Uma pequena parte de mim morreu hoje. E valeu a pena, acho eu. Vou ter saudades – e muitas – dos recaps do Videogum, que eram uma das melhores coisas do mundo. Bem, teremos sempre o "Hey, what's up with Topher Grace?", bebé.
segunda-feira, maio 24, 2010
domingo, maio 23, 2010
Renovação do ódio
Há dias em que saio de casa e adoro o mundo e as pessoas que nele habitam. Vou pela rua a andar e a cantar e a dançar e às vezes até espalho pelos outros – essas pessoas que adoro – a minha contagiante boa disposição. Ora, isso é péssimo e nocivo para o mundo. As nossas vidas precisam de um pouco de ódio para equilibrar a balança. E, ciclicamente, eu preciso de algo que renove o meu ódio por pessoas e gente. Por isso é que estou contente (por estar zangado) outra vez: chegou a época dos festivais de Verão.
O Rock in Rio é um centro comercial gigante que não vende nada que tu queiras comprar. E isso atrai imensa gente. Tudo começou no metro na sexta-feira à tarde. Foi aí que vi a minha primeira patilha à mitra do fim-de-semana. Estava longe de ser a última. Vinha associada, como tantas outras, a um corpo de culturista, cabelo descolorado em cima com quantidades industriais de gel, bem como a uma namorada a condizer, com rabo saído à stripper. Basicamente, era o primeiro de muitos casais com a colecção toda da D&G.
Por falar nisso, tenho uma sugestão que melhoraria o mundo muito mais que um milhão de edições do Rock in Rio. Decapitação automática para todos os clientes da D&G. Era simples e eficaz e nada injusto. Pensa bem. Há justificação para ser cliente da D&G? Não. É só uma ideiazinha, mas se todos nós tivessemos ideias destas, talvez a existência do Rock in Rio não fosse necessária, porque o mundo já estaria salvo e não seria preciso estar a lutar por um mundo melhor.
Mas o Rock in Rio existe e possibilita experiências que eu nunca teria de outra maneira. Por exemplo, descobri um corte de cabelo à DJ Pauly D do Jersey Shore, o que mostra que, felizmente, essa soberba série já tem repercussões por cá, o que é muito positivo. O recinto está desenhado de maneira que, dentro do teu campo de visão, nunca haja menos que dois logótipos de marcas importantes nem menos de vinte pessoas que tu queiras executar sem julgamento. Alguém me explica por que raio é que há pessoas que, não sendo o Bruce Willis a fazer de John McClane, têm o desplante de sair à rua de wife beater (não há justificação possível para isso, tal como não há justificação possível para fazer compras na D&G). Ou, pior, de manga cava. Há quem pareça ter passado o ano inteiro a malhar no ginásio para mostrar os músculos num festival de Verão.
Neste centro comercial vende-se tudo menos música. Há uma loja da Fnac que vende no máximo dos máximos dez álbuns diferentes, dois ou três livros e um ou outro DVD. Tirando isso, não há mais música à venda. Há, sim, stands em que "celebridades" são mestres de cerimónias e animam as pessoas com piadas terríveis. Num stand da Etic a dizer "THE ETIC SHOW" atrás está o Manuel Marques a dizer "se calhar devia imitar a Shakira para me ouvirem". Um bocado abaixo há uma coisa que diz "Control Peep Show" e tem raparigas de coro a dançar ao som de canções de cabaré escolhidas pelo Gimba (alguém que adoro do fundo do coração e tinha uma camisa incrivelmente feia, a condizer com o ambiente). Atrás das dançarinas, o mestre de cerimónias: Quimbé. Nunca percebi bem quem é o Quimbé nem o que ele faz na realidade, mas a falta de piada dele e o facto de haver gente a rir com as suas piadas terríveis é daquelas coisas que me dão uma injecção de ódio pelas pessoas.
Não sou preto, mas a forma como o John Mayer pega nos blues e noutras músicas negras e transforma aquilo nas suas canções anodinamente hediondas ofende-me pessoalmente. A maior parte das coisas de que gosto ou são feitas por pretos ou por brancos que querem ser pretos e tocar música de pretos e falham redondamente quando o tentam. Está aí a piada. Se calhar o problema do Mayer é saber tocar realmente guitarra. É que, a julgar pelo que ele diz à Rolling Stone e pela maneira como se portava quando era convidado do Conan, o Mayer até é um gajo com piada e adorava que isso se notasse nas canções terríveis dele.
