Depois de várias menções no blog dele, o Sasha Frere-Jones – que eu sigo quase religiosamente – escreve sobre Buraka Som Sistema na New Yorker.
segunda-feira, outubro 26, 2009
sexta-feira, outubro 23, 2009
Assustador
O Greg Tate, num texto do Village Voice sobre o Michael Jackson quando este morreu há uns meses, lançava uma hipótese que é algo assustadora:
The scariest thing about the Motown legacy, as my father likes to argue, is that you could have gone into any Black American community at the time and found raw talents equal to any of the label's polished fruit: the Temptations, Marvin Gaye, Diana Ross, Stevie Wonder, Smokey Robinson, or Holland-Dozier-Holland—all my love for the mighty D and its denizens notwithstanding. Berry Gordy just industrialized the process, the same as Harvard or the CIA has always done for the brightest prospective servants of the Evil Empire.
Ontem, no Guardian, numa peça sobre o Numero Group – fiquei com imensa vontade de, quando tiver dinheiro, comprar a tal última compilação de luxo que sai agora dessa editora de reedições obscuras –, o Simon Reynolds fala do mesmo:
The music industry is a harsh, cruel business at the best of times, but it seems particularly so in black music if only because – from Detroit, MI to Kingston, Jamaica to Bow, E3 – there is such an overflowing wellspring of talent that it can often seem arbitrary who gets to succeed and who never gets the break. So many of the groups unearthed by Numero are only a notch away from being Booker T and the MGs, or the Temptations, or Martha and the Vandellas.
At the same time I can't help wondering if it makes sense for someone like me to spend time on historically marginal music when I've yet to "do" Ray Charles or Sam Cooke, i.e. incontestably epochal artists in the history of American music. As the series expands (Smart's Palace is the eleventh) Shipley acknowledges feeling "a bit of fatigue with Eccentric Soul … they do become variations on a theme. It's the same story: black musicians facing the same problems." The inexhaustible wellspring of black musical creativity can be … well, exhausting.
Talvez seja por isto que há muita gente racista. Por falta de tempo e paciência.
The scariest thing about the Motown legacy, as my father likes to argue, is that you could have gone into any Black American community at the time and found raw talents equal to any of the label's polished fruit: the Temptations, Marvin Gaye, Diana Ross, Stevie Wonder, Smokey Robinson, or Holland-Dozier-Holland—all my love for the mighty D and its denizens notwithstanding. Berry Gordy just industrialized the process, the same as Harvard or the CIA has always done for the brightest prospective servants of the Evil Empire.
Ontem, no Guardian, numa peça sobre o Numero Group – fiquei com imensa vontade de, quando tiver dinheiro, comprar a tal última compilação de luxo que sai agora dessa editora de reedições obscuras –, o Simon Reynolds fala do mesmo:
The music industry is a harsh, cruel business at the best of times, but it seems particularly so in black music if only because – from Detroit, MI to Kingston, Jamaica to Bow, E3 – there is such an overflowing wellspring of talent that it can often seem arbitrary who gets to succeed and who never gets the break. So many of the groups unearthed by Numero are only a notch away from being Booker T and the MGs, or the Temptations, or Martha and the Vandellas.
At the same time I can't help wondering if it makes sense for someone like me to spend time on historically marginal music when I've yet to "do" Ray Charles or Sam Cooke, i.e. incontestably epochal artists in the history of American music. As the series expands (Smart's Palace is the eleventh) Shipley acknowledges feeling "a bit of fatigue with Eccentric Soul … they do become variations on a theme. It's the same story: black musicians facing the same problems." The inexhaustible wellspring of black musical creativity can be … well, exhausting.
Talvez seja por isto que há muita gente racista. Por falta de tempo e paciência.
Michael Ian Black, deprimido
Pode estar a gozar ou a falar a sério, mas o Michael Ian Black tem dois posts incríveis sobre a depressão dele no seu óptimo blog. Como é que alguém que pertenceu ao The State e pertence a Stella – não gosto muito do Michael and Michael Have Issues – pode ser cronicamente deprimido? É muito triste, mas bem escrito e até me faz rir.
segunda-feira, outubro 19, 2009
Ali boma yé
O arquivo inteiro da revista Life até ao final de 1972 está online. Calha bem, porque nas últimas semanas procurei, em vão, esta edição de 1971 cuja capa é a Fight of the Century, o primeiro combate entre o Muhammad Ali e o Joe Frazier no Madison Square Garden. Ali perdeu, mas viria a ganhar os dois combates seguintes. O texto, chamado Ego, é do Norman Mailer e algumas das fotografias são do Frank Sinatra, daí o meu interesse. Anos depois o Mailer viria a escrever The Fight, sobre o Rumble in the Jungle, quando o Ali ganhou ao George Foreman no Zaire e voltou a ser o campeão (foi ao ler esse livro que surgiu o meu interesse, "Ali boma yé" era o que se gritava em Kinshasa, algo como "Ali mata-o", o que fica mal para título de post porque o Ali perdeu este combate específico). Sempre pensei que o Frank Sinatra não tivesse conseguido bilhetes bons para a luta, e por isso é que tinha ido como fotógrafo. Mas, segundo o editorial, ele já tinha bilhetes e planeava tirar fotografias, a Life é que lhe pediu para ver algumas delas e publicá-las. Três campeões, uma boa maneira de estrear este arquivo.
