quarta-feira, dezembro 27, 2006

Cinco razões para ter amigos em 2006 parte II

Na continuação das listas dos amigos, Luís Nunes. Luís Nunes está para Walter Benjamin como eu estou para Senhor Aníbal: somos as únicas ligações deles ao mundo. O Luís é membro dos Jesus, The Misunderstood, uma banda que é um bocado chata e um bocado gira e é a única pessoa que alguma vez me dedicou uma canção em palco. Os concertos da banda dele acabam invariavelmente com o barbudo do Luís e o Tiago Sousa da Merzbau a tocar uma versão de "Sweet Jane" dos Velvet Underground. Mas em vez de irem pela versão suave e fofinha ao vivo que os Cowboy Junkies até versionaram, vão pela versão mainstream de Loaded, o que é uma pena.
Este blog não subscreve, de todo, as ideias do Luís e avisa que ele não é homofóbico nem nada disso. E ainda por cima esquece os Grizzly Bear, facto que nunca lhe perdoarei.

Cinco razões para ser gay em 2006 (versão orientada para homens)



Lista de alternativas em caso de desespero. A escolher ou a evitar.

5. Stuart Staples Senhor que já tocou numa banda chamada Tindersticks. Agora continua a tocar na mesma banda mas mudou o nome e também os músicos. É desajeitado, a sua figura no palco não é muito atraente e fuma desalmadamente. No entanto deve ter muitas amigas, o que é bom. O tipo deve estar sempre deprimido, o que pode resultar para contrabalançar os que de nós forem bichas alegres.

4. Kurt Wagner Proprietário de uma banda de Nashville, os Lambchop. Ex-assentador de tijoleira e actual escritor de canções, tem uma voz que parece mel (e poderá cair que nem ginjas nos ouvidos dos deprimidos mais alcoólicos). A maioria de nós já pensou "Foda-se, quero casar é com este tipo" ao ouvir os Lambchop. Pena que seja casado com uma mulher, o chapéu à camionista não lhe fica assim tão mal.

3. Senhor Aníbal Nome maior da cena musical do MySpace. Ninguém conhece a sua cara, só o seu talento, bom gosto e olho para colaborações. Escreveu canções bonitas como "Canalizador do amor", obra maior da sua já/ainda longa discografia. É o candidato mais forte porque é português e esteve no Ultramar. Toda a gente sabe que os portugueses que estiveram no Ultramar são pessoas sensíveis e empenhadas em resolver os conflitos dos outros.

2. Stephin Merritt Este é, aparentemente, o primeiro homossexual da lista. Dono de versos como “I'm the luckiest guy on the lower east side, 'cause I've got wheels and you wanna go for a ride?” e de músicas que adoram pôr-nos deprimidos (e de um gravador de 4 pistas do qual parece não se querer livrar), o líder dos Magnetic Fields, é, apesar de ser feio, um óptimo substituto para qualquer depressão amorosa. Um tipo que escreve 69 canções de amor (e ainda por cima edita-as) só pode estar pior que nós.

1. George Michael Se alguém começou a sentir o seu lado mais gay a vir ao de cima, aqui está uma boa razão para gostar de mulheres outra vez. Ou querem acordar com o vosso parceiro sexual a cantar os grandes êxitos dos Queen no duche?

segunda-feira, dezembro 25, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

Cinco razões para ter amigos em 2006 parte I

Como maneira de pilhar sem misericórdia o Nick Sylvester - que entretanto escreve na Wire e na Stylus, ainda bem, não faço ideia se há muito ou há pouco tempo, é sempre bom lê-lo -, decidi convidar amigos para as listas parvas que tenho andado a fazer.
Joana Lima é da Figueira da Foz e diz que já viu o Alex James e droga. Não sei bem a história, mas era minha colega n'Os Fazedores de Letras - inevitavelmente e, tal como eu, fartou-se da falta de rumo daquilo, ou então estava só aborrecida - e gosta de Clipse. Isso faz dela, automaticamente, boa pessoa, visto gostar de gente que vende droga. O texto e as razões que se seguem não são da minha autoria, nem da minha responsabilidade (na verdade nem sei quem é metade desta gente, à hora dos Castanets na ZDB eu estava provavelmente vestido de palhaço e podia jurar que os Cansei de Ser Sexy roubaram "aquela" linha de baixo aos Spoon) e devo só adicionar que a Joana é gira. Obrigado.
Aqui vai:

