O meu coração está dividido. Por um lado, gostei mesmo dos últimos discos dos Belle & Sebastian. Dos últimos dois, mesmo o novo sem a magia do Trevor Horn. Já o tinha dito por aqui. Tinha mesmo vontade de vê-los ao vivo, o Tom Breihan diz que são óptimos ao vivo e se tornaram realmente bons a tocar aquelas canções do disco, com bons instrumentistas e profissionais qb. Mas o Tom Breihan vive em Nova Iorque, uma cidade em que tudo se passa todas as semanas, e onde não se põe o problema que agora enfrento e que dá a volta à minha jovem cabeça.
Longe vão os tempos em que Lisboa era uma "Ghost Town", como os Specials tão eloquentemente disseram nos anos 80. Para dizer a verdade, nunca os vivi. Comecei a ir a concertos regularmente e por vontade própria aos 13 anos. Desde essa idade, e já vão seis anos, nunca me pude queixar muito de bandas que não vinham cá. Agora ainda menos. Claro que não estamos em Nova Iorque, nem sequer em Londres ou em Barcelona, mas as coisas vão acontecendo com mais ou menos atrasos. Nem sequer vou falar das vozes que se apressaram a tratar o concerto dos Arcade Fire em Paredes de Coura como algo que aconteceu imediatamente em Portugal, dentro do tempo e tal, quando Funeral, quer se queira, quer não, saiu em 2004 e não em 2005 e toda a histeria gerada à volta dele em blogs de mp3 e em webzines e na imprensa americana aconteceu em 2004. Ignorar isso é ignorar que ninguém espera pelas datas de edição europeia, e ignorar a imprensa estrangeira e, basicamente, ser muito cego e viver num casulo. Mas em Nova Iorque não há problemas se o Kanye West e os Belle & Sebastian derem um concerto na mesma noite. Provavelmente há um novo concerto duas semanas depois e ninguém se chateia.
Os Belle & Sebastian já vieram cá há uns anos ao Sudoeste, mas ninguém me convidou para ir e convidaram o meu irmão. Nunca mais o perdoei, ainda por cima nem teve de acampar e aposto que dormiu normalmente, ao contrário de mim no ano passado. Ele viu-os, mas na altura Dear Catastrophe Waitress e o funk choninhas ainda não eram uma realidade. Agora já são uma realidade ultrapassada e eu estava mesmo excitado por vê-los. Mas na Mojo portuguesa, a revista Blitz, que lida maioritariamente com artigos de fundo e música do passado (ou pelo menos de protagonistas do passado, esta primeira capa tem os Rolling Stones), e que está muito bem conseguida desse ponto de vista, veio a notícia: Kanye West vem a Portugal no dia 17 de Julho.
Kanye West nunca esteve cá, não vende assim tantos discos em Portugal, mas algo me diz que esgotará o sítio (onde quer que seja) onde actuará. Mesmo que duas experiências me digam o contrário (a minha primeira prestação como DJ alcoolizado num parque de estacionamento subterrâneo ao pé da antiga FIL na minha gala de finalistas, em 2004, onde "Slow Jamz" foi recebido como se fosse um tema dos Wolf Eyes ou assim, com total desprezo das pessoas; o mesmo tema, dois anos depois, no carnaval, para meia dúzia de tipas que lá foram jantar a casa que, até essa altura, não se queixaram de nenhuma das produções dos Neptunes, da Missy Elliott, nem da M.I.A.), o que me leva a pensar que os adolescentes de classe média mainstream portugueses ignoram totalmente a pura diversão que é esse single (aquelas frases sobre o Michael Jackson são clássicos modernos). Mas não ignoram a obra-prima e o enorme banger gospel que é "Jesus Walks". E é em Oeiras ou em Sintra, Cascais é ali ao lado, por isso não deve haver problema nenhum em encher aquilo.
Há três hipóteses que me levarão aos Belle & Sebastian: a data do Kanye West estar errada, o Kanye West actuar muito mais tarde ou os bilhetes para o Kanye West esgotarem e eu não conseguir arranjá-los. Mas, provavelmente, as miúdas giras e tímidas com ganchinhos nos cabelos e óculos de massa terão de esperar. Isso e a música dos Belle & Sebastian, que também interessa um bocado, mas não tanto. Mesmo adorando ambos, algo me diz que o Kanye West se tornou num dos maiores artistas da actualidade, a julgar pelo Late Orchestration que eu só vi uma vez ao longe numa loja mas me pareceu muito bem. É triste, mas são coisas que acontecem, e é saudável podermo-nos dar ao luxo de ter coisas tristes destas em Lisboa em 2006.
