segunda-feira, março 29, 2010

Sobre a misoginia



Melhor canção de sempre, certo? Talvez o Stephin Merritt, fã confesso de Phil Spector, o senhor que produziu a canção, concorde (também podemos fazer uma generalização irracional igual àquelas que Alberto Gonçalves: os Grizzly Bear, cujo vocalista é gay, fizeram uma versão desta canção, por isso é provável que Stephin Merrit, que também é gay, de Nova Iorque, e músico, a adore). E o que é? É uma canção escrita por Carole King e Gerry Goffin, um casal, sobre uma mulher cujo parceiro lhe bate. E, quanto mais lhe bate, mais ela percebe que ele gosta dela. Uma perspectiva muito bonita. A ideia era protestar esse tipo de mentalidade, mas isso não está explícito em lado nenhum. Podia perfeitamente estar a legitimar-se a coisa. Aposto que o senhor Alberto Gonçalves, que se insurge contra a misoginia do hip-hop, não tem nada contra esta canção. Nem contra o Phil Spector, um senhor que tem um vasto historial de pouca misoginia. É complicado, para uma mulher que ande com ele, acabar com a relação. Não é que ele seja irresistível, é só que ele tende a pegar numa pistola e apontá-la à cabeça de todas as pessoas do sexo feminino que ousem deixá-lo. Mas não é misógino porque não fez a escolha de vida errada, a do rap. É aceitável para o Alberto Gonçalves e para o seu herói Stephin Merritt.
Reparem e olhem à vossa volta: há misoginia em todo o lado. Achar que é perpetuada apenas pelo rap ou pelo metal não é só estúpido e idiota, é altamente irresponsável. O Phil Spector é um génio, ninguém duvida disso, mas é violento com mulheres e traumatiza-as para a vida. Também o era o Notorious B.I.G., que batia na Faith Evans. Nada altera o facto de terem feito música incrível, da melhor que alguma vez se fez. A produção do Spector na "Be My Baby" das Ronettes – para ser um bocadinho mais como Alberto Gonçalves e recorrer apenas ao óbvio – perde a beleza? As primeiras palavras do Biggie na "Juicy" ("It was all a dream, I used to read Word Up Magazine") e tudo o resto, a história rags-to-riches que ele conta tão bem deixa de ser tocante e uma das mais belas cartas de amor ao rap de sempre? Não. As atitudes deles são reprováveis e devem ser combatidas, sim. Fingir que só existem ali ou, pior, que é lá que nascem, é perigoso.

1 comentário:

Diogo aka o Torgal disse...

http://acooperativa.blogspot.com/2010/03/ladies-love-cool-r.html

Não resisti. Big up... Diogo aka o Torgal