Cinco razões para usar uma peça de flanela axadrezada em 2006



5. Mary-Kate Olsen Em 2006 a gémea da Ashley, que já é maior já desistiu da faculdade e já imitou o penteado do Nosso Senhor Jesus Cristo, fez-se passar por uma Chlöe Sevigny mais fofinha e lembrou ao mundo que foi o Marc Jacobs que deu o grunge ao mundo. No meio de passeatas por Nova Iorque com uma infindável colecção de copos do Starbucks, MK provou que a única coisa necessária para se rockar o look sem-abrigo e relembrar que o Gus Van Sant fez um dos melhores filmes de 2005 é vestir uma camisa de flanela axadrezada com botas compensadas. Nunca foi avistada de I-Pod mas eu quero acreditar que tudo se deve ao Rather Ripped dos Sonic Youth que ela ouve numa Bang & Olufsen ao chegar à sua casinha de lenhadora forrada a madeira e perfeita para uma festa Cobra Snake.

4. Raymond Raposa O senhor cantautor que dá pelo nome de Castanets veio à ZDB. Deu um concerto e até era noite de Carnaval. Fazia frio. Na rua havia serpentinas e confetti e gritos e máscaras pouco imaginativas e máscaras cómicas e máscaras completamente saídas do Party Monster. Dentro do Aquário da Galeria Zé dos Bois, os disfarces não vinham sob a forma de fatos de aluguer. E o Ray Raposa tinha um boné à camionista americano (não sei porque os europeus nunca usam chapéu) de xadrez. Estou em crer que era de flanela, mas não lhe toquei. Bastou ouvir "It’s alright / To want more than this" para as mãos aquecerem.

3. Cansei de Ser Sexy Os brasileiros (sim, há um mocinho com bigode lá pelo meio) mais fixes desde o elenco de Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa apareceram em 2005. Mas foi no corrente ano que espalharam todo o esplendor da sua parvoíce pelo mundo abençoado pelo YouTube. Alala alala e sai um videoclip em que as miúdas lutam e sangram dentro de prisões de lamé em jeito de vestidos. Isto não parece muito confortável, mas é giro. E talvez demasiado anos oitenta. E talvez do facto de o vídeo contar uma briga em rewind - do fim para um início em que não jorrava sangue - brote a ideia de que a flanela conforta mais do que penteados do WIP.

2./1. Karen O + Liars Há coisas que não se separam. O CD-R violeta onde a Karen O gravou dezasseis músicas acompanhadas de um poema do Oscar Wilde (límpido como todos os poemas do Oscar Wilde) para o seu Angus Andrew e que foi roubado por um fã da casa de um dos TV on the Radio não se pode separar da "The Other Side of Mt. Heart Attack" que os Liars souberam guardar para o fim do Drum's Not Dead. Porque o amor é como uma flanela boa - sobrevive a festas de kuduro progressivo em Lisboa e a ataques cardíacos em cima de um skate berlinense.

domingo, dezembro 17, 2006

Cinco razões para não odiar o will.i.am em 2006

Os Black Eyed Peas são uma banda detestável. Uma máquina de fazer péssimas coisas que não pára. A recuperação do Sérgio Mendes num modo incrivelmente mau é insultuosa. A Fergie é uma das pessoas mais odiáveis de todo o sempre, etc. Dizem que há coisas boas no início, mas não me apetece acreditar nisso. Há cinco anos ouvi um disco deles e pareceu-me francamente horrível. Passado o horror, o senhor will.i.am deu-nos em 2006 cinco razões para não o odiarmos. Aqui vão:

