quinta-feira, julho 26, 2007

How did this bitch get the remix?

Uma das piores actividades de quem escreve sobre o que quer que seja é transcrever entrevistas. Especialmente as que, como é o caso, demoram mais de uma hora. É uma tarefa extremamente aborrecida e, quando não há grande urgência, tem-se sempre tendência a adiar. Aconteceu-me isso com a entrevista que fiz ao Kyp Malone há quase duas semanas, que será publicada talvez na segunda ou assim, não sei, não vou estar cá para ver. Vou para Inglaterra amanhã. Não sei porquê, mas costumo assinalá-lo sempre que vou lá. No ano passado fi-lo, mas foi depois. Vou ver Os Mutantes, que não vi cá, porque é com muito mais coisas (com o Diplo, os Bonde do Rolê e a Amanda Blank). É só para dizer que fui a um concerto em Londres, a minha vontade de ver Os Mutantes não é assim tão grande, depois de ter visto as fotografias deles no Ípsilon e no New York Times na semana passada. Estão velhos. Mas a Amanda Blank é uma rapper que me parece divertida, pelo menos as rimas em canções dos Spank Rock ("Bump") e dos Plastic Little ("Crambodia", podia jurar que o sample é d'Os Mutantes, mas não tenho certezas, soa mesmo a isso) são muito apreciadas por mim, mesmo que ela não tenha um estilo muito idiossincrásico e se limite a dizer coisas porcas. É a maneira como ela faz que salva tudo, acelerando o discurso a meio, etc. Deve dar um espectáculo interessante, mesmo que eu não conheça absolutamente nada dela que não seja essas duas canções ("My rhymes are painfully fresh / my pussy's tastin' the best" está ao nível do "My Neck, My Back" da Khia, com "All you ladies pop yo' pussy like this" e "Do it now, lick it good, suck this pussy just like you should"). Deve ser divertido. Espero que seja divertido.

quarta-feira, julho 25, 2007

The Kings of Comedy

Três comediantes no mesmo vídeo. O Sasha Frere-Jones da New Yorker dizia, na Slate Magazine sobre o Kanye West, quando saiu o College Dropout, que ele era um comediante. Um entertainer é certamente, mas é uma noção interessante na mesma. Acontece que "Can't Tell Me Nothing" não é uma canção assim tão boa (nem assim tão má quanto eu pensava). Habituei-me a ela, o refrão é bom e cantarolável e já nem me importo muito com isso. Apareceu, no site dele, um novo vídeo para ela. É magnífico. Para além do comediante que fez a canção, outros dois aparecem, dois donos das melhores barbas do mundo: Zach Galifianakis e Will Oldham. O Will Oldham não tem barba aqui, escolhe apenas as patilhas e o bigode que dão sempre um bocadinho de classe à sua cara, mas quem não acha que ele é um comediante nunca o viu ao vivo. Quase melhor do que a música é o que ele diz quando não está a tocá-la, um tipo cheio de piada. No meio do campo e com dançarinas adolescentes, o Zach Galifianakis canta a letra com uma cara séria e o Oldham faz parvoíces com ele. É bastante divertido.

terça-feira, julho 24, 2007

The Darjeeling Limited

Adoro o Wes Anderson. Todos os filmes dele são estupendamente bons, não gosto assim tanto tanto do Bottle Rocket, mas o resto é magnífico. The Darjeeling Limited é o quinto filme do homem e o trailer já apareceu na internet. Topa-se, logo nas primeiras imagens, que é um filme dele (até quando entra a música), talvez mais facilmente do que qualquer outro realizador actual. O Jason Schwartzman (com bigode, boa escolha), o Adrien Brody e o Owen Wilson são irmãos que atravessam a Índia e se reencontram. A família é sempre importante no Wes Anderson, e isto parece-me muito, muito bem, como tudo o que ele fez até hoje. Uma das melhores presenças dos filmes dele, tirando o Life Aquatic With Steve Zissou, é o Kumar Pallana, um actor indiano que era o dono do café no Texas onde o Wes Anderson e o Owen Wilson iam. Era uma boa ideia fazer um filme na Índia sem o indiano que ele põe nos filmes, mas seria realmente bom que ele voltasse aos filmes do tipo. É que a forma como ele diz "You son-of-a-bitch!" é quase poesia.

