sexta-feira, agosto 25, 2006

Lost without you, half dead

Estou agradecido, do fundo do coração, à namorada do John Darnielle que o deixou. Aliás, a todas as que o deixaram, a todas as que não chegaram sequer a estar com ela, a todas. Porque foram elas que fizeram Get Lonely, que é provavelmente das coisas mais bonitas que ouvirei este ano. Nunca fui grande fã dos Mountain Goats até The Sunset Tree, e se esse era um disco sobre o padastro abusivo daquele que é o protótipo do indie rocker dos anos 2000 - lido, ecléctico (adora hip-hop e metal), carismático e cheio de piada, com um sentido de humor brutal -, este é um disco sobre o final de uma relação.
Fui ver, há pouco menos de um mês, The Break Up, o filme que tenta fingir que há uma química desvanecente entre Jennifer Aniston e Vince Vaughn. Não há. E também não há piadas. Há uma comédia proto-séria que tenta lidar com o tema, mas nunca chega bem lá. Get Lonely é tudo aquilo que The Break Up não é. Não sei porquê, mas a crítica tem recebido Get Lonely como um disco mais negro e deprimente que The Sunset Tree. Parece-me, contudo, que é bem mais fácil a pessoa comum perceber o que ele canta em Get Lonely do que em The Sunset Tree. E “canta” é a palavra-chave aqui, porque Darnielle parece estar bem mais preocupado em escrever canções propriamente ditas, com óptimas melodias e óptimos arranjos - envolvem piano, violencelo, guitarra, baixo e bateria (e um metalofone em "Half Dead" e sopros lá para o final do disco), tudo belíssimo - do que no seu modo verborreico de contar histórias em que parece não conseguir parar de falar. E canta-as com uma voz suave e sussurada, num falsete frágil estranho mas também bonito. E funciona.
John Darnielle canta sobre acordar sozinho e arrumar a casa e fazer todas as tarefas do dia-a-dia sem alguém a seu lado. Escolhe as palavras como ninguém e tem a música perfeita para as acompanhar. Aliás, mais do que acompanhar, já que as palavras e a música são indissociáveis. E é impossível não gostar de John Darnielle, um tipo com piada que faz música triste, ou um tipo triste que faz música com piada. É os dois ao mesmo tempo, depende do disco. Neste está triste, mas sabemos sempre que ele tem um sentido de humor incomparável. Acho que todos devíamos estar eternamente gratos às mulheres da vida de Darnielle que lhe fizeram mal e, como exemplificado no vídeo que se segue, eternamente chateados com o barbeiro dele.


1 comentário:

O Puto disse...

Há tempos estive com o "Tallahassee" nas mãos, a um preço bem apetecível, mas não o comprei. Vou-lhe dar uma segunda oportunidade.