Apareceu hoje por aí o novo disco dos Yo La Tengo. Pelo menos parece ser. As faixas parecem não estar completas, sempre com fade-out um bocado estranho (o disco sai em Setembro). Chama-se I'm Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass, um nome horrível, mas desculpamos sempre aos Yo La Tengo aqueles nomes enormes que não fazem assim muito sentido, mesmo que este seja anormalmente mau. Não sei porque é que fico tão contente e excitado quando aparecem discos de bandas de quarentões quase cinquentões por aí (estou a mentir, só aconteceu outra vez este ano, com o Rather Ripped). Mas fico e não costumo sair-me muito mal.
Tem canções bonitas. Adorei a melodia de "Beanbag Chair", a voz do Ira Kaplan está cada vez melhor, com o piano e a secção de metais, "I Feel Like Going Home", a voz da Georgia Hubley continua sempre óptima, com a guitarra suave e a secção de metais, o cowbell, o falsete e o groove de "Mr. Tough", muito brasileiro, muito big band genérica dos anos 60. A voz dele (é a voz dele?) é tão frágil que fica tão esquisita e ao mesmo tempo soa tão bem em falsete. "Why don't you meet on the dancefloor?", canta ele, longe, mas tão longe de "The Last Days of Disco" de ...And Then Nothing Turned Itself Inside-Out.
A forma como as vozes do casal se entrecruzam em "The Race is On Again" mostra porque é que são uma das melhores bandas de rock do mundo, uma das últimas grandes. A voz da Georgia é tão infantil, mas bem menos infantil que a da sua predecessora óbvia, a Moe Tucker dos Velvet Underground, no campeonato de bateristas que cantam com vozes angelicais. E depois tudo pára quando ela canta "yesterday" e volta a entrar. E entram as linhas de baixo do James McNew. E logo a seguir canta por cima de baixo cheio de fuzz (ou talvez seja teclado), percussão psicadélica, pratos de choque e teclados aqui e ali, de uma forma tão blasé que funciona tão bem, especialmente nos "ah-ah".
Há madeira a arder (ou pelo menos soa como isso) no meio de Instrumental, dois acordes na guitarra alternados ad nauseam, com piano aqui e ali e outra guitarra atmosférica arranhada de forma suave e uma outra guitarra também de vez em quando. Muito cinemático. Parece ser um disco variado, da primeira faixa devedora dos Yo La Tengo dos anos 80, com uma malha de baixo repetida até à exaustão, num resultado não muito bom, em que Ira Kaplan esconde a sua voz por baixo de efeitos, até esta "Instrumental". A seguir a isto vem a parte dos anos 50/60. "I Should've Known Better" é rock'n'roll britânico dos anos 60, mas passado pelo filtro YLT, canção imediata, rápida e eficaz, sem rodeios. "Ronnie" é rock'n'roll clássico, mas a meio pára para um break com sopros e logo a seguir para um só de bateria. Muito fuzz e um solo simples.
"The Weakest Part" é muito country, mas com um piano honky-tonk, com a voz da Georgia e o Ira Kaplan a fazer harmonias de voz com ela em "ah-ah" lá atrás. "Tonight" é uma canção bem bonita, se bem que não me pareça que a guitarra tipo Byrds funcione muito bem lá no meio. "Happiness is a Warm" não é uma versão dos Beatles, mas antes, sei lá, como a música do genérico do Batman, com os papéis do casal de "The Weakest Part" trocados (Ira canta, Georgia faz harmonias por trás). "The Story Of" é a "Sugarcube" ou "Cherry Chapstick" que todos os discos de Yo La Tengo têm de/deviam ter, mas começa de forma muito calma (a bateria só entra aos 2 minutos e meio), mas é uma canção muito menor que essas duas.
Isto é só à primeira audição. A maturidade de que falava no caso dos Sonic Youth já chegou aos Yo La Tengo há muito tempo. O falsete do Ira Kaplan é um bocado estranho, em "Sometimes I Don't Get You" também dá ares da sua graça. A verdade é que os Sonic Youth são uma banda de rock'n'roll e continuarão a ser. Sempre com aquelas guitarras distorcidas, aquela dissonância, as vozes pouco polidas, os harmónicos patenteados, enquanto os Yo La Tengo vão buscar inspiração a estilos dos anos 60, à pop e ao soft-rock, com bocados de bossanova ou surf-music aqui e ali. Funciona realmente bem com eles, escrevem melodias mesmo bonitas e algumas óptimas canções, mas não sei se este novo disco é o que eu queria deles. Mais uma vez, é só à primeira audição. Em termos de casais quarentões do rock, continuo a preferir o Rather Ripped este ano, mesmo que, fora deste disco, os Yo La Tengo tenham das minhas canções favoritas de sempre. E isso é um bocado difícil de ignorar.