segunda-feira, julho 23, 2007

Jeff Tweedy e a parte mais importante do Conan

Ontem, no New York Times (não vai durar muito tempo, mas é muito boa)), publicaram uma lista de discos recentes dos quais o Jeff Tweedy gosta. Entre eles, Grizzly Bear e Battles. É estranho pensar que deixei os Grizzly Bear a meio para ver os Wilco e que perdi o início dos Battles para ver o fim dos Wilco no Primavera Sound. Dr. Dog, Grizzly Bear, Battles, A Hawk and a Hacksaw e Panda Bear (não é assim tão difícil saber coisas sobre os Animal Collective, Sr. Tweedy). E há esta frase: "I’m probably the only person that wanted to be a rock critic and failed at it and started a band." E que banda. E isto não vinha na biografia dos Wilco que eu comprei e li. Que desperdício de tempo.
A parte mais importante da tal entrevista do Conan é esta:

But the great thing about The Simpsons for me personally is that for the last 14 years of doing my show, I've been working hard on this comedy, but it's pretty disposable. I could light my arms on fire on the show tonight and you might see it for a couple of days on YouTube, but then it's gone.

I'm constantly, no matter where I go in the world, running into people who know which episodes of The Simpsons I worked on, and they're quoting lines to me. I think long after my Late Night show is gone, I feel like the Simpsons episodes I worked on will always be in the ether. People will be watching them on some space station, like, 200 years from now. That's a nice feeling. It's always gonna be there. It's something I'm really proud of. I'm always going to be connected to these people, and every couple of years I'll get to talk about it, and think about it, and it's fantastic.

With the radio on

Esta semana saiu no Guardian um artigo de uma repórter que foi à procura dos sítios que o Jonathan Richman menciona na canção Road Runner dos seus Modern Lovers. Soa muito melhor do que é realmente, mas é sempre uma boa oportunidade de recordar o quão boa é a canção e do quão genial é o Richman. Por que raio foi ele só tocar meia-hora em Barcelona transcende-me. Espero mesmo que ele venha cá em Fevereiro ou lá o que é.
A Vanity Fair cobre o lançamento do filme dos Simpsons com um artigo daqueles grandes e bons que eles fazem e um top dos melhores episódios de sempre (o número um é magnífico, com os Ramones a cantarem os parabéns ao Mr. Burns dizendo que ele é velho, o que leva a que ele peça para o Smithers matar os Rolling Stones, devo tê-lo visto, sem exagero, mais de 20 vezes, tinha-o gravado em VHS, para além de um com um ladrão de casas idoso e do Stampy, o elefante do Bart) Há também uma óptima entrevista curta (em relação ao resto) ao Conan O'Brien, que é basicamente uma versão expandida das citações dele que aparecem no artigo maior, uma história oral com algumas das pessoas envolvidas na criação da série, mesmo que Matt Groening, James L. Brooks e Sam Simon estejam de fora. Uma boa parte da história vinda de um grande, grande senhor:

I pleaded with Matt and advised him strongly from my elder-statesman position to not work with Fox. "Whatever you do, don't work with those guys! They're gangsters! They're gonna take your rights away!" He's never let me forget it.

