quinta-feira, janeiro 04, 2007

Cinco razões para ter amigos em 2006 parte III

Pedro Figueiredo. Foi meu director no Clix Música e n'Os Fazedores de Letras, ambos projectos falhados. Tem a maior colecção de bootlegs de Suede e Gift de sempre e a maior colecção de t-shirts de gola em V fora da minha família (o meu irmão é o seu maior rival). Escreve na Ruadebaixo e na Mondo Bizarre e faz anos hoje, daí dar-lhe isto:

Cinco razões para ser como o Pepe* em 2006



*jogador brasileiro do Futebol Clube do Porto por estes dias nacionalizado português

Chegou ao Marítimo há uns anos, e logo deu nas vistas. Não aparentava possuir o potencial hoje devidamente explanado, mas mostrava já algum serviço. Agora uma dúvida muito pessoal: não me lembro se ele esteve realmente no Sporting Clube de Portugal. Acho que sim, que foi emprestado meia dúzia de meses e, sem oportunidades, voltou para a Madeira. Mas sinceramente não me lembro de o ver com a camisola leonina ao peito. Pouco importa. O ano passado e, essencialmente, na temporada que por estes dias sofre pausa (absurda, diga-se), tem-se vindo a destacar ao serviço do FC Porto, sendo um dos grandes esteios da equipa que, aposta-se sem grande factor de risco, será campeã nacional. Recentemente seguiu as pisadas de Deco e pediu dupla nacionalidade, afirmando-se disponível para representar a selecção comandada pelo nosso cada vez mais italiano Scolari. Serve esta parva e extensa introdução para traçar uma analogia musical completamente desprovida de sentido mas, ainda assim, extremamente válida não tanto conceptualmente mas mais pelos objectos em causa. A selecção musical nacional teve, em 2006, alguns bons motivos para se orgulhar de si mesma. Se, verdade seja dita, faltou algum nervo sub-21 (retomam-se as analogias da bola), tal não foi impeditivo para que alguns nomes consagrados (ou semi ou em vias de) espalhassem o perfume do seu fute…repertório pelos doze meses que agora findam. Seguem cinco razões para, em 2006, se pedir nacionalidade portuguesa:

5. Linda Martini – Olhos de Mongol Boa gente de boas origens (Queluz e Massamá), atitude q.b., energia, bom uso de novas ferramentas de promoção (2006, ano MySpace). A música? Pós-rock flanqueado por diferentes balizas, letras incisivas e de apelo imediato e sombras de nomes como Sonic Youth, Isis ou, em terra de Camões, Ornatos Violeta. Há temas longos, três guitarras em discurso directo, momentos mais rápidos (vide “Cronófago”) e uma força pouco comum. Depois, alguns membros lembram-se ainda do Professor Sanches que dava Filosofia na Escola Secundária Miguel Torga, em Massamá. Dificilmente poderíamos pedir mais que isto. Pelo menos por agora.

4. Sérgio Godinho – Ligação Directa Não há grande coisa a dizer sobre Sérgio Godinho. O maior de escritor de canções português é redundância. Apelidá-lo de mediano comentador de futebol já é mais subjectivo – mas menos certamente que a certeza de que Jorge Gabriel desempenhava um papel mais ajustado. Ligação Directa é Sérgio Godinho em grande forma a cantar Portugal. Mais cordas, arranjos do caraças, uma voz a brilhar bem alto. Enorme.

3. Bernardo Sassetti – Unreal: Sidewalk Cartoon História mirabolante (que envolve operários e a música como salvação - tudo isto na península de Quasi-Algures), conceito multi-artístico que vê em disco paragem obrigatória para a sua total percepção. A simplicidade da partitura de Alice mora distante, ficando no ar, no entanto, algumas ambiências cinematográficas muito ao gosto de Sassetti. A história é tão improvável como actual nas questões levantadas. A música, essa, é da melhor que por este ano se ouviu. E há ainda o melhor título de canção do ano (de sempre?): “I Left my Heart in Algândaros de Baixo”.

2. Sam The Kid – Pratica(mente) Chegou tarde mas em boa hora. Provavelmente o melhor disco de hip-hop de sempre em terrenos nacionais. Já houve polémicas, as vendas surpreenderam na semana de estreia, a divulgação (e apreciação) tem sido ampla. Referências culturais convivem com linguagem e temáticas de rua, num registo desarmante, pessoal e de uma ambição enorme. Quase tão grande como a qualidade das canções aqui incluídas.

1. Dead Combo – Vol.2: Quando a Alma Não é Pequena Diz o responsável por este blog que Dead Combo “só rende ao vivo”. Errado, meu caro. Vol.2: Quando a Alma Não é Pequena é a total confirmação dos intentos de Tó Trips e Pedro Gonçalves: pegando numa raíz sonora assente no fado, os músicos vão buscar elementos cinéfilos, elementos de Western, elementos da nossa Lisboa. Elementos musicais de uma portugalidade urbana. O ambiente é de verdadeiro delírio quase Western versão Sérgio Leone transportado para Lisboa, século XXI, 2006. Fado? Fado-Western? Rock? Um grande disco, que se lixe o estilo.

Um agradecimento final ao Rodrigo pelo convite para escrever este texto e uma mensagem ao Pepe e respectivos interessados na cidadania portuguesa: aproveitem os dias finais do ano que não se sabe o que 2007 nos reserva [nota do autor do blog: ooops...].

2 comentários:

Francisco Nogueira disse...

E vais dizer que não gostas de ver os meus pelos do peito à mostra quando uso as golas em V...!?

Anónimo disse...

boa prenda de anos, sim senhor.
eheh. e para que consta só tenho uma t-shirt com gola em V...