Tem canções bonitas. Adorei a melodia de "Beanbag Chair", a voz do Ira Kaplan está cada vez melhor, com o piano e a secção de metais, "I Feel Like Going Home", a voz da Georgia Hubley continua sempre óptima, com a guitarra suave e a secção de metais, o cowbell, o falsete e o groove de "Mr. Tough", muito brasileiro, muito big band genérica dos anos 60. A voz dele (é a voz dele?) é tão frágil que fica tão esquisita e ao mesmo tempo soa tão bem em falsete. "Why don't you meet on the dancefloor?", canta ele, longe, mas tão longe de "The Last Days of Disco" de ...And Then Nothing Turned Itself Inside-Out.
A forma como as vozes do casal se entrecruzam em "The Race is On Again" mostra porque é que são uma das melhores bandas de rock do mundo, uma das últimas grandes. A voz da Georgia é tão infantil, mas bem menos infantil que a da sua predecessora óbvia, a Moe Tucker dos Velvet Underground, no campeonato de bateristas que cantam com vozes angelicais. E depois tudo pára quando ela canta "yesterday" e volta a entrar. E entram as linhas de baixo do James McNew. E logo a seguir canta por cima de baixo cheio de fuzz (ou talvez seja teclado), percussão psicadélica, pratos de choque e teclados aqui e ali, de uma forma tão blasé que funciona tão bem, especialmente nos "ah-ah".
Há madeira a arder (ou pelo menos soa como isso) no meio de Instrumental, dois acordes na guitarra alternados ad nauseam, com piano aqui e ali e outra guitarra atmosférica arranhada de forma suave e uma outra guitarra também de vez em quando. Muito cinemático. Parece ser um disco variado, da primeira faixa devedora dos Yo La Tengo dos anos 80, com uma malha de baixo repetida até à exaustão, num resultado não muito bom, em que Ira Kaplan esconde a sua voz por baixo de efeitos, até esta "Instrumental". A seguir a isto vem a parte dos anos 50/60. "I Should've Known Better" é rock'n'roll britânico dos anos 60, mas passado pelo filtro YLT, canção imediata, rápida e eficaz, sem rodeios. "Ronnie" é rock'n'roll clássico, mas a meio pára para um break com sopros e logo a seguir para um só de bateria. Muito fuzz e um solo simples.
"The Weakest Part" é muito country, mas com um piano honky-tonk, com a voz da Georgia e o Ira Kaplan a fazer harmonias de voz com ela em "ah-ah" lá atrás. "Tonight" é uma canção bem bonita, se bem que não me pareça que a guitarra tipo Byrds funcione muito bem lá no meio. "Happiness is a Warm" não é uma versão dos Beatles, mas antes, sei lá, como a música do genérico do Batman, com os papéis do casal de "The Weakest Part" trocados (Ira canta, Georgia faz harmonias por trás). "The Story Of" é a "Sugarcube" ou "Cherry Chapstick" que todos os discos de Yo La Tengo têm de/deviam ter, mas começa de forma muito calma (a bateria só entra aos 2 minutos e meio), mas é uma canção muito menor que essas duas.
Isto é só à primeira audição. A maturidade de que falava no caso dos Sonic Youth já chegou aos Yo La Tengo há muito tempo. O falsete do Ira Kaplan é um bocado estranho, em "Sometimes I Don't Get You" também dá ares da sua graça. A verdade é que os Sonic Youth são uma banda de rock'n'roll e continuarão a ser. Sempre com aquelas guitarras distorcidas, aquela dissonância, as vozes pouco polidas, os harmónicos patenteados, enquanto os Yo La Tengo vão buscar inspiração a estilos dos anos 60, à pop e ao soft-rock, com bocados de bossanova ou surf-music aqui e ali. Funciona realmente bem com eles, escrevem melodias mesmo bonitas e algumas óptimas canções, mas não sei se este novo disco é o que eu queria deles. Mais uma vez, é só à primeira audição. Em termos de casais quarentões do rock, continuo a preferir o Rather Ripped este ano, mesmo que, fora deste disco, os Yo La Tengo tenham das minhas canções favoritas de sempre. E isso é um bocado difícil de ignorar.
1 comentário:
Tenho pena que os Yo La Tengo nunca tenham tido uma projecção ao nível dos Sonic Youth.
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