O Finding Forever do Common é óptimo: "The Game" é um grande, grande single e "Drivin' Me Wild" também será. Este e o Ear Drum do Talib Kweli são óptimos discos de MCs "conscientes" ou lá o que é. Falta o Graduation do Kanye West e o novo do Lupe Fiasco e esta família fica toda completa (não que o Kweli pertença realmente a ela, só até certo ponto).
Ao ver o novo vídeo dos Travis (óptimo vídeo, canção medíocre, o vocalista soa como a Crissie Hynde, o que é estranho, e o vídeo tem o grande Demetri Martin a despir todas as t-shirts com dizeres que acompanham a letra que tem vestidas), lembrei-me de que hoje descobri que o Zach Galifianakis (que fez uma das minhas coisas favoritas de sempre, uma das maneiras mais brilhantes de acabar um especial de comédia) e a Sarah Silverman (o facto de o Sarah Silverman Program nunca ter sido comprado pela SIC Radical só pode querer dizer que aquela gente está morta ou pelo menos adormecida) aparecem no pior filme de sempre, que eu até vi no cinema na altura (não tinha nada melhor para fazer, gostava de dizer que hoje em dia já tenho, mas não, continuo a não ter): Heartbreakers. Mas só vi um bocado, a barba do Galifianakis já era boa na altura, mas podia ser melhor. Leva para aí um 3 em 5 por causa do esforço. Às vezes sinto, quando estou a ver coisas ou do Galifianakis ou do Martin, que piadas sem muitos conectores entre elas não é a melhor forma de comédia, mas o que eles fazem com o formato ao vivo é estupendo e a criatividade que têm para fazer outras coisas, como tocar piano ou guitarra, usar escritos, trazer gente de fora, etc. Para além do mais, gente como Steven Wright e o Emo Philips sempre foi grande a fazer isso mesmo (claro que com estilos obviamente totalmente diferentes e idiossincrásicos) e nenhum mal vem ao mundo por causa disso.
Vi o Death Proof hoje e gostei, mas teria gostado bastante mais se tivesse chegado a tempo de ver o início e se fosse o Grindhouse todo. O diálogo é óptimo e é sempre magnífico ouvir o que o Tarantino dá aos seus actores para dizer. Por muito que gire à volta do mesmo e que siga uma fórmula, é sempre excelente entretenimento. É giro ver como ele evoluiu do Reservoir Dogs (que tem apenas uma mulher, a que tenta matar o Tim Roth) para isto, onde muitas e muitas mulheres se defrontam com o Kurt Russell. Mas é difícil ver isto sem ver o Planet Terror do Rodriguez. Desde que li sobre isso no New York Times em Janeiro que fiquei completamente ansioso pela chegada do filme cá, e saber que nunca chegará é bastante mau. Sobre o diálogo, guardei algures isto desse mesmo artigo, que já não dá para ler online:

Mr. Tarantino called his female characters’ dialogue, which simultaneously evokes both “Sex and the City” and teenage girls’ MySpace profiles, “some of the best dialogue I’ve ever written in my life.” After finishing the script he sent it to Bob Dylan, because he thought Mr. Dylan “would appreciate the wordplay.” He has not yet heard back.

domingo, julho 15, 2007

"Orchestral shit"

I’m making songs, nigga, songs that you can have Carnegie Hall play one day, I’m making songs that you can write out on a piece of paper and give it to another band, and they’ll do it. - RZA, na Urb

Depois de uma semana bastante atarefada (dois sets de CIMENTO., o Dancestation - o Will Ferrell seria a melhor pessoa para fazer de Nic Offer dos !!! num possível biopic, não? -, o Kyp Malone no Lounge e em entrevista no dia a seguir - melhor pessoa de sempre? -, textos, etc.), leio isto da Urb e fico à espera do 8 Diagrams. Não só por isto, mas há-de ser bom, mesmo que o Ghostface não apareça e o ODB esteja morto (ele também não fez nada nos últimos discos). Vi o Science of Sleep ontem e cada vez gosto mais do Michel Gondry. Não consigo deixar de pensar no que o Charlie Kafuman faria se tivesse escrito o argumento, mas mesmo assim é óptimo. O próximo supostamente tem o Mos Def e o Jack Black como melhores amigos e, mesmo que eu pensasse muito - e acho que até já disse isto bastante veezs -, não arranjaria par melhor (por acaso há dois anos arranjaram, o Mos Def e o Elvis Costello, mas foi só um cameo no Talladega Nights).