Apesar de gostar do Elton John (e ouvir "Tiny Dancer" ao vivo é incrível, não quero saber se não gostas da canção por causa do Almost Famous e do Cameron Crowe ser idiota, tu é que és idiota, vai-te embora e pára de me chatear), as únicas razões que eu tinha para ir (além do male bonding que é sempre reforçado neste tipo de eventos em que um gajo tem de andar em pé de um lado para o outro à seca) estavam no segundo dia eram os Major Lazer (por causa do Skerrit Bwoy) e o gajo dos XX (não tenho qualquer apreço pelos XX, mas os sets do gajo, com dubstep porreiro e pop, são incríveis).
O tipo dos XX esvaziou a tenda electrónica, que no dia antes tinha estado cheia de gajos que pensavam que estavam no Pacha de Ofir. T-shirts de gola em V e tipos que se punham às cavalitas uns dos outros e punham as palmas das mãos no ar para puxar pela malta eram o complemento perfeito para DJs que passavam sopros manhosos enquanto punham o dedo no ar. Abominável. Ou seja, os mitras não gostam de dubstep (tirando quatro ou cinco pastilhados que dançavam como se aquilo fosse bailado), como a maior parte dos fãs de XX odiariam os sets do gajo (mas graças a Deus que um puto que se veste de preto e tem ar de ter a discografia completa dos Cure não entra por esse lado como DJ).
O Skerrit Bwoy não tem qualquer tipo de talento descernível, a não ser o facto de ser o Skerrit Bwoy 24 horas por dia, especialmente em cima de um palco ou de uma coluna. Veio só o Diplo (o Switch ficou noutro sítio qualquer), o Skerrit Bwoy e duas dançarinas que serviam para colmatar o desconhecimento e a vergonha do público perante o daggering (provavelmente, a melhor dança de sempre). Houve pouco daggering, mas foi bom daggering, com o Skerrit a vergá-las sorridentes e a simular a cópula. A música era porreira, mas soa melhor em disco, talvez pelo facto de o Skerrit ser um mero hype man que praticamente não se ouve e, assim, o Diplo não puxar tanto pelos vocalistas pré-gravados.
Não estava cheio, as pessoas devem ter ficado cansadas depois dos 2 Many DJs, que fizeram um set que considero ser moralmente questionável. Tocam as mesmas músicas de sempre, com passagens perfeitas, sem qualquer erro ou espaço de manobra. Parece estar tudo pré-gravado. Não havia imagens nos ecrãs, por isso até duvido que eles tenham estado lá. Pode acusar-se os Daft Punk de fazer o mesmo, mas nunca vi os Daft Punk ao vivo e uma vez quando foram com o Kanye West aos Grammies eles estavam a tocar nuns botõezinhos e por isso aquilo é ao vivo, estás a ver? Isto podia nem ser, já que havia enimações atrás dos gajos que eram as capas dos discos que eles estavam a tocar e a alternar, em tempo real. Além disso, porra, devia ser proibido passar-se New Order e, duas malhas depois, Joy Division (agora que penso nisso, devia ser proibido passar-se Joy Division, outra medida por um mundo melhor).
Adorava ter tido coragem/companhia para experimentar o daggering. Teria tornado a minha (má) experiência num mau festival em algo muito mais proveitoso e memorável. Às vezes penso que, passada a fase da adolescência do elitismo e o caraças de só ouvir cenas desconhecidas (ou que pensava eu serem desconhecidas) até tenho uns gostos bastante mainstream. Mas vou a um festival destes e fico impressionado com aquilo em que as pessoas caem. Mesmo. No último episódio do 30 Rock (que foi especialmente bom numa temporada assim-assim – o que não quer dizer que não continue a ser uma das melhores séries cómicas do mundo de sempre), a Liz Lemon conhece o Matt Damon e, em conversa, ela diz: "I hate people too!" Senti-me assim. Por falar nisso, também é especialmente doloroso lembrar-me de que o Chuck Lorre tem duas séries horríveis no ar (e vem aí mais uma a caminho, sobre pessoas gordas, o tópico mais brejeiro de sempre, óptimo para um gajo que escreve comédia tão horrível) e o 30 Rock não é visto assim por tanta gente, ou seja: AS PESSOAS SÃO ESTÚPIDAS. Felizmente, tive alguns colegas com quem partilhar o ódio. É que, quando se odeia pessoas, não faz sentido deixar esse ódio todo para nós. É bonito partilhá-lo com os outros. O mundo é um sítio melhor assim.
O Rock in Rio é um centro comercial gigante que não vende nada que tu queiras comprar. E isso atrai imensa gente. Tudo começou no metro na sexta-feira à tarde. Foi aí que vi a minha primeira patilha à mitra do fim-de-semana. Estava longe de ser a última. Vinha associada, como tantas outras, a um corpo de culturista, cabelo descolorado em cima com quantidades industriais de gel, bem como a uma namorada a condizer, com rabo saído à stripper. Basicamente, era o primeiro de muitos casais com a colecção toda da D&G.
