domingo, setembro 04, 2011

Uma história em vinte imagens

Há imagens que valem mais que mil palavras e o caraças, mas estar a dizer não só é estúpido e banal, é uma perda de tempo do caraças (o que não impede gente idiota de começar textos assim). É este o caso. Mais especificamente, são vinte imagens de uma cena curta mas pungente do Fast Five, um filme notável que tem o condão de ser melhor que o primeiro e o segundo (nunca vi o terceiro, muito menos aquele que se passava em Tóquio, por isso não sei dizer). Se isso não mostra evolução, não sei o que mostrará. Basicamente, a equipa do Vin Diesel e do Paul Walker e do Ludacris e do Tyrese Gibson precisa das impressões digitais do Joaquim de Almeida (traficante de droga e dono de metade do Rio de Janeiro, com um sotaque brasileiro brilhante) para abrir o cofre onde ele guarda o dinheiro. O japonês não sabe o que fazer, mas a colega dele. Quase sem diálogos (eles até podem ter passado o tempo a falar, mas não me lembro e acho que não quero saber), as imagens mostram tudo o que acontece. Lembras-te de tu e de toda a gente que tu conheces, achando que estavam a dizer algo de novo, disseram que aquela sequência em que se conta sem palavras a história da relação do velho do Up com a viúva dele eram dos melhores minutos cinematográficos dos últimos anos por serem tão brilhantes? Esquece isso e olha para isto:






















Caso não tenhas percebido, passo a explicar. Eles estão na praia, e o Joaquim de Almeida tem uma espécie de secção de um restaurante ou um bar ou um clube ou o caraças mesmo em cima da praia onde costuma estar com os capangas dele. A tipa mete-se em bikini e vai até ele. A princípio os gorilas do Joaquim não a deixam passar, mas depois ele olha para ela e, como qualquer bom criminoso poderoso, faz sinal para os capangas a deixarem entrar. Ela cumprimenta os cúmplices dele e depois senta-se ao colo dele. Automaticamente, o Joaquim desloca a mão dele para a colocar no traseiro dela. Repara: eu não estou a julgá-lo. Acho que todos faríamos o mesmo se estivéssemos na posição dele. E não será isso também um exemplo do quão boa é a escrita e a realização do filme? Identificamo-nos até com os maus. O Joaquim de Almeida fala, no filme, da maneira como os portugueses conquistaram o Brasil sem violência, mas a subjugar as pessoas, isto como imagem para o que ele faz nas favelas, dando condições de vida às populações para elas não se importarem com o crime, mas mesmo assim ainda olhamos para ele e revemo-nos nos actos dele. Além disso, o sorriso do gajo é impagável. Depois eles chegam ao Luda e ao Tyrese, dão-lhes a parte de baixo do bikini e pimba, eles já podem pegar nas impressões digitais do Joaquim de Almeida e abrir o cofre. É um momento belíssimo de um filme estupendo que me lembrou do quanto gosto do Ludacris como actor, já que é uma pessoa que, não sabendo representar, faz-me sempre feliz com todos os aspectos da prestação dele em qualquer que seja o filme.

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