quinta-feira, julho 12, 2007

Mas é necessário dizê-lo

Os Panic! At The Disco continuam a ser francamente maus, bem como os Gym Class Heroes, duas bandas que me fizeram inflacionar o preconceito contra os Fall Out Boy.

terça-feira, julho 10, 2007

My Chemical Romance e uns vídeos

Ouvi, finalmente, The Black Parade. Parece-me um bom disco, fácil de gostar, que não justifica, de todo, ódios desmesurados. Boas canções, boas melodias, óptimos singles - até aqueles de que não gostava não soam nada mal...adoro os Modest Mouse, são uma das minhas bandas favoritas dos anos 2000, desde o The Moon & Antarctica que têm uma sucessão de óptimos discos (também são só mais dois), inclusivamente o deste ano, com o Johnny Marr (guitarrista de uma das minhas bandas favoritas, que também parece ter influenciado os MCR). Há muita coisa por aqui que navega pelos mesmos campos, a temática da morte e tal, só que sem letras boas. Até há momentos que soam a Modest Mouse ("Mama" até parece uma do novo, o que, tendo em conta que este disco é de 2006, é estranho, até o que o tipo canta, "Mama, we're all gonna die", podia ser MM). O pior dos My Chemical Romance são as letras, quase sempre horríveis, mas, tirando isso, do swing de big band da primeira metade do século XX de "House of Wolves" às bandas de marcha de "Welcome to the Black Parade" (cada vez gosto mais da canção toda e não só do refrão e da ponte que quando se sobrepõem é magnífico), isto é manifestamente bom. Hoje vou ver se tento os Fall Out Boy, para continuar na minha descoberta desta gente.
Li no New York Times no próprio dia mas não liguei muito. Também acho que não acabei de ler, mas os Boredoms, em pleno dia do Live Earth (acho que só vi os Police com o Kanye West e o John Mayer, foi horrendo, e eu lembrava-me de os Police serem bons), fizeram um concerto grátis com 77 bateristas. 7/7/7, 77 bateristas. A lista é extensa e tem muita gente boa, como malta dos Gang Gang Dance, dos Oneida, dos Modest Mouse, dos Lightning Bolt, etc. Tudo boa gente de boas bandas daquela zona e de outras zonas. Até o Jim Black, que julgo já ter visto tocar com o Carlos Bica (faz parte da formação Azul), estava lá, a não ser que haja dois Jim Black bateristas, o que também é possível. O Andrew W.K., esse idiota, por amor de Deus, esteve lá, deve ter ido vestido de branco e feito um discurso no início, motivador do caraças. Há uns vídeos disso no YouTube e na Pitchfork, e isto parece-me muito bem, e muito menos chato do que devia ser (para chatice de bateristas, ouvir Bumps, a banda dos três bateristas de uma das melhores bandas do mundo, o Dan Bitney, o John McEntire e o John Herndon dos Tortoise).
Para continuar em vídeos da Pitchfork (há coisas muito boas no Forkcast, apesar de eu já não ler textos da Pitchfork há mesmo muito tempo), Girl Talk no festival de jazz de Montréal. O meu herói. Ele tem um suporte para o laptop e vai para o meio da rua fazer a festa. É criminoso ele nunca ter vindo cá. Criminoso.
Zach Hill, dos Hella, não foi um dos bateristas convidados pelos Boredoms, mas toca no disco da Marnie Stern, que é as Sleater-Kinney reencarnadas cruzadas com o Eddie Van Halen. Tapping hipnótico na guitarra, com boas canções. Cada vez gosto mais do disco, memso não ligando muito ao fim e à faixa em que ela descreve uma viagem. Nunca pensei muito nisso, fui ouvindo desde há uns meses, e tem coisas realmente boas. Também há uns vídeos bons no YouTube dela a tocar com ele agora que deixou de vez (e ainda bem) o IPod (ela tocava com um IPod em vez de um baterista). Este é o tipo de coisa que podia ir a Paredes de Coura, mas certamente que teremos duas ou três bandas que são a enésima "revitalização" do som "pop puro" dos "anos 80", ou seja, "o futuro", apesar de estarmos a quase um mês do festival e o cartaz não estar, de todo, fechado.

