sábado, maio 13, 2006

Memórias Musicais

Ontem, na ZDB, tinha à minha frente Rob Lowe, não o actor, mas o multi-instrumentista que é líder dos 90 Day Men, tem o projecto a solo Lichens e já tocou com os TV on the Radio (a melhor banda rock da actualidade). Ele foi-nos apresentado, a mim e a dois amigos, e perguntou-nos qual era o nosso disco de 90 Day Men favorito. Nunca tive grande afecto pelos 90 Day Men, lembro-me vagamente daquele vídeo que passava no Sol Música com os discos favoritos das pessoas, e, quando ele me perguntou, lembrei-me de estar sentado há dois anos num café do Bairro Alto que encontramos quando subimos para o Conservatório. Estava à espera de uma aula de trompete (era pura coincidência ser ao pé do Conservatório), porque era algo de que gostava, mesmo sabendo que não era muito bom e não tinha paciência para estudar o que era preciso para ser minimamente decente (pouco tempo depois desisti).
Estava a ouvir Panda Park, aquele que é ainda hoje o mais recente disco dos 90 Day Men. E lembro-me perfeitamente de pensar para mim próprio que aquilo era mesmo rock progressivo porque a voz era gloriosamente má. Não me lembro, contudo, de ter ouvido o disco depois disso. Um dia tenho de lá voltar. Mas voltemos à porta da ZDB. Éramos três e eu estava no meio e eles estavam a falar-lhe de como gostavam da banda dele, e ele começou a apontar para nós a pedir-nos os nossos discos favoritos dos 90 Day Men. Já tinha pedido a um e apontou para mim. Apressei-me a pensar nisto tudo, e, em centésimos de segundos, cheguei à resposta: Panda Park. E agora tenho o piano da primeira faixa da cabeça, apesar de não ouvir aquilo há mais de dois anos. Depois, e apesar da simpatia do homem, adormeci durante o concerto dele. Mas a culpa não foi bem dele, foi das cadeiras, de estar na primeira fila e de ter dormido pouco. Ele cantava e fazia loops com a sua voz, fazendo camadas de drones vocais que depois complementava com sinos. Depois tocava guitarra de 12 cordas só com 6 cordas, donde saíram alguns dos sons mais bonitos da noite (daí e dos xilofones dos Musgo).
Há bocado estava a ouvir Secret Rhythms 2, de Jaki Liebezeit e Burnt Friedman, e fui instantaneamente transportado (não foi bem instantaneamente, foi algures depois de "The Librarian", a única canção do disco, pelo menos a única cantada, ainda por cima pela voz de David Sylvian) para os corredores do Atrium Saldanha há quatro anos. Um amigo (curiosamente, agora porteiro da ZDB) tinha-me gravado Ramda, dos Mice Parade quando os Mice Parade ainda não eram uma banda e ainda não eram chatos e eram só o projecto do Adam Pierce. Ia todas as segundas-feiras ao cinema sozinho, ao Cine-Estúdio 222, só porque sim, não tinha mais nada para fazer e ia à confiança, como ainda faço na ZDB, metia-me no autocarro às 10 para as 4 da tarde, mas, sendo cinema às 5, não eram raras as vezes em que chegava adiantado (ainda não havia aquele caos horrível de trânsito nojento no Marquês de Pombal que me faz querer matar alguém praticamente todos os dias). Assim, comprava bilhete, não fosse o filme esgotar (nunca esgotava, éramos sempre 4 ou 5 na sala) e ia para o Atrium Saldanha. E não sei porquê, mas uma vez fui com Ramda no leitor de CDs que tinha recebido nos anos/natal três anos antes e que estaria muito próximo de cair ao chão e nunca mais funcionar e andei pelos corredores do Atrium Saldanha. Ia lá porque havia uma loja de discos, mas não me lembro de alguma vez ter comprado lá alguma coisa. Mas que ia, ia. E sempre que vou ao Atrium Saldanha ouço na minha cabeça Ramda dos Mice Parade. Como ouvi quando ouvi Secret Rhythms 2, mesmo há instantes, apesar de não ouvir aquele disco de Mice Parade há quatro anos.

1 comentário:

O Puto disse...

Os teus dias são mais belos que as minhas noites (e que os dias tb).
Curiosamente, tb me lembro desse vídeo dos 90 Day Men. Aliás, acho que é a única lembrança que tenho deles.