Aborrecimento #2
Mais que isso, dou por mim com a canção do genérico do Bored to Death na cabeça. Já não me acontecia desde o 30 Rock.
Aborrecimento
O Gene Siskel – diz o Roger Ebert, que eu não tenho idade para saber quem era o Gene Siskel – perguntava várias vezes: "Is this film more interesting than a documentary of the same actors having lunch?" E às vezes não era. Bored to Death podia perfeitamente ser assim. Quer dizer, é o Jason Schwartzman com o Zach Galifianakis e o Ted Danson – já tive sonhos parecidos que a Igreja nunca aprovaria –, e, independentemente da premissa, eu veria qualquer que fosse o projecto em que estivessem os três envolvidos. Sem sequer pestanejar. Ao princípio foi isso que fiz.
Há tantas séries e tantos filmes que prometem, pelo elenco, pela gente envolvida, pela premissa, e depois vê-se e não são nada de especial. Sim, sei que sou culpado por demasiada excitação por projectos que depois não dão em nada, ou que dou veredictos demasiado cedo, sem me saber proteger de futuros fiascos. Mas desta vez tudo correu bem. Depositei a minha fé em algo e foi recompensado.
Nem sempre foi assim. A princípio, passei dois episódios a ver bons diálogos, boas piadas, mas sem eu querer saber muito da série. Um escritor não consegue escrever o segundo romance e põe um anúncio no Craigslist para ser detective privado, isto depois de reler um livro do Raymond Chandler. Ainda por cima a namorada acabou com ele. Então começa a receber, na parte kitsch da coisa, quase a imitar o fumo e as mulheres que entram no escritório dos detectives dos film noir e o caraças, clientes e a resolver os casos. Sempre com medo, cheio de neuroses e sem grande auto-confiança. O que, sim, admito, é uma boa ideia, mas consegue esgotar-se em poucos minutos.
Mas chega o terceiro episódio e nem sequer há um caso. Nada disso. Há um episódio que, do início ao fim, é brilhante. E passo do gostar muito ao adorar em segundos. Tem o Jim Jarmusch a fazer dele próprio, o cabelo do Jim Jarmusch, o Jim Jarmusch a andar de bicicleta num loft e a falar com o Ted Danson (o cabelo deles é tão bonito e parecido, até a própria personagem do Danson diz que o Jarmusch tem óptimo cabelo). Quase que me fez perdoar o aborrecimento que foi o último do Jarmusch (duas horas a fazer exactamente o mesmo para no fim ir matar o Bill Murray?). E duas ou três frases memoráveis, como a do pai da miúda menor que o Schwartzman quase leva para a cama: “Lives don’t change, we simply become more comfortable with our core misery, which is a form of happiness."
Param-me na rua – porque sabem que eu gosto desta gente, e na verdade só aconteceu duas vezes e só foi na rua, ninguém me parou propriamente assim do nada – e perguntam-me se tenho visto Bored to Death, e todos concordamos que o terceiro episódio foi brilhante. E foi. E é pouco provável que algum dos próximos episódios seja tão bom. Entre a parte do detective privado, kitsch, tosca, até quase banal e ridícula, está tudo cheio de referências a alta cultura, livros e filmes e o caraças, mas não é preciso conhecê-las para rir ou gostar daquilo, só para atingir certas piadas (no episódio de ontem a personagem do Danson diz que as revistas do Jann Wenner começaram a vender quando ele se tornou gay). E acho que, à custa da série, vou comprar um ou dois livros do Jonathan Ames, o tipo que a criou e que dá o nome à personagem do Schwartzman.
Acredito que aquilo de que mais gosto, que me diz mais, tem um bom balanço entre coração e piada. É isso que procuro em tudo, quer seja no que faço ou no que vejo. Não é sempre assim. Mas às vezes gosto de coisas que só têm um). E dou por mim a querer saber desta gente toda, e não só da personagem do Zach Galafianakis (por razões óbvias de identificação). Mesmo que, à partida – e especialmente a personagem do Jason Schwartzman –, aquela gente pudesse ser demasiado estilizada para querermos saber deles. A saber mais ou menos o que que tipo de coisas é que dizem, que pensam, as ideias estranhas e até doentias do Danson e o do Galafianakis, por onde é que podem surpreender, etc. Isso, para mim, é boa escrita. Se houver umas piadas pelo meio, ainda melhor. Há isso tudo aqui, e é por isso que as minhas segundas-feiras ganharam um ritual.