segunda-feira, julho 09, 2007

It's a goddamned arms race

Há algum tempo, talvez há um ano, costumava pensar que todas as bandas de emo new school eram horrendas. Algumas são. Gym Class Heroes ainda é das piores bandas de sempre, que não haja dúvidas disso. E deve ter sido por causa deles que inflacionei o meu ódio pelos Fall Out Boy, visto serem protegidos dele. Nunca ouvi discos de nenhumas destas bandas, mas, pegando nos singles mais recentes dos My Chemical Romance, a partir de "Welcome to the Black Parade" e até "Teenagers", e no "This Ain't A Scene, It's an Arms Race" dos Fall Out Boy, há que admitir algumas coisas.
"Welcome to the Black Parade" tem duas partes óptimas, para além da guitarra à Queen que passa por todo o lado, o refrão "We'll carry on" é bastante bom e a ponte lá para o fim que se sobrepõe a ela também. O resto não é tão bom, mas também não é mau e essa espera vale muito a pena para chegar àquilo. "This Ain't a Scene" teve direito a uma remistura bastante má do Kanye West (eles são amigos do Jay-Z e até tiraram coisas do início do "Takeover": "The takeover, the break's over") e a canção, no geral, não é grande coisa. Tem algo a ver com o arranjo, a ponte (que é quase um primeiro refrão) poderia funcionar se estivesse tocado de outra forma, mas não funciona. O refrão com "I'm a leading man" é incrível, um óptimo momento pop para qualquer banda do mundo. Seria melhor se a letra fosse como a entendi da primeira vez que a ouvi, ou seja, "I'm a leading man, I'm so emo, I'm so intricate", mas não é (é "the lies I weave are so intricate, pelos vistos").
Estas bandas têm canções com partes muito boas e outras não tanto, e gostam bastante disso, de usar muitas partes diferentes, como se pertencessem a várias canções - podiam ser feitas várias canções a partir das várias partes -, e isto tem sempre resultados variáveis, havendo partes boas e partes más. Em "Teenagers", os My Chemical Romance apercebem-se de que seria impossível chegar ao nível do refrão e, portanto, a canção é basicamente a mesma melodia repetida, um pouco mais baixa e com uma ou outra alteração no verso e alta no refrão. E é gloriosa, um single óptimo, com um refrão extremamente cantarolável para muita gente (um singalong, como se diria em americano), que no fim até tem cowbell a marcar o tempo. "Teenagers scare the living shit out of me".
Claro, a maquilhagem e o baixista dos Fall Out Boy ainda são elementos a desprezar por qualquer pessoa do mundo, bem como as legiões de fãs de ambas as bandas. Mas parece-me que há aqui muito bons elementos, coisas que poderiam ser muito boas canções, e que esta gente não é, de todo, parva. Os Fall Out Boy parecem passar a vida a gozar com eles próprios, e, no geral, esta gente não se leva muito a sério. E ainda bem.