Por falar nisso, tenho uma sugestão que melhoraria o mundo muito mais que um milhão de edições do Rock in Rio. Decapitação automática para todos os clientes da D&G. Era simples e eficaz e nada injusto. Pensa bem. Há justificação para ser cliente da D&G? Não. É só uma ideiazinha, mas se todos nós tivessemos ideias destas, talvez a existência do Rock in Rio não fosse necessária, porque o mundo já estaria salvo e não seria preciso estar a lutar por um mundo melhor.
Mas o Rock in Rio existe e possibilita experiências que eu nunca teria de outra maneira. Por exemplo, descobri um corte de cabelo à DJ Pauly D do Jersey Shore, o que mostra que, felizmente, essa soberba série já tem repercussões por cá, o que é muito positivo. O recinto está desenhado de maneira que, dentro do teu campo de visão, nunca haja menos que dois logótipos de marcas importantes nem menos de vinte pessoas que tu queiras executar sem julgamento. Alguém me explica por que raio é que há pessoas que, não sendo o Bruce Willis a fazer de John McClane, têm o desplante de sair à rua de wife beater (não há justificação possível para isso, tal como não há justificação possível para fazer compras na D&G). Ou, pior, de manga cava. Há quem pareça ter passado o ano inteiro a malhar no ginásio para mostrar os músculos num festival de Verão.
Neste centro comercial vende-se tudo menos música. Há uma loja da Fnac que vende no máximo dos máximos dez álbuns diferentes, dois ou três livros e um ou outro DVD. Tirando isso, não há mais música à venda. Há, sim, stands em que "celebridades" são mestres de cerimónias e animam as pessoas com piadas terríveis. Num stand da Etic a dizer "THE ETIC SHOW" atrás está o Manuel Marques a dizer "se calhar devia imitar a Shakira para me ouvirem". Um bocado abaixo há uma coisa que diz "Control Peep Show" e tem raparigas de coro a dançar ao som de canções de cabaré escolhidas pelo Gimba (alguém que adoro do fundo do coração e tinha uma camisa incrivelmente feia, a condizer com o ambiente). Atrás das dançarinas, o mestre de cerimónias: Quimbé. Nunca percebi bem quem é o Quimbé nem o que ele faz na realidade, mas a falta de piada dele e o facto de haver gente a rir com as suas piadas terríveis é daquelas coisas que me dão uma injecção de ódio pelas pessoas.
Não sou preto, mas a forma como o John Mayer pega nos blues e noutras músicas negras e transforma aquilo nas suas canções anodinamente hediondas ofende-me pessoalmente. A maior parte das coisas de que gosto ou são feitas por pretos ou por brancos que querem ser pretos e tocar música de pretos e falham redondamente quando o tentam. Está aí a piada. Se calhar o problema do Mayer é saber tocar realmente guitarra. É que, a julgar pelo que ele diz à Rolling Stone e pela maneira como se portava quando era convidado do Conan, o Mayer até é um gajo com piada e adorava que isso se notasse nas canções terríveis dele.
Apesar de gostar do Elton John (e ouvir "Tiny Dancer" ao vivo é incrível, não quero saber se não gostas da canção por causa do Almost Famous e do Cameron Crowe ser idiota, tu é que és idiota, vai-te embora e pára de me chatear), as únicas razões que eu tinha para ir (além do male bonding que é sempre reforçado neste tipo de eventos em que um gajo tem de andar em pé de um lado para o outro à seca) estavam no segundo dia eram os Major Lazer (por causa do Skerrit Bwoy) e o gajo dos XX (não tenho qualquer apreço pelos XX, mas os sets do gajo, com dubstep porreiro e pop, são incríveis).
O tipo dos XX esvaziou a tenda electrónica, que no dia antes tinha estado cheia de gajos que pensavam que estavam no Pacha de Ofir. T-shirts de gola em V e tipos que se punham às cavalitas uns dos outros e punham as palmas das mãos no ar para puxar pela malta eram o complemento perfeito para DJs que passavam sopros manhosos enquanto punham o dedo no ar. Abominável. Ou seja, os mitras não gostam de dubstep (tirando quatro ou cinco pastilhados que dançavam como se aquilo fosse bailado), como a maior parte dos fãs de XX odiariam os sets do gajo (mas graças a Deus que um puto que se veste de preto e tem ar de ter a discografia completa dos Cure não entra por esse lado como DJ).
