melhor guitarrista do mundo. Greg Saunier é o melhor baterista do mundo. O primeiro adora fazer caretas enquanto nos dá aqueles riffs e aquelas melodias, as mais bonitas, doces e açucaradas de sempre, a abrir a boca, a mexê-la, como quem está a domar a guitarra, mas também sabe arranhá-la quando é preciso mostrar aos Lobster quem manda nesses campos barulhentos. O segundo também adora caretas, tem uma t-shirt que deve ser a parte dois da capa do Milk Man, com o desenho de um monstro horrendo feito de fruta e outras coisas. Adora ritmos estranhos e peculiares, mas que se entranham na cabeça de uma forma especial, cheios de apelo pop.
Estava realmente feliz por estar ali, conhecia quase todos os temas, especialmente porque foram buscar na maioria na maioria das vezes canções aos três discos que conheço melhor, Apple O', Milk Man e Runners Four. "Flower" estava numa versão diferente da que está em disco, talvez pela falta de Chris Cohen, ou por a banda pura e simplesmente se ter fartado de tocar como estava, mas não resulta assim tão bem. É só Satomi a dizer "flower flower flau ooh aah", e perde um bocado de forma diferente. As coisas que soaram melhor foram as de Runners Four, talvez por ser o último disco, por serem mais recentes, mas também talvez por a banda ter atingido uma certa maturidade (Apple O' tem as melhores melodias, Milk Man os melhores riffs e Runners Four as melhores canções).
Já não se fazem bandas assim, nem se podem fazer, sempre a mudar, sempre com novas ideias (a Eurovisão em Green Cosmos, os jogos de vídeo em Se Piangi Se Ridi, etc.). Sabem ser experimentais e pop ao mesmo tempo, juntar canções e barulho quando é preciso, sabem ser doces e amargos e sabem entreter. E sei que, como hoje acordei e tive vontade de ir para a escola a ouvir o Murray Street dos Sonic Youth, os Deerhoof serão sempre uma das bandas a que eu recorrerei quando quiser, quando me apetecer, a razão pela qual acordo de manhã e a razão pela qual volto para casa todas as tardes ou noites ou assim. As batidas do monstro da bateria e os riffs do homem constantemente boquiaberto estão sempre na minha cabeça, bem como a voz e o baixo da japonesa quase anã que gosta muito de dançar levantado as pernas e mostrando as meias de criança e os ténis Vans amarelos. Os Deerhoof sabem criar melodias viciantes e boas e transformá-las em canções, e mesmo que não o façam - só o fazem constantemente agora a partir de Runners Four - dão sempre brincadeiras interessantes com refrões e versos viciantes e todas aquelas partes ruidosas. É por isso, por serem a melhor banda pop da actualidade, foram escolhidos, no passado, para abrir para os Wilco e, no presente, para abrir para os Radiohead. Porque nenhuma destas bandas se pode contentar com pouco e os Deerhoof têm muito para dar.

domingo, junho 04, 2006

Band of Horses

Não devia gostar mesmo nada dos Band of Horses, nem de "The Funeral", mas os Band of Horses são a melhor banda de "ouve esta canção, vai mudar a tua vida" de 2006. Tudo neles parece tão pensado, tão estudado, a voz do tipo (não tanto a voz, mas mais a forma de cantar) é mesmo quase igual à do tipo dos Shins, as letras parecem talhadas para o eixo MSN/Livejournal/MySpace/Hi5, mas pelo menos são a segunda banda em dois anos (a outra é Arcade Fire) a usar a palavra "funeral" não sendo um bando de góticos (o que é perfeito, tendo em conta a quantidade de góticos idiotas que podemos ver na rua no verão vestidos com imensa roupa preta e a aguentar aquele calor todo - isto não é ódio, é inveja).
Do riff de guitarra inicial à explosão controlada do refrão, passando pelos "ooh-ooh" do verso, "The Funeral" não devia ser mas é uma das melhores canções do ano. É, em quase tudo, perfeita, mesmo que soe como se tivesse sido feita para brilhar num remake do Garden State. E soa bem em quase todo lado, tanto no meio quanto no fim de DJ sets de rock, de electrónica, de hip-hop, do que quer que seja. Calha sempre bem.
A tentar, os Band of Horses escreveram a canção rock perfeita. Será que o facto de ter sido propositado (ou de soar como tal, aquilo parece ter sido criado com a ajuda de um manual ou assim) devia estragar alguma coisa (por exemplo, as piadas daquele anormal da bóina da Revolta dos Pastéis de Nata parecem tiradas de um manual e quase nenhuma delas tem piada por já as termos ouvidos mil vezes)? É que não estraga, e ainda bem.

