domingo, julho 23, 2006

De alguma forma, sem fazer sentido

De alguma forma voltava ontem do Lisboa Soundz e, numa avenida 24 de Julho cheia de carros, ouvia o Yankee Hotel Foxtrot dos Wilco. Não sei quando é que se tornou o meu disco favorito de sempre, mas tornou-se. De alguma forma andava por aquela avenida absolutamente impossível, cheia até mais não, e procurava um táxi. E o Jeff Tweedy cantava. Como cantou dezenas e dezenas de vezes. Acho que, desde 2002, quando um 10/10 da Pitchfork me fez dar atenção ao disco, nunca o abandonei, apesar de julgar só o ter compreendido realmente a partir de 2004. Lembro-me, por exemplo, de ouvi-lo em jantares de amigos onde não tinha propriamente nada para dizer, como as canções soam tão melhores assim, à espera de boleia para voltar para casa. Ou num campo de futebol manhoso no inverno (quando anoitece às 6 da tarde ou pouco antes) numa terreola do Oeste que me é querida.
Nunca fui a Chicago, mas, sei lá, se calhar o disco tem alguma coisa a ver com isso. Ou pode mesmo não ter, sei que imagino sempre uma cidade grande quando ouço isto ou duas das minhas canções favoritas do Summerteeth: "How to Fight Loneliness" e "Via Chicago". Não tenho carta de condução, nem sequer sei conduzir, mas de alguma forma imagino alguém a guiar pelo estado do Illinois com aquilo. E, de alguma forma, aquilo faz tanto sentido aqui em Portugal, em Lisboa.
Acho, de alguma forma, o 'Sno Angel Like You do Howe Gelb é dos meus discos do ano. Comprei-o há uns meses, sem ter ouvido antes, e adoro-o. Nunca fui fã de Giant Sand e acho que a culpa do meu amor pelo disco é do coro gospel que o Gelb desencantou em Ottawa. De alguma forma conseguiram pôr o Howe Gelb a abrir praticamente o Lisboa Soundz, e trazer com ele o coro gospel. The Voices of Praise Gospel Choir. Ali, à tarde, com o sol a bater, fez, de alguma forma, tanto sentido. Ele trazia uma camisa preta e um chapéu e deve ser o homem com mais pinta de sempre. Quando for grande gostava de ser assim.
A voz dele é sempre igual, monótona, mas de alguma forma funciona tão bem ao lado do coro gospel. Isso e a sua guitarra dá uma cor especial a tudo, bem como a dos músicos convidados (todos de Ottawa, acho eu). É um tipo carismático, as canções são enormes, e ele sabe como interpretá-las e mostrar o que elas valem. Diz piadas, comunica, etc.
Lembro-me, de alguma forma, de ter gostado de Amorino em 2003. Mas lembro-me que o disco da Isobel Campbell deste ano é uma chatice pegada. Também o foi o concerto dela. De alguma forma, diziam-me - pessoas cuja opinião eu prezo muito, mesmo - que os Los Hermanos são bons. Juntam mpb e indie rock e fazem-no às vezes bem, outras menos bem. Gosto bastante ao vivo, é simpático e tal, mas não me parece que vá pegar muitas vezes neles ou que tenham muita coisa memorável. Contudo, respeito muito essas pessoas e vou tentar mais vezes. Pareceu-me bem, sinceramente.
E continuar com o "de alguma forma" torna-se tão cansativo para mim quanto para quem me ler, por isso não vou fazê-lo. Até é uma coisa bem chata, acho eu, como é a auto-consciência disso e o discutir um texto dentro do próprio texto. Mas é como sai e não há nada a fazer. Não vou dedicar muito tempo aos She Wants Revenge e os Dirty Pretty Things, porque isto costuma ser sobre as coisas de que gosto e não sobre as coisas que odeio intensamente (os DPT são sem o "Intensamente", os SWR são, basicamente, um novo ódio de estimação).
Algures entre os Dirty Pretty Things e os Strokes encontrei um alcoolizado Howe Gelb a passear pelo recinto. Achei por bem dizer-lhe que tinha adorado o concerto e o disco e que o coro funcionava mesmo bem. "Oh yeah, they're amazing", dizia-me ele, parecendo estar tão impressionado com o coro quanto eu.
E então ia eu pela rua à procura de um táxi ao som do meu disco favorito de sempre e a pensar basicamente no que se segue. Há uns 4/5 anos, quando descobri Is This It?, não conhecia nenhuma das pessoas com quem partilhei, de uma forma ou de outra, o dia de ontem. E algumas dessas pessoas são das minhas pessoas favoritas de todo o sempre, gente que espero conhecer e continuar a estimar ao longo da minha vida toda. De alguma forma sei que nunca me fartarei dessas pessoas, como sei que nunca me fartarei do Yankee Hotel Foxtrot. E, enquanto os Strokes tocavam da mesma forma que tocam praticamente todas as noites - suponho eu - aquelas canções, tinha pensado exactamente no mesmo. Claro que as canções do segundo e do terceiro disco não são tão boas, apenas duas, três ou quatro é que chegam aos calcanhares delas, ao vivo. Mas os Strokes conseguem soar como se fossem a maior banda do mundo, durante uma hora e tal, uma hora e meia, será? Não sei. Sei que foram a banda que, de alguma forma, me fez gostar primeiro da Christina Aguilera (os mash-ups geniais, cujo nome, "A Stroke of Genius", diz tudo) e que me deram imenso. São enormes, mesmo que se armem demasiado em guitar heros que não são no último disco, ainda valem a pena.
E pensava nisto à procura de um táxi e depois quando apanhei o táxi e tive de falar com o taxista (os taxistas tanto podem ser as melhores como as piores pessoas do mundo, ontem tive sorte) sobre os perigos da estrada e as pessoas que bebiam e não bebiam e todas essas coisas. Tirei um dos headphones e, de um lado ouvia "Radio Cure", e, do outro, "Crazy Little Thing Called Love" dos Queen no rádio do carro. E, lá no meio, a voz do taxista. E, de alguma forma, fazia sentido.

2 comentários:

O Puto disse...

Ouvir música com headphones dá cabo dos ouvidos. Concertos em alto volume também.

lia disse...

O teu blog faz sentido : )

É engraçado saber como chegaste aos Wilco - também adoro esse disco e no entanto conheci-o de forma tão diferente...

«Estimar» as pessoas que conheceste parece-me, ainda assim, a coisa mais importante e acertada deste post : )