5. Busta Rhymes - I Love My Bitch (feat. Kelis) Haverá algo mais estúpido que o refrão desta canção? "- I love my nigga - Yup, yup, I love my bitch". Poesia. Isto é poesia. Mas quem é que espera do Busta Rhymes, nesta altura do campeonato, mais do que isso? Ninguém. Basta ir a The Shining, o último disco do J. Dilla, com uma introdução aborrecidíssima e completamente supérflua do homem. "Bitch, bitch, fuck this" ou algo parecido. Já me esqueci, na verdade. "I Love My Bitch" é o will.i.am em modo Neptunes, mas com um beat e melodias memoráveis. Bom.

4. John Legend - Slow Dance John Legend continua a aparar a sua barba. É um bocado irritante o facto de estar tão meticulosamente bem aparada. Mas John Legend teve Let's Get Lifted. E agora tem Once Again. Pode ser considerado chato, a voz dele encontrou trejeitos estranhos, quando ouvi pela primeira vez "Save Room" nem me pareceu ele. É uma coisa mais adulta, mais madura, mais ponderada, mas que funciona extremamente bem para ele porque ele tem imensas miúdas no vídeo. "Save Room" também é de will.i.am, e os sopros e os "parapapa" tornam aquilo memorável ao fim de umas cinco audições. É um caso estranho de uma canção que eu prefiro quando me lembro dela e não a oiço. Mas no disco há "Slow Dance", que é uma das melhores de Once Again, a par de "Heaven" de Kanye West.

3. The Game - Compton Toda a gente sabe porque é que eu odeio The Game. Ele até me dedicou uma canção. Mentira, não foi ele, foi o Just Blaze, o Nas e a Marsha das Floetry. "Why You Hate The Game" é um épico. A única parte má é o próprio The Game. "Compton" é sobre como Compton é o local de nascimento do gangsta rap. The Game é um tipo estúpido que passa a vida a pedir um regresso aos valores do gangsta rap dos N.W.A. Não sabe fazer uma canção sem mencionar Eazy-E e, quando sabe, menciona Dr. Dre. Está sempre a falar do "legado" dos N.W.A. e isso irrita-me. Mas "Compton" é uma óptima canção pop. E o will.i.am não está detestável na prestação vocal dele. Porque só fala e não tenta rimar. E isso é extremamente louvável. Aquele sample do "Gangsta Boogie" apanha-me todas as vezes que o oiço, em qualquer lado.

2. Justin Timberlake - Damn Girl "My Love" é a obra-prima de Timbaland para Timberlake, mas "Damn Girl" também é grande. E é de will.i.am. Os versos dele não soam assim tão mal, mas são bastante maus, sim. Podemos ignorá-los perfeitamente. Futuresex/Lovesound é grande e, mesmo sendo a maioria das faixas produzidas por Timbaland e seguindo um esquema de entrusamento bastante bem pensando, "Damn Girl" não destoa nada lá dentro. É incrível como um tipo com um corte de cabelo horrível, membro de uma boys band estupidamente má, consegue rapar o cabelo, roubar um chapéu e uns passos de dança ao Michael Jackson, treinar um falsete invejável e contratar uns produtores bons e ficar a maior estrela pop dos nossos tempos. E em versão boa. Não podemos negá-lo. E ele até tem pinta para quem veio de onde veio. Ou talvez não. Mas tem mais que will.i.am.

1. Nas - Hip-Hop is Dead Esta é uma colaboração entre duas das pessoas mais mal vestidas dentro do hip-hop mais respeitável. O refrão é brutal, os cânticos de "hip-hop" no fim são enormes e will.i.am sabe quando se conter e quando não se conter. Bastante bom para quem nos deu "My Humps". Há um vídeo de uma actuação de ambos no programa do Jimmy Kimmel. A presença do will.i.am continua a ser incrivelmente irritante, mas até nem funciona mal. "Hip-hop has died this morning and she's dead, she's dead" é algo que fica mesmo bem naquele refrão. Claro que o hip-hop não morreu. Mas Nas sabe isso, perfeitamente. Qual é o mal de ter um single explosivo para marcar o seu primeiro disco na Def Jam e a sua amizade com Jay-Z? Qual é o mal de ser produzido por will.i.am? Nenhum. É até muito bom. "Hip-hop is Dead" é a canção irmã de "Compton", num estilo que podemos dizer facilmente que é will.i.am, ao contrário de, por exemplo, "I Love My Bitch". Um dos singles do ano, vindo de um sítio improvável.