quinta-feira, junho 01, 2006

Belle & Sebastian

A minha mãe não gosta dos dois últimos álbuns de Belle & Sebastian. Acha-os chatos e aborrecidos. É grande fã do Sufjan Stevens (adora o Illinoise e o The Avalanche, acha o que o Michigan não é grande coisa), de Kings of Convenience e de Elliott Smith. Mas das duas vezes que lhe dei para as mãos os dois últimos discos de Belle & Sebastian ela odiou. Para mim os Belle & Sebastian começam no Tigermilk, têm um ou outro EP, um ou outro tema na banda sonora no Storytelling e aqueles dois últimos discos. Nunca tive paciência para [descobrir] o resto, mas acho que a produção do Trevor Horn ajudou imensamente a banda e trouxe ao mundo a invenção do funk choninhas, no Dear Catastrophe Waitress, para depois o esquecerem com o The Life Pursuit.
No outro dia estive indeciso entre comprar o The Life Pursuit ou o Blueprint do Jay-Z. Não sei porquê, comprei o The Life Pursuit. Um bocado depois comprei o Blueprint, finalmente, mas naquela altura pareceu-me a escolha acertada. Não que não ache que o Jigga tem imensa pinta naquela capa com o charuto na mão, mas a embalagem do Life Pursuit é um livro e tem escocesas bonitas na capa (e no próprio livro), e estão vestidas de uma forma deliciosa que espero que influencie todas as meninas de ganchinho no cabelo que rumarão ao Coliseu em Julho. Claro, são tão ou mais influenciáveis que o resto das raparigas, e talvez muito mais limitadas musicalmente falando (fugiriam só de ouvir o nome "Jay-Z" ser pronunciado) mas como são indie dá-se o desconto (e os ganchinhos, porra).
Talvez a minha mãe tenha razão. Talvez os Belle & Sebastian devessem voltar com um coração partido ou uma coisa assim. Evoluíram de reis da pop choramingas escocesa para reis da pop kitsch escocesa. Mas no final é como diz uma amiga minha, sobre a série Less Than Perfect, a tal da ruiva rechonchuda: "Ela emagreceu e deixou de ser tão gira." Ela é gira de qualquer maneira, mas antes havia uma graça qualquer especial. Continua a haver uma graça especial, mas agora é outra. Talvez se passe o mesmo com os Belle & Sebastian, mas no final de contas, são ambos a mesma pessoa e a mesma banda, não mudaram assim tanto.

Divagações livres sobre Cam'ron e Jay-Z

Cam'ron

domingo, maio 28, 2006

Divagações livres sobre Wilco

Wilco
(em defesa deles, não há melhor que quando o Tweedy brinca aos falsetes mais ou menos a meio da canção, com aquela voz fraca e frágil que funciona tão, mas tão bem, e esta é bem capaz de ser a canção mais country deles desde antes do Yankee Hotel Foxtrot, as outras faixas de que falo no texto são "Just a Kid", a primeira com o Nels Cline, da banda-sonora do Spongebob Squarepants, escrita para o filho do Tweedy, power-pop do melhor com coro de crianças e "Kicking Television", do álbum ao vivo homónimo, rock'n'roll com bons riffs e gritos do Tweedy)

