Para o Rui.
No outro dia fui ao lançamento do disco de Double D Force à Flur. Tarde bem passada, com D-Mars nos pratos (lembro-me, por exemplo, do Kurtis Blow e dos Whispers), à beira-rio (o Tejo é tão bonito ali daquele sítio). Pedi ao Rui Miguel Abreu que me recomendasse um disco, porque estava com 10 € no bolso e não concebo uma ida a uma loja de discos sem comprar nada (hoje comprei o Roots do Curtis Mayfield). Procurou e procurou e deu-me para a mão um disco dos Meters e um do David Axelrod. Estava numa de Meters e trouxe os Meters. E ele pediu-me um relatório completo. E aqui vai.
Como não sou grande conhecedor da obra deles, pensava, através de um artigo que li na MOJO de um mês qualquer deste ano, que eram apenas uma banda de funk instrumental. Para isso também ajudou o loop do "1-Thing" da Amerie, a guitarra mais perfeita de sempre e um dos melhores usos de samples de que há memória, numa das melhores malhas deste milénio, uma daquelas canções enormes às quais é impossível fugir. Mas aqui há canções e quase-canções. Chamo "quase-canções" a coisas como "Struttin'" ou "The Handclapping Song", que, respectivamente, têm vozes a imitar galinhas entre palavras de ordem como "Just keep on struttin'" e "Clap your hands now". Esta "Handclapping Song" deu-me aquele prazer que há sempre quando se descobre inadvertidamente um sample usado numa canção qualquer de hip-hop. Era, obviamente, "Clap Your Hands" dos A Tribe Called Quest, do Midnight Marauders. É das coisas de que mais gosto nessa cultura do sampling, a forma como se recontextualiza certas coisas, se parte do antigo para criar o novo, mesmo que não se modifique assim tanto o antigo (e aqui modifica-se), só uma recontextualização traz tudo. Exemplos disso são, por exemplo, "Eye Know" dos De La Soul, uma das minhas canções favoritas de sempre, ou "The Light" do Common, em que o Jay Dee corta e edita uma canção do Bobby Caldwell e cria algo de novo, mesmo que o Common não estivesse lá e só existisse o refrão e a base instrumental que foi limpa e à qual foi adicionada um sintetizador e outros pormenores interessantíssimos. Esse exemplo é paradigmático do criar algo novo do antigo, como retirar de uma canção um verso e torná-lo um refrão, recontextualizá-la para dizer algo de novo.
Mas não é isso que interessa. Os Meters eram uma banda de topo, óptimos músicos, cheios de funk cru e puro e duro, mesmo que não fossem propriamente os melhores escritores de canções de sempre. Passei a "Handclapping Song" na sexta-feira passada no LEFT e não há nada melhor que tentar acompanhar aquelas palminhas, aquele riff de guitarra, e aquelas vozes. Por pouco menos de 10 €, numa tarde solarenga de sexta-feira, à beira-rio, uma lição de história divertida. Ou talvez nada disto faça sentido, mas devia isto ao Rui.
No outro dia fui ao lançamento do disco de Double D Force à Flur. Tarde bem passada, com D-Mars nos pratos (lembro-me, por exemplo, do Kurtis Blow e dos Whispers), à beira-rio (o Tejo é tão bonito ali daquele sítio). Pedi ao Rui Miguel Abreu que me recomendasse um disco, porque estava com 10 € no bolso e não concebo uma ida a uma loja de discos sem comprar nada (hoje comprei o Roots do Curtis Mayfield). Procurou e procurou e deu-me para a mão um disco dos Meters e um do David Axelrod. Estava numa de Meters e trouxe os Meters. E ele pediu-me um relatório completo. E aqui vai.
Como não sou grande conhecedor da obra deles, pensava, através de um artigo que li na MOJO de um mês qualquer deste ano, que eram apenas uma banda de funk instrumental. Para isso também ajudou o loop do "1-Thing" da Amerie, a guitarra mais perfeita de sempre e um dos melhores usos de samples de que há memória, numa das melhores malhas deste milénio, uma daquelas canções enormes às quais é impossível fugir. Mas aqui há canções e quase-canções. Chamo "quase-canções" a coisas como "Struttin'" ou "The Handclapping Song", que, respectivamente, têm vozes a imitar galinhas entre palavras de ordem como "Just keep on struttin'" e "Clap your hands now". Esta "Handclapping Song" deu-me aquele prazer que há sempre quando se descobre inadvertidamente um sample usado numa canção qualquer de hip-hop. Era, obviamente, "Clap Your Hands" dos A Tribe Called Quest, do Midnight Marauders. É das coisas de que mais gosto nessa cultura do sampling, a forma como se recontextualiza certas coisas, se parte do antigo para criar o novo, mesmo que não se modifique assim tanto o antigo (e aqui modifica-se), só uma recontextualização traz tudo. Exemplos disso são, por exemplo, "Eye Know" dos De La Soul, uma das minhas canções favoritas de sempre, ou "The Light" do Common, em que o Jay Dee corta e edita uma canção do Bobby Caldwell e cria algo de novo, mesmo que o Common não estivesse lá e só existisse o refrão e a base instrumental que foi limpa e à qual foi adicionada um sintetizador e outros pormenores interessantíssimos. Esse exemplo é paradigmático do criar algo novo do antigo, como retirar de uma canção um verso e torná-lo um refrão, recontextualizá-la para dizer algo de novo.
Mas não é isso que interessa. Os Meters eram uma banda de topo, óptimos músicos, cheios de funk cru e puro e duro, mesmo que não fossem propriamente os melhores escritores de canções de sempre. Passei a "Handclapping Song" na sexta-feira passada no LEFT e não há nada melhor que tentar acompanhar aquelas palminhas, aquele riff de guitarra, e aquelas vozes. Por pouco menos de 10 €, numa tarde solarenga de sexta-feira, à beira-rio, uma lição de história divertida. Ou talvez nada disto faça sentido, mas devia isto ao Rui.
2 comentários:
A mim não me deves nada, mas lendo esse textom quer-me parecer que já deves alguma coisa aos Meters. Qualquer banda com um gajo chamado Zigaboo tem que mercer o céu...
Em relação ao que não interessa para o post, eu passo-me (no bom sentido, claro) com recontextualizações sonoras. Quando falaste dos A Tribe Called Quest, lembrei-me logo do "Can I Kick It", com o sample de contrabaixo do "Walk On The Wild Side". Delicious!
Qualquer dia, e se não for muito atrevimento da minha parte, peço-te para me gravares um CD com algumas dessas reutilizações/redefinições que falas.
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