É isto. Só não me peçam para gostar da roupa, da cara, da pose e dos movimentos dele. Nem da banda dele.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Cinco razões para ter barba em 2006

2006, o ano do bigode. Até eu usei durante uns tempos. Mas a barba está longe de estar fora de moda. Aqui, e enquanto não aparecem as listas de melhores do ano (discos e singles), cinco razões que houve em 2006 para ter barba:

5. ?uestlove O baterista dos Roots tem uma barba pouco forte que condiz perfeitamente com o seu gigante afro (ou será um natural?) com pente dentro. É um grande homem, The Game Theory foi injustamente menosprezado e é com muita pena minha que não vou vê-lo ao Musicbox sábado. Dos hoodies aos pêlos faciais, estilo e barba intemporais.

4. O gajo dos Broken Social Scene que é uma versão barbuda do Andy Dick Para começar: eu sei que o nome dele é Brendan Canning. Mas não me lembrava. Lembro-me, sim, da sua barba belíssima durante Paredes de Coura. Sim, Broken Social Scene é de 2005, mas os Broken Social Scene ainda são uma das melhores bandas de indie-rock dos anos 2000. Respeito, pela barba e pela música.

3. Kyp Malone E o que é uma lista sem os TV On The Radio? Nada. Não só a barba, todo o guarda-roupa, as poses e o estilo. O natural no cabelo, a barba na face. A voz (claro, Tunde Adebimpe é o cantor da barba, mas o Kyp Malone também faz muito). A banda, a melhor banda rock do mundo. Afro-estilo para sempre. Grande, enorme, o maior.

2. Dan Bejar Blazers cinzentos e barba. É esta a receita especial do homem dos Destroyer. Houve novo disco de Destroyer, mesmo que ele não tenha passado por cá outra vez (2005, na ZDB, foi enorme) e houve Swan Lake. Beast Moans é grande, mesmo que não se goste da voz de Bejar (e isso é difícil, basta ele dizer "la la la" para eu o canonizar automaticamente, isso não acontece com muitos), há as de Carey Mercer (que esteve cá com os Frog Eyes como banda de suporte e abertura do Bejar) e a de Spencer Krug (dos Wolf Parade e dos Sunset Rubdown). Respeito pelo estilo Shakesperiano e a barba.

1. David Cross Estive indeciso entre dar o primeiro lugar a Dan Bejar ou a David Cross. Um comediante genial, brutal, da participação no Arrested Development ao vídeo de "Sugarcube" dos Yo La Tengo (uma das minhas canções favoritas de sempre). Aliás, até está ligado a Dan Bejar, já fez um vídeo dos New Pornographers, de uma faixa em que Bejar não aparece, nem no vídeo. A razão que me faz pô-lo aqui, a maior, é o facto de o ter visto nos programas do Conan O'Brien e do Jon Stewart com uma barba que impunha respeito. Ele é careca, eu não, mas não deixou de ser responsável por eu ter voltado a deixar crescer a barba. Também apareceu num vídeo de "Juicebox", o single medíocre dos Strokes, mas não deixa de ser o maior. E de ter a maior barba.

2006, o ano do bigode em barbas. Se houvesse lista de bigodes, estaria lá o Jason Lee e o tipo dos Killers (banda medíocre, bigode excelente). E é isto. Amanhã ou depois há mais, entre "Cinco razões para não odiar o will.i.am em 2006" ou "Cinco acontecimentos absolutamente indispensáveis de 2006" e qualquer coisa de que me lembre entretanto.