sexta-feira, julho 06, 2007

Um título que não refere o SBSR

Gosto muito da Beth Ditto. Ela tem pinta e tem uma boa coluna no Guardian ("What would Beth Ditto do?", em que responde a perguntas dos leitores e dá conselhos). Só não me peçam para gostar da música dos Gossip mais do que cinco minutos seguidos. É sempre a mesma coisa, uma versão do George Michael e outra da Aaliyah ficam bem, mas era interessante haver mais canções do que apenas aquela do "whoa-whoa-whoa".
Os TV On The Radio são a melhor banda do mundo a par dos Wilco e de mais algumas outras bandas e o Kyp Malone é a pessoa mais importante de sempre. Já vi coisas muito boas em 20 anos de vida, mas nada se compara à barba dele. A sério, é monumental, então agora que tem barba mais comprida que o cabelo. Nunca mais a faço. Sinceramente, são uma óptima banda ao vivo, mas preferia vê-los com mais tempo e talvez mais pica da parte deles. É bom, muito bom, mas não é excelente. Ainda assim, vale a pena lembrarem-se de que têm um EP de 2003 - "Young Liars" e "Satellite" funcionam estupidamente bem - e um disco de 2004. "Staring at Sun", o final, foi absolutamente perfeito, mesmo que a voz de Tunde Adebimpe não estivesse suficientemente alta, ou os teclados não se ouvissem e o som, no geral, estivesse mau.
Quem é que são os Scissor Sisters para além de uns tipos que tornaram uma canção foleira dos Pink Floyd em algo ainda mais foleiro mas finalmente divertido? Os Interpol têm umas cinco canções boas, quase todas do primeiro álbum, e um ou outro single interessante. Mais que isso é esticar muito, o que faz com um concerto deles, ainda por cima como cabeças de cartaz (ou não, na melhor hora, pronto), seja algo bastante aborrecido, tirando um outro momento. Voz interessante, alguns riffs giros, uma ou outra letra que fica na cabeça, mais nada. E quem é que são os Underworld para além de uns gajos que fizeram uma canção para o Trainspotting há mais de dez anos?
E com isto quebro a minha anti-cobertura do SBSR. Peço desculpa.

quarta-feira, julho 04, 2007

Super Bock Super Rock, previsão para o segundo dia do segundo acto

Não, também não vou, mas há boas notícias: os Rapture foram cancelados. Antes de alguém sequer saber que os LCD Soundsystem existiam, há cinco anos, os Rapture eram uma banda de singles óptimos que ainda hoje são clássicos das pistas de dança. Quem disser que "House of Jealous Lovers" não é das melhores que James Murphy produziu está a mentir. Se os LCD Soundsystem nunca tivessem existido, esse disco dos Rapture - que não era, de todo, um grande disco do início ao fim, apesar disso - e a existência da DFA - especialmente das remisturas - garantiria ao James Murphy um lugar na música do início dos anos 2000. Claro que o segundo disco era aborrecido, tirando o single, e a pior coisa que o Danger Mouse produziu na vida, provavelmente. Tornaram-se tremendamente banais, sem terem capacidade para fazer uma coisa mais convencional. Mesmo assim, devem ser bons ao vivo, daí ser uma boa notícia.
O Sly Stone vai voltar e há uma reportagem de sete páginas na Vanity Fair de Agosto sobre isso. É do David Kamp, que passou anos e anos a tentar encontrá-lo. Tem o seguinte excerto, que não tem interesse musical absolutamente nenhum mas é bastante interessante:

The obvious allusion to the current war jars me, and I soon realize why: Stone has been absent from the scene for such a duration that it's hard to imagine that he was with us all along, experiencing all the things we experienced over the years—the fall of the Berlin Wall, the collapse of the Soviet Union, Nelson Mandela's release from prison, the rise of the World Wide Web, the attacks on 9/11, the invasion of Iraq. It's almost as if he went into a decades-long deep freeze, like Austin Powers or the astronauts in Planet of the Apes. Except he didn't. "Did you do normal-person things?" I ask about the missing years. "Did you watch Cheers in the 80s and Seinfeld in the 90s? Do you watch American Idol now? Do you have a normal life or more of a Sly Stone life?"

"I've done all that," he says. "I do regular things a lot. But it's probably more of a Sly Stone life. It's probably … it's probably not very normal."


É uma boa leitura, como costumam ser os artigos longos da Vanity Fair.

