quinta-feira, janeiro 11, 2007

Saldos

O Mos Def lançou um novo disco. E depois retirou-o do mercado. O que é que isso quer dizer? Nada. Para ninguém. Não me devia importar, não nos devíamos importar, mas o Mos Def tem um novo disco. É horrível. Tem uma, duas ou três faixas, no máximo, que se aproveitem. Vem numa caixa transparente. Só mostra que toda esta gente desistiu. O rapper, a editora, tudo. Desistência. Acontece muitas vezes. O Mos Def já desistiu de ser rapper há muito tempo. Agora é actor. E acha que é cantor, mas, basicamente, isso não vale a pena. Nem New Danger era bom nem Tru3 Magic é bom. Não vale a pena, pá. É uma tristeza. O homem já foi grande. Enorme. Um dos maiores. Os Black Star são magníficos, o Talib Kweli é um grande letrista mas nunca teve a voz e o flow de Def. E enquanto o Kweli se mantém relevante, o Mos Def é preso por actuar sem licença e não parar e faz filmes com o Bruce Willis. Vá-se lá saber.
Fui aos saldos. Janeiro é sempre um óptimo mês em que a minha colecção de discos aumenta a olhos vistos. Trouxe hoje da AnAnAnA muitos discos, maioritariamente de hip-hop indie. Estou a ouvir o Later That Day do Lyrics Born. Nunca dei muito por ele, nunca ouvi Latyrx e o colega dele lá, Lateef, tem um dos piores singles de sempre com o meu rapper favorito (o Q-Tip). O Lyrics Born não é negro mas parece. Tem um flow versátil e rima extremamente bem. Faz coisas incríveis. O disco parece-me bastante bom, até mais ou menos ao fim, em que o cantar/rappar dele estraga tudo em faixas com um apelo jamaicano manhoso. É precisamente isto que se passa com o Mos Def. Não há qualquer necessidade de, em plenos anos 2000, fazer isso.
É sempre interessante ver que tipo de discos é que aparece nos saldos de qualquer loja. Nos saldos da Flur, aqui há uns meses (acho que foi em Outubro), comprei um disco de Lifesavas. Não sabia o que era, mas acabei por gostar bastante. É da Quannum Projects e ando a ler o Can't Stop Won't Stop há demasiado tempo e o Jeff Chang é um dos fundadores da editora. Parece-me ter coisas bastante boas e variadas e não ser enfadonha e impossível de apreciar como muitas outras que para aí andam (comprei também discos da Def Jux, da Stones Throw e da Anticon esta semana, isto parece-me bem superior a isso). Trouxe também Plant Life, Campfire Songs, o Milk Man dos Deerhoof outra vez (porque era 1 €), etc.
Para alguém que, como eu, passa muito tempo todas as semanas a procurar e procurar discos em promoção (a maior parte das vezes em CD, mas às vezes também em vinil), em segunda mão ou noutro modo qualquer, é interessante ver o que aparece nesses sítios. A banda sonora do He Got Game do Spike Lee pelos Public Enemy está na secção de hip-hop dos 5 € da Carbono (o sítio mais assustador de sempre para comprar discos de hip-hop, com os pouco simpáticos empregados a julgar-me sempre com os olhos) há mais de um ano. O disco do Trio que junta Dolly Parton, Emmylou Harris e Linda Rondstat também, mas na secção geral. São discos que estarão sempre lá, até alguém comprá-los, o que é algo improvável.
Também é interessante ver que se pode "viver", musicalmente falando, dos discos que se arranja abaixo do preço normal exageradíssimo dos discos hoje em dia. Mas há sempre coisas que são insubstituíveis. Não se pode substituir certa música por outra música que seja mais barata. A música não é assim. Meto-me a pensar nestas coisas de vez em quando. Não nos podemos limitar a nada, a uma só coisa, temos de ir a tudo aquilo que quisermos. E é preciso haver escolha. Um dia vou à Carbono e trago para casa os Public Enemy, o Trio e o The W dos Wu-Tang Clan que vive lá.

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