domingo, maio 14, 2006

O relógio

Nunca pensávamos que Grant McLennan fosse morrer assim, pois não? Eu pelo menos não pensava. Numa noite de insónias, uma semana depois de Grant McLennan morrer, ponho-me a ouvir "The Clock", de The Friends of Rachel Worth. Uma canção óptima, com um excelente refrão: "Then the clock turns, and it's now, and it's you-ooh-ooh-ooh-ooh." Ainda me lembro de comprar este disco. Lembro-me de comprar muitos discos. Do momento exacto, com quem estava (ou não estava), onde foi, quando foi. Isso não acontece com mp3. Não me lembro de sacar mp3.
Recentemente só tem acontecido comprar discos novos com preços normais (mais de 15 euros) à confiança, sem ouvi-los primeiro em mp3, em dois casos, dois óptimos casos que me tirariam as insónias agora. O que não quer dizer que sejam chatos. O homónimo de Songs of Green Pheasant e 'Sno Angel Like You do Howe Gelb. Nunca fui grande fã do homem, mas da neve (o trocadilho "neve"-"não há") da capa àquela imagem em que está aquele senhor de barba, branco como tudo (acabei de fazer a minha porque não conseguia dormir) com um coro gospel por detrás e outro tipo branco de óculos de massa que é provavelmente o produtor. E a música também. Só falha na contracapa, com o tracejado à volta dele na praia. A voz dele é complementada de forma perfeita pelas vozes do coro. As canções são boas, simples, com guitarras bonitas, elementos simples, esparsos, e a verborreia típica de um contador de histórias americano com barba por fazer e uma camisa, só que sem as histórias. E até há um riso do coro, daquelas mulheres negras entroncadas que cantam "Paradise, Pa-ra-dise" quando Howe Gelb diz "Welcome to paradise".
E parece estar a vir o sono, ao som do Howe Gelb. Talvez não. Lembro-me perfeitamente de comprar este disco. Foi há pouco mais de um mês, por isso tenho desculpa. Mas continuo a lembrar-me de comprar The Friends of Rachel Worth, foi na primeira vez que fui à Carbono. Mas o relógio continua a "virar", e é agora, mas ainda não és tu. Porque não há um "tu".

Há o Howe Gelb e aquela gente toda. E podia ser muito pior.

1 comentário:

O Puto disse...

Tb compro discos às cegas, por vezes. Seja pela capa, por u ma ligação a algo familiar, por recomendação ou simplesmente por intuição. Mesmo que seja uma desilusão, fica a marca da espontaneidade. Continuo a gostar imenso de comprar CD's, apesar de não ser economicamente viável se fôr em excesso (se é que se aplica este conceito à música).
Gosto muito do disco de versões dos Giant Sand editado há uns anos.