Arcade Fire no Super Bock Super Rock, o rescaldo

Não, não, não e não. Achei que era um bom título, tendo em conta o dia e a hora, mas não estive lá. Estive lá em Paredes de Coura em 2005 e foi muito bom. Agora, pura e simplesmente, não me apeteceu. Seria, admito, bastante bom ver aquilo tudo, gosto do Neon Bible e gosto do Sound of Silver, portanto, em termos de bandas que já vi, seria bom repeti-las. Depois há o caso dos Jesus & Mary Chain, mas os irmãos Reid não têm 50 e tal anos e odeiam-se? Li uma reportagem no Guardian sobre isso, um deles vive nos EUA e tem um aparelho que faz com que comande a televisão da mãe. Deve ser divertido. Estarei lá, contudo, no último dia, e é basicamente isso.
Melhor que todas essas coisas há-de ser o melhor artigo do mundo. Encontrei-o e passei a noite a usufrir dele. Há muito que digo e penso que o YouTube tem uma função principal, que é a de ver vídeos dos Wu-Tang Clan e dos seus membros a solo. Não há mais nenhuma, é basicamente essa. É que há tantos e tantos que antes de aquilo se ter popularizado era horrível procurá-los. O YouTube veio, desta forma, a mudar completamente o mundo. Foi essa a grande revolução.
O artigo é da Urb e é um top dos 20 melhores vídeos do Clan. Se existe melhor maneira de passar uma noite, não a conheço. Ol' Dirty Bastard, como disse o RZA no VH1 Hip-hop Honors 2006, era a personificação da liberdade. Completamente chanfrado, idiota, mal-educado, basicamente uma pessoa muito má. Mas tal como outras pessoas muito, muito, muito más, um dos maiores entertainers de sempre.
É por isso que "Build Me Up", do Rhymefest, é a melhor canção do ano passado. Nem conta como canção, é basicamnete uma carta de Rhymefest para o Além, para perguntar ao Ol' Dirty como é que se conquista uma miúda. O refrão é apenas o ODB a cantar extremamente desafinado "Build Me Up" dos Foundations, canção em que todos os fãs de comédia do mundo pensam quando se fala do There's Something About Mary quando deviam pensar no Jonathan Richman. As oscilações da voz dele e a produção do Mark Ronson (génio, apesar do que fez aos Smiths, na minha mente o mundo organiza-se da seguinte forma: pode samplar-se e versionar-se tudo, menos os Smiths, muito menos com um gajo com um cabelinho daqueles a cantar) transformam-na numa coisa magnífica, algo que devia ter sido um single e um êxito em todo o mundo. Não conheço uma única pessoa (tirando a Joana) que consiga ouvi-la e detestar ou ficar-lhe indiferente. Essa canção e "Devil's Pie", do mesmo disco, do mesmo produtor, que sampla "Someday" dos Strokes, são das únicas canções que posso passar em sets e que toda a gente, mesmo que desconheça, adora.
Para além disto tudo, o Q-Tip vai rimar no novo disco do Clan, o que pode ou não ser uma coisa boa. Desde que engoliu mais balões de hélio que o 'Tip não faz grande coisa, ocupando-se a fazer êxitos internacionais com os Chemical Brothers e não chegando a lançar discos que têm coisas bastante boas como Kamaal The Abstract, mas que também têm música abjecta que envergonha todo o seu passado dos A Tribe Called Quest. Espero que o 'Tip não faça nada de errado, é daquelas pessoas que não deviam errar.

segunda-feira, julho 02, 2007

Yippee-ki-yay, motherfucker!

Die Hard. Fui vê-lo hoje e devo tecer breves considerações: o Justin Long é um coninhas; o Bruce Willis devia voltar ao wife-beater, devia haver mais cinquentões de wife-beater; os ingleses a fazer de alemães são os melhores vilões de todos os filmes e é impossível dar a volta a isso (a sério, Alan Rickman e Jeremy Irons, é impossível, Timothy Olyphant é mediano e do outro gajo que é guarda prisional naquele filme horrível em que o Sylvester Stallone é preso e o Donald Sutherland é o mau e este gajo sorri para ele no fim quando ele se vai embora pela primeira vez na vida e afinal é o mau que finge ser bom no 2); o Kevin Smith é o maior (gosto da maior parte dos filmes dele, mesmo sabendo que não são grande coisa e tendo eles coisas realmente estúpidas e parvas); há momentos de acção que suscitam sustos genuínos; tem o melhor "Yippee-ki-yay" de sempre. A destruição pura de tudo o que está à sua volta é algo belíssimo, especialmente quando um avião tenta matar John McClane que está a guiar um camião e vai destruíndo um viaduto que cai à medida que McClane passa. No outro dia no Guardian vinha um artigo sobre os danos materiais de Willis ao longo de toda a saga. Quem é que paga tudo?

