Não me lembro, e já passaram 6 meses, de este ano ter estado tão excitado por ver uma banda como estava ontem para ver os Deerhoof. Mas tinha também um certo desgosto pelo azar com que todos apanhámos por Chris Cohen ter saído da banda há muito pouco tempo. E duas guitarras nunca podem ser apenas uma guitarra, só em certos casos, por isso perde-se sempre um bocado, especialmente se a banda ainda não estiver habituada a tocar como um trio e não um quarteto.
Há uma girafa embalsamada - se for mesmo uma girafa é algo repugnantemente vil e cruel - no meio da pista de dança do Lux, à qual já não ia há alguns meses e que foi recentemente remodelada. Nem parece o mesmo espaço. Tirando a inexplicável girafa lá no meio, até é um bom espaço, acolhedor e simpático.
Parece que os Lobster são uma boa banda de abertura, mas merecem menos do que 45 minutos. Têm poder e força, mas não pude deixar de me aborrecer de morte lá para o meio. Felizmente ainda tinham um ou dois truques na manga que acabaram por compensar mais ou menos. O guitarrista toca no meio do público e não tenho propriamente nada contra isso, só torna a coisa um bocado difícil de ver e assimilar, mas também não estraga muito. Já não querem ser só os Lightning Bolt, o que é muito bom, porque também não têm sensibilidade pop para escrever um "Dracula Mountain". A guitarra sempre suja e a bateria sempre a partir podem dar coisas muito simpáticas, numa coisa que se distancia imenso dos Fish & Sheep, talvez por ter muito menos improviso, mas que pode resultar em algo igualmente catártico. Só não é bom para ver durante muito tempo.
A Satomi Matsuzaki tem, no máximo, um metro e meio. O ar japonês não engana ninguém, só faltava uma farda e podia ser uma colegial de 6 anos. Apeteceu-me, não sei porquê, dizer-lhe que ela era a minha heroína pessoal. Se calhar é, da voz aguda de criança à postura em palco, a fazer aeróbica com o baixo na mão, a abrir as pernas e a saltar, a fazer aqueles gestos coreografados divertidíssimos, a armar-se em crooner de jardim-escola a cantar para um coelhinho, tem tudo para ser um exemplo a seguir por mim. Ela limitou-se a agradecer, com um sorriso falso e cordial nos lábios daqueles que só os asiáticos sabem fazer, com a cabeça a abanar para cima e para baixo.
John Dieterich é o melhor guitarrista do mundo. Greg Saunier é o melhor baterista do mundo. O primeiro adora fazer caretas enquanto nos dá aqueles riffs e aquelas melodias, as mais bonitas, doces e açucaradas de sempre, a abrir a boca, a mexê-la, como quem está a domar a guitarra, mas também sabe arranhá-la quando é preciso mostrar aos Lobster quem manda nesses campos barulhentos. O segundo também adora caretas, tem uma t-shirt que deve ser a parte dois da capa do Milk Man, com o desenho de um monstro horrendo feito de fruta e outras coisas. Adora ritmos estranhos e peculiares, mas que se entranham na cabeça de uma forma especial, cheios de apelo pop.
Estava realmente feliz por estar ali, conhecia quase todos os temas, especialmente porque foram buscar na maioria na maioria das vezes canções aos três discos que conheço melhor, Apple O', Milk Man e Runners Four. "Flower" estava numa versão diferente da que está em disco, talvez pela falta de Chris Cohen, ou por a banda pura e simplesmente se ter fartado de tocar como estava, mas não resulta assim tão bem. É só Satomi a dizer "flower flower flau ooh aah", e perde um bocado de forma diferente. As coisas que soaram melhor foram as de Runners Four, talvez por ser o último disco, por serem mais recentes, mas também talvez por a banda ter atingido uma certa maturidade (Apple O' tem as melhores melodias, Milk Man os melhores riffs e Runners Four as melhores canções).
Já não se fazem bandas assim, nem se podem fazer, sempre a mudar, sempre com novas ideias (a Eurovisão em Green Cosmos, os jogos de vídeo em Se Piangi Se Ridi, etc.). Sabem ser experimentais e pop ao mesmo tempo, juntar canções e barulho quando é preciso, sabem ser doces e amargos e sabem entreter. E sei que, como hoje acordei e tive vontade de ir para a escola a ouvir o Murray Street dos Sonic Youth, os Deerhoof serão sempre uma das bandas a que eu recorrerei quando quiser, quando me apetecer, a razão pela qual acordo de manhã e a razão pela qual volto para casa todas as tardes ou noites ou assim. As batidas do monstro da bateria e os riffs do homem constantemente boquiaberto estão sempre na minha cabeça, bem como a voz e o baixo da japonesa quase anã que gosta muito de dançar levantado as pernas e mostrando as meias de criança e os ténis Vans amarelos. Os Deerhoof sabem criar melodias viciantes e boas e transformá-las em canções, e mesmo que não o façam - só o fazem constantemente agora a partir de Runners Four - dão sempre brincadeiras interessantes com refrões e versos viciantes e todas aquelas partes ruidosas. É por isso, por serem a melhor banda pop da actualidade, foram escolhidos, no passado, para abrir para os Wilco e, no presente, para abrir para os Radiohead. Porque nenhuma destas bandas se pode contentar com pouco e os Deerhoof têm muito para dar.