O Skerrit Bwoy não tem qualquer tipo de talento descernível, a não ser o facto de ser o Skerrit Bwoy 24 horas por dia, especialmente em cima de um palco ou de uma coluna. Veio só o Diplo (o Switch ficou noutro sítio qualquer), o Skerrit Bwoy e duas dançarinas que serviam para colmatar o desconhecimento e a vergonha do público perante o daggering (provavelmente, a melhor dança de sempre). Houve pouco daggering, mas foi bom daggering, com o Skerrit a vergá-las sorridentes e a simular a cópula. A música era porreira, mas soa melhor em disco, talvez pelo facto de o Skerrit ser um mero hype man que praticamente não se ouve e, assim, o Diplo não puxar tanto pelos vocalistas pré-gravados.
Não estava cheio, as pessoas devem ter ficado cansadas depois dos 2 Many DJs, que fizeram um set que considero ser moralmente questionável. Tocam as mesmas músicas de sempre, com passagens perfeitas, sem qualquer erro ou espaço de manobra. Parece estar tudo pré-gravado. Não havia imagens nos ecrãs, por isso até duvido que eles tenham estado lá. Pode acusar-se os Daft Punk de fazer o mesmo, mas nunca vi os Daft Punk ao vivo e uma vez quando foram com o Kanye West aos Grammies eles estavam a tocar nuns botõezinhos e por isso aquilo é ao vivo, estás a ver? Isto podia nem ser, já que havia enimações atrás dos gajos que eram as capas dos discos que eles estavam a tocar e a alternar, em tempo real. Além disso, porra, devia ser proibido passar-se New Order e, duas malhas depois, Joy Division (agora que penso nisso, devia ser proibido passar-se Joy Division, outra medida por um mundo melhor).
Adorava ter tido coragem/companhia para experimentar o daggering. Teria tornado a minha (má) experiência num mau festival em algo muito mais proveitoso e memorável. Às vezes penso que, passada a fase da adolescência do elitismo e o caraças de só ouvir cenas desconhecidas (ou que pensava eu serem desconhecidas) até tenho uns gostos bastante mainstream. Mas vou a um festival destes e fico impressionado com aquilo em que as pessoas caem. Mesmo. No último episódio do 30 Rock (que foi especialmente bom numa temporada assim-assim – o que não quer dizer que não continue a ser uma das melhores séries cómicas do mundo de sempre), a Liz Lemon conhece o Matt Damon e, em conversa, ela diz: "I hate people too!" Senti-me assim. Por falar nisso, também é especialmente doloroso lembrar-me de que o Chuck Lorre tem duas séries horríveis no ar (e vem aí mais uma a caminho, sobre pessoas gordas, o tópico mais brejeiro de sempre, óptimo para um gajo que escreve comédia tão horrível) e o 30 Rock não é visto assim por tanta gente, ou seja: AS PESSOAS SÃO ESTÚPIDAS. Felizmente, tive alguns colegas com quem partilhar o ódio. É que, quando se odeia pessoas, não faz sentido deixar esse ódio todo para nós. É bonito partilhá-lo com os outros. O mundo é um sítio melhor assim.
segunda-feira, maio 03, 2010
CIMENTO. 2006-2010
Grande parte dos últimos quatro anos foi passada, de uma maneira ou de outra, a ser membro dos CIMENTO. Éramos três tipos que passavam música, mais nada, mas era quase como um estilo de vida. Mesmo que não estivéssemos a passar música, estávamos a comprar música, a falar sobre música, em concertos, a falar de futuros sets, de como seria bom passar isto e aquilo, de como seria bom ir aqui ou ali. Agora, ao que tudo indica, acabou.
Milhentos DJs dizem-se eclécticos, mas sabem que não podem fazer certas coisas a meio dos sets e costumam cingir-se a apenas alguns géneros. Como não-DJs, nunca soubemos o que não fazer. Não havia regras. Simon & Garfunkel no Lux? Fizemo-lo. "Tiny Dancer" do Elton John, em tantos sítios, abraçados, a cantar a letra toda? Também. Sem problemas. Stooges, Sonic Youth e Metallica lado a lado com Beyoncé, Rihanna e Kelis? Aconteceu. Os The Tough Alliance em todos os sets, mesmo em sítios em que só nós os três é que os conhecíamos? Não importava, adoramo-los, são, tirando os Wu-Tang Clan, a banda mais CIMENTO. de sempre.