Auto-promoção incrível



EDIT: A data do Mini-Mercado foi adiada para dia 11 de Julho.

domingo, julho 01, 2007

Girl Talk remistura Of Montreal ou como fazer do lançamento de um mp3 gratuito um acontecimento

Como alguém que já me tiver lido nalgum lado sabe certamente, Gregg Gillis é o meu herói pessoal. Um set ou um disco dele é basicamente uma grande parte do meu gosto musical num só sítio. O que ele faz com as canções dos outros é algo divinal, pega nas suas melhores partes e junta-as, sobrepõe-nas, de uma maneira que não é a mesma usada pelos produtores de hip-hop normal nem pelos produtores de hip-hop instrumental. Clássicos? "Juicy" do Notorious B.I.G. por cima do piano de "Tiny Dancer" do Elton John. "My Neck, My Back" da Khia por cima do piano de "Right Here Waiting" do Richard Marx ("Non-Stop Party Right Now", do seu disco Unstoppable, continua a ser um das coisas mais bem conseguidas de Girl Talk). E "Holland 1945" dos Neutral Milk Hotel alternado com "There It Go (The Whistle Song)" do Juelz Santana. É só o "1, 2, 1, 2, 3, 4" do Jeff Mangum e o assobio, mas chega e sobra para me pôr aos saltos. E, por falar em bandas Elephant 6, Gregg Gillis vai fazer uma remistura de "Gronelandic Edit" do último disco dos Of Montreal. Isto vinha na Pitchfork sexta-feira, só reparei agora.
É uma maneira óptima, num momento em que isso se perdeu completamente, de antecipar um lançamento que não é bem um lançamento. Toda a gente diz que, neste mundo de leaks e em que tudo está acessível a quem quiser, se perdeu a espera por um lançamento, por um disco. O último disco que me lembro de esperar realmente para ir comprar foi Midnite Vultures do Beck em 1999, quando tinha 12 anos. Depois fiquei desiludido porque para aí uma semana após isto acontecer descobri que havia uma edição em digipak, mais catita, mas, tendo em conta o tempo que já passou, acho que fiquei mais bem servido. Hoje em dia, se tivesse optado pelo digipak, já se teria deteriorado totalmente. Mas isso nunca fez parte da minha vida. Até certo ponto, é possível argumentar que se espera por um leak ansiosamente. Ou que se espera que um disco chegue pelo correio, como o último de Old Jerusalem ou o último do Sam The Kid, só acessível desta forma e neste contexto a quem recebe promos, ou o último do Dizzee Rascal, que encomendei. Mas esperar por um mp3 que aparecerá num site gratuitamente é algo que não acontece muito.
Gregg Gillis não é só o mestre dos mash-ups-canções, também é um remisturador incrível. "Let's Call it Off", dos Peter, Bjorn and John, era originalmente uma boa canção presa num arranjo sub-Yo La Tengo banal e até por vezes irritante. Nas mãos de Gillis - que tem um projecto para remisturas chamado Trey Told'Em, mas parece só usá-lo para melhorar canções de bandas desinteressantes como os Tokyo Police Club -, transformou-se num dos melhores singles do ano (ou do ano passado), com o melhor uso de steel drums desde "Wamp Wamp (What it Do)" dos Clipse e algo que devia ser um clássico das pistas de dança de todo o mundo. É por isso que não posso esperar pela remistura dos Of Montreal, cujo Hissing Fauna, Are You The Destroyer? parece ser o primeiro disco deles distribuídos cá e o mais recente numa sucessão absolutamente delirante de discos pop perfeitos que dura desde o Satanic Panic in the Attic de 2004, quando Kevin Barnes percebeu bem o que tinha a fazer, que não eram só canções perfeitas, eram também os arranjos perfeitos, o funk, os baixos e os falsetes.