Há uma girafa embalsamada - se for mesmo uma girafa é algo repugnantemente vil e cruel - no meio da pista de dança do Lux, à qual já não ia há alguns meses e que foi recentemente remodelada. Nem parece o mesmo espaço. Tirando a inexplicável girafa lá no meio, até é um bom espaço, acolhedor e simpático.
Parece que os Lobster são uma boa banda de abertura, mas merecem menos do que 45 minutos. Têm poder e força, mas não pude deixar de me aborrecer de morte lá para o meio. Felizmente ainda tinham um ou dois truques na manga que acabaram por compensar mais ou menos. O guitarrista toca no meio do público e não tenho propriamente nada contra isso, só torna a coisa um bocado difícil de ver e assimilar, mas também não estraga muito. Já não querem ser só os Lightning Bolt, o que é muito bom, porque também não têm sensibilidade pop para escrever um "Dracula Mountain". A guitarra sempre suja e a bateria sempre a partir podem dar coisas muito simpáticas, numa coisa que se distancia imenso dos Fish & Sheep, talvez por ter muito menos improviso, mas que pode resultar em algo igualmente catártico. Só não é bom para ver durante muito tempo.
A Satomi Matsuzaki tem, no máximo, um metro e meio. O ar japonês não engana ninguém, só faltava uma farda e podia ser uma colegial de 6 anos. Apeteceu-me, não sei porquê, dizer-lhe que ela era a minha heroína pessoal. Se calhar é, da voz aguda de criança à postura em palco, a fazer aeróbica com o baixo na mão, a abrir as pernas e a saltar, a fazer aqueles gestos coreografados divertidíssimos, a armar-se em crooner de jardim-escola a cantar para um coelhinho, tem tudo para ser um exemplo a seguir por mim. Ela limitou-se a agradecer, com um sorriso falso e cordial nos lábios daqueles que só os asiáticos sabem fazer, com a cabeça a abanar para cima e para baixo.
John Dieterich é o melhor guitarrista do mundo. Greg Saunier é o melhor baterista do mundo. O primeiro adora fazer caretas enquanto nos dá aqueles riffs e aquelas melodias, as mais bonitas, doces e açucaradas de sempre, a abrir a boca, a mexê-la, como quem está a domar a guitarra, mas também sabe arranhá-la quando é preciso mostrar aos Lobster quem manda nesses campos barulhentos. O segundo também adora caretas, tem uma t-shirt que deve ser a parte dois da capa do Milk Man, com o desenho de um monstro horrendo feito de fruta e outras coisas. Adora ritmos estranhos e peculiares, mas que se entranham na cabeça de uma forma especial, cheios de apelo pop.
Estava realmente feliz por estar ali, conhecia quase todos os temas, especialmente porque foram buscar na maioria na maioria das vezes canções aos três discos que conheço melhor, Apple O', Milk Man e Runners Four. "Flower" estava numa versão diferente da que está em disco, talvez pela falta de Chris Cohen, ou por a banda pura e simplesmente se ter fartado de tocar como estava, mas não resulta assim tão bem. É só Satomi a dizer "flower flower flau ooh aah", e perde um bocado de forma diferente. As coisas que soaram melhor foram as de Runners Four, talvez por ser o último disco, por serem mais recentes, mas também talvez por a banda ter atingido uma certa maturidade (Apple O' tem as melhores melodias, Milk Man os melhores riffs e Runners Four as melhores canções).
Já não se fazem bandas assim, nem se podem fazer, sempre a mudar, sempre com novas ideias (a Eurovisão em Green Cosmos, os jogos de vídeo em Se Piangi Se Ridi, etc.). Sabem ser experimentais e pop ao mesmo tempo, juntar canções e barulho quando é preciso, sabem ser doces e amargos e sabem entreter. E sei que, como hoje acordei e tive vontade de ir para a escola a ouvir o Murray Street dos Sonic Youth, os Deerhoof serão sempre uma das bandas a que eu recorrerei quando quiser, quando me apetecer, a razão pela qual acordo de manhã e a razão pela qual volto para casa todas as tardes ou noites ou assim. As batidas do monstro da bateria e os riffs do homem constantemente boquiaberto estão sempre na minha cabeça, bem como a voz e o baixo da japonesa quase anã que gosta muito de dançar levantado as pernas e mostrando as meias de criança e os ténis Vans amarelos. Os Deerhoof sabem criar melodias viciantes e boas e transformá-las em canções, e mesmo que não o façam - só o fazem constantemente agora a partir de Runners Four - dão sempre brincadeiras interessantes com refrões e versos viciantes e todas aquelas partes ruidosas. É por isso, por serem a melhor banda pop da actualidade, foram escolhidos, no passado, para abrir para os Wilco e, no presente, para abrir para os Radiohead. Porque nenhuma destas bandas se pode contentar com pouco e os Deerhoof têm muito para dar.
1 comentário:
Adorei o concerto deles no Porto Rio. Fiquei a gostar ainda mais deles.
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