Há tantas séries e tantos filmes que prometem, pelo elenco, pela gente envolvida, pela premissa, e depois vê-se e não são nada de especial. Sim, sei que sou culpado por demasiada excitação por projectos que depois não dão em nada, ou que dou veredictos demasiado cedo, sem me saber proteger de futuros fiascos. Mas desta vez tudo correu bem. Depositei a minha fé em algo e foi recompensado.
Nem sempre foi assim. A princípio, passei dois episódios a ver bons diálogos, boas piadas, mas sem eu querer saber muito da série. Um escritor não consegue escrever o segundo romance e põe um anúncio no Craigslist para ser detective privado, isto depois de reler um livro do Raymond Chandler. Ainda por cima a namorada acabou com ele. Então começa a receber, na parte kitsch da coisa, quase a imitar o fumo e as mulheres que entram no escritório dos detectives dos film noir e o caraças, clientes e a resolver os casos. Sempre com medo, cheio de neuroses e sem grande auto-confiança. O que, sim, admito, é uma boa ideia, mas consegue esgotar-se em poucos minutos.
Mas chega o terceiro episódio e nem sequer há um caso. Nada disso. Há um episódio que, do início ao fim, é brilhante. E passo do gostar muito ao adorar em segundos. Tem o Jim Jarmusch a fazer dele próprio, o cabelo do Jim Jarmusch, o Jim Jarmusch a andar de bicicleta num loft e a falar com o Ted Danson (o cabelo deles é tão bonito e parecido, até a própria personagem do Danson diz que o Jarmusch tem óptimo cabelo). Quase que me fez perdoar o aborrecimento que foi o último do Jarmusch (duas horas a fazer exactamente o mesmo para no fim ir matar o Bill Murray?). E duas ou três frases memoráveis, como a do pai da miúda menor que o Schwartzman quase leva para a cama: “Lives don’t change, we simply become more comfortable with our core misery, which is a form of happiness."
Param-me na rua – porque sabem que eu gosto desta gente, e na verdade só aconteceu duas vezes e só foi na rua, ninguém me parou propriamente assim do nada – e perguntam-me se tenho visto Bored to Death, e todos concordamos que o terceiro episódio foi brilhante. E foi. E é pouco provável que algum dos próximos episódios seja tão bom. Entre a parte do detective privado, kitsch, tosca, até quase banal e ridícula, está tudo cheio de referências a alta cultura, livros e filmes e o caraças, mas não é preciso conhecê-las para rir ou gostar daquilo, só para atingir certas piadas (no episódio de ontem a personagem do Danson diz que as revistas do Jann Wenner começaram a vender quando ele se tornou gay). E acho que, à custa da série, vou comprar um ou dois livros do Jonathan Ames, o tipo que a criou e que dá o nome à personagem do Schwartzman.
Acredito que aquilo de que mais gosto, que me diz mais, tem um bom balanço entre coração e piada. É isso que procuro em tudo, quer seja no que faço ou no que vejo. Não é sempre assim. Mas às vezes gosto de coisas que só têm um). E dou por mim a querer saber desta gente toda, e não só da personagem do Zach Galafianakis (por razões óbvias de identificação). Mesmo que, à partida – e especialmente a personagem do Jason Schwartzman –, aquela gente pudesse ser demasiado estilizada para querermos saber deles. A saber mais ou menos o que que tipo de coisas é que dizem, que pensam, as ideias estranhas e até doentias do Danson e o do Galafianakis, por onde é que podem surpreender, etc. Isso, para mim, é boa escrita. Se houver umas piadas pelo meio, ainda melhor. Há isso tudo aqui, e é por isso que as minhas segundas-feiras ganharam um ritual.
sexta-feira, outubro 09, 2009
Big Baby Jesus
Obrigado, pessoa que colou esta imagem do Ol' Dirty Bastard pela Baixa, por alegrares os meus dias e noites. Se te identificares e me provares que foste tu pago-te uma imperial um dia destes. Aposto que ele, se não tivesse infelizmente falecido, também te pagaria uma imperial, ou dar-te-ia um bafo de crack ou algo parecido. Ou talvez ele apenas diria "I'll fuck yo' ass up" por andares a espalhar a imagem dele por aí. Nunca saberemos. Só sei que te tenho de agradecer alguns sorrisos que me provocaste.
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