Longe vão os tempos em que Lisboa era uma "Ghost Town", como os Specials tão eloquentemente disseram nos anos 80. Para dizer a verdade, nunca os vivi. Comecei a ir a concertos regularmente e por vontade própria aos 13 anos. Desde essa idade, e já vão seis anos, nunca me pude queixar muito de bandas que não vinham cá. Agora ainda menos. Claro que não estamos em Nova Iorque, nem sequer em Londres ou em Barcelona, mas as coisas vão acontecendo com mais ou menos atrasos. Nem sequer vou falar das vozes que se apressaram a tratar o concerto dos Arcade Fire em Paredes de Coura como algo que aconteceu imediatamente em Portugal, dentro do tempo e tal, quando Funeral, quer se queira, quer não, saiu em 2004 e não em 2005 e toda a histeria gerada à volta dele em blogs de mp3 e em webzines e na imprensa americana aconteceu em 2004. Ignorar isso é ignorar que ninguém espera pelas datas de edição europeia, e ignorar a imprensa estrangeira e, basicamente, ser muito cego e viver num casulo. Mas em Nova Iorque não há problemas se o Kanye West e os Belle & Sebastian derem um concerto na mesma noite. Provavelmente há um novo concerto duas semanas depois e ninguém se chateia.
Os Belle & Sebastian já vieram cá há uns anos ao Sudoeste, mas ninguém me convidou para ir e convidaram o meu irmão. Nunca mais o perdoei, ainda por cima nem teve de acampar e aposto que dormiu normalmente, ao contrário de mim no ano passado. Ele viu-os, mas na altura Dear Catastrophe Waitress e o funk choninhas ainda não eram uma realidade. Agora já são uma realidade ultrapassada e eu estava mesmo excitado por vê-los. Mas na Mojo portuguesa, a revista Blitz, que lida maioritariamente com artigos de fundo e música do passado (ou pelo menos de protagonistas do passado, esta primeira capa tem os Rolling Stones), e que está muito bem conseguida desse ponto de vista, veio a notícia: Kanye West vem a Portugal no dia 17 de Julho.
Kanye West nunca esteve cá, não vende assim tantos discos em Portugal, mas algo me diz que esgotará o sítio (onde quer que seja) onde actuará. Mesmo que duas experiências me digam o contrário (a minha primeira prestação como DJ alcoolizado num parque de estacionamento subterrâneo ao pé da antiga FIL na minha gala de finalistas, em 2004, onde "Slow Jamz" foi recebido como se fosse um tema dos Wolf Eyes ou assim, com total desprezo das pessoas; o mesmo tema, dois anos depois, no carnaval, para meia dúzia de tipas que lá foram jantar a casa que, até essa altura, não se queixaram de nenhuma das produções dos Neptunes, da Missy Elliott, nem da M.I.A.), o que me leva a pensar que os adolescentes de classe média mainstream portugueses ignoram totalmente a pura diversão que é esse single (aquelas frases sobre o Michael Jackson são clássicos modernos). Mas não ignoram a obra-prima e o enorme banger gospel que é "Jesus Walks". E é em Oeiras ou em Sintra, Cascais é ali ao lado, por isso não deve haver problema nenhum em encher aquilo.
Há três hipóteses que me levarão aos Belle & Sebastian: a data do Kanye West estar errada, o Kanye West actuar muito mais tarde ou os bilhetes para o Kanye West esgotarem e eu não conseguir arranjá-los. Mas, provavelmente, as miúdas giras e tímidas com ganchinhos nos cabelos e óculos de massa terão de esperar. Isso e a música dos Belle & Sebastian, que também interessa um bocado, mas não tanto. Mesmo adorando ambos, algo me diz que o Kanye West se tornou num dos maiores artistas da actualidade, a julgar pelo Late Orchestration que eu só vi uma vez ao longe numa loja mas me pareceu muito bem. É triste, mas são coisas que acontecem, e é saudável podermo-nos dar ao luxo de ter coisas tristes destas em Lisboa em 2006.