quarta-feira, maio 24, 2006

Grindie

Não sou fã de grime, muito menos daquilo a que se chama indie neste contexto, mas grindie é a melhor coisa do ano. Não sei há quanto tempo existe, só tomei conhecimento com esta prática de misturar o melhor dos dois mundos recentemente. Alterar o pitch, adicionar umas batidas e umas rimas podia parecer banal, mas não soa a nada disso. Como a malta do grime não é obcecada com a história, com a validade musical, com a pretensão e o caraças de seguir regras, estas coisas soam sempre urgentes e genuínas e livres. "Livre" no sentido de não se saber onde as coisas vão parar, de não se poder conter isto de forma nenhuma, sei lá, como me parece a guitarra do Ali Farka Touré no princípio do Talking Timbuktu - não tem nada a ver, mas vem-me sempre à cabeça quando penso em coisas que não podem ser contidas de forma nenhuma, tal é a sua urgência. Saiu assim porque é assim que as coisas saem, fez-se e pronto.
Gosto, por exemplo, dos exemplos mais mainstream saídos do grime, como o Kano ou o Dizzee Rascal, mas nunca tive muita vontade de aprofundar a cena toda (é demasiado extensa/não me atrai assim tanto), mas parece-me um movimento actual e válido, como o funk de favela, ou kuduro (apesar de odiar isto, parece que algo como os Buraka Som Sistema ou assim tem muito de válido, tanto que convenceram o Diplo - ultra-fã destes movimentos de rua ultra-chungas - a aprofundar esta cena) ou o que quer que seja, com as pessoas no meio da rua a fazerem música como sabem, sem ter qualquer conhecimento musical, sem provavelmente ter ouvido quantidades industriais de música, só para pôr as pessoas a dançar ali no meio. Parece um bocado isto, o grindie. Os Interpol ou os Bloc Party ou os Strokes ou essas bandas todas pensadíssimas ao pormenor (sem juízos de valor, até gosto das três bandas, moderadamente da do meio e um bocado mais das outras duas) juntas com os Blondie ou os TV on the Radio ou sei lá mais o quê numa das coisas mais cruas e puras que pode haver. E as festas parecem ser demasiado divertidas para ser verdade.
O grindie é a playlist do Incógnito mas em bom.

Divagações livres sobre Lupe Fiasco

Lupe Fiasco

terça-feira, maio 23, 2006

Maxime <3 Sopranos

No Marquês de Pombal fica-se sempre de 15 a 20 minutos à espera do autocarro. Isto transforma uma viagem de 5 ou 10 minutos de carro numa de uma hora de autocarro e metro. É belíssimo. Para tentar evitar o calor - o que é muito difícil, visto a paragem estar horrivelmente mal feita, por ser "temporária" (já lá está há uns dois anos, viva o ser temporário) -, temos de nos tentar abrigar e esperar a nossa vez. Vão passando muitos autocarros, acho que o 11 vai para a Damaia, o 48 para Miraflores e o 83 para as Amoreiras (directo). O 23 nunca chega. Também podemos observar os táxis e carros que não param de passar, sendo até que alguns deles podiam ter-nos morto apenas momentos antes (é uma grande aventura atravessar a rua, especialmente se o autocarro que queremos apanhar estiver perto (é que 20 minutos ali são 20 minutos horríveis). As probabilidades de num desses carros ou táxis estar um actor da série Sopranos são cada vez maiores.
O Maxime não pára de ressuscitar artistas famosos da nossa praça que já estão para morrer nem de trazer a Portugal actores da referida série. O que até faz sentido. Aquilo tem shows de striptease e o Tony Soprano tem uma casa disso na série. Não tem? Se calhar, por serem todos italo-americanos, têm uma forte ligação com Portugal. Não sei. Primeiro foi o outro gajo que nem sequer era mafioso, era cozinheiro e ganhava dinheiro honestamente, só era um dos melhores amigos do Tony. Isto não tem propriamente algo a ver com música, ou tem? Agora é Michael Imperioli, o sobrinho do Tony que é muito mau e viciado em heroína e que tinha aquela namorada gira que tinha uma amiga que afinal era do FBI. Que raio de música faz esta gente? Não sei. Ninguém sabe. É que, na minha cabeça, só o Litte Stevie Van Zandt é que era músico. Mas decerto que aquilo estará minimamente cheio, só porque as pessoas querem ir ver "o gajo dos Sopranos". A música é acessória, tal como, sei lá, quando as pessoas vão ver o Woody Allen tocar. Mas aí pagam mesmo preços exorbitantes. Até é simpático, o ambiente de cabaret, de casa de má fama, portanto, nada contra isso.
Vai ser bonito um dia ver o Imperioli num desses carros a passar no Marquês de Pombal. Se calhar vou ter medo da cara dele - ele é um bocado assustador -, se calhar vou achar interessante. Mas nunca saberei a que soa a música dele, na estreia mundial do seu trio La Dolce Vita (ele é italo-americano e parece que precisa de dizê-lo a toda a hora).