Há umas semanas fui ao Pacha de Madrid. No andar de baixo a música era terrível, alternada com algo decente muito de vez em quando. Aborrecido, encontrei um segundo andar que passava rap e r&b e no qual toda a gente dançava feliz e contente e alegre. Eu fiz o mesmo. Gosto das canções, mas senti-me sujo. Sei que a música de dança e as discotecas devem ser anónimas, com o foco sobre a música e não sobre a pessoa que a passa, e que é tudo isso que faz a cultura de DJs ser diferentes. Todas aquelas canções estavam escolhidas para agradar ao máximo a quem lá ia, sem qualquer personalidade ou critério. O DJ não se mexia, não parecia ter grande prazer no que estava a fazer. Nós, CIMENTO., não sabíamos fazer passagens (às vezes esforçávamo-nos mais ou menos e lá saía uma sem querer), mas sabíamos divertir-nos e ter prazer no que estávamos a fazer. Sabíamos dançar e ficar contentes e passar-nos completamente e, parece, passar esse entusiasmo para as pessoas.
Há uns anos, íamos mais ou menos uma vez por semana à Carbono comprar discos. As prateleiras dos cinco euros eram todas nossas. Recheámos as nossas malas com discos de rap e r&b e éramos, invariavelmente, julgados pelos tipos claramente roquistas que estavam ao balcão. Tenho a certeza de que se riam quando nos íamos embora. Éramos óptimos clientes, clientes habituais, mas éramos sempre mal tratados. Mesmo assim, era um ritual porreiro, que mostrava como encarávamos isto tudo: pensávamos constantemente sobre as malhas que queríamos passar e ansiávamos pelo próximo set para podermos fazê-lo. Entretanto abriu a Louie Louie e a Carbono não passa de uma má memória. Só que há uma atenuante: não é má. Por muito que discutíssemos ou amuássemos (e eu à cabeça), as memórias, pelo menos as minhas, são todas boas.
Na segunda metade de 2007, havia sets de CIMENTO. praticamente todas as semanas. 2008 também foi um bom ano, mas lá para o fim começou a escassear. A escassez agravou-se em 2009 e em 2010, sets, mal vê-los. Tudo bem. Os discos iam acumulando e a vontade de passá-los também, sem qualquer escoamento. Fomos a muitos sítios. O principal, a nossa casa, sempre foi o Left, onde começámos e, pelos vistos, acabámos. Mas também fomos presença assídua durante uns tempos no Mini-Mercado (lembro especialmente a passagem de Agosto para Setembro de 2007 e o meu aniversário em 2007 e 2008), tocámos uma vez no Lux, umas três ou quatro vezes no Lounge, duas vezes (noites incríveis) na Casa Conveniente, fomos ao Plano B no Porto (com a Joana M. e a Sara, obrigado), à Sociedade Harmonia Eborense em Évora (com a Joana B., talvez a maior groupie de sempre de CIMENTO.), ao Cinema Paraíso em Leiria (foram acompanhar-nos o Nicolai, a Joana B. e o Ramos), um casamento, ao primeiro aniversário do Museu Berardo, a uma festa da Católica no Porto, a Santa Maria da Feira, a uma festa da Time Out. Não me lembro de mais agora, mas, por quatro anos, pude andar por Lisboa e por Portugal a passar música com dois dos meus melhores amigos. Podia ter sido muito pior. Passei de ficar em casa por não ter nada para fazer para fazer o melhor que havia para fazer. Até, uma vez no Lux, fui reconhecido por duas raparigas, que me perguntaram se não era dos CIMENTO. "Gostamos bué de CIMENTO., vimo-vos uma vez no Mini-Mercado." Foi o meu único momento de fama.
Fizemos dançar muitas pessoas e, especialmente, fizemo-nos dançar a nós próprios. Amigos e amigas, alguns que conheci lá, ou não, gente como várias Joanas, a Carin, a Sara, a Maria, a Rita, a Ana e, last but not least, até a Nika. E montes de outras pessoas, espero eu. Cada segundo valeu a pena e foi provavelmente das melhores coisas que já me aconteceram na vida desde sempre. Espero que sejamos como o Jay-Z (alguém que os três adoramos) e regressemos da reforma daqui a pouco tempo.
Milhentos DJs dizem-se eclécticos, mas sabem que não podem fazer certas coisas a meio dos sets e costumam cingir-se a apenas alguns géneros. Como não-DJs, nunca soubemos o que não fazer. Não havia regras. Simon & Garfunkel no Lux? Fizemo-lo. "Tiny Dancer" do Elton John, em tantos sítios, abraçados, a cantar a letra toda? Também. Sem problemas. Stooges, Sonic Youth e Metallica lado a lado com Beyoncé, Rihanna e Kelis? Aconteceu. Os The Tough Alliance em todos os sets, mesmo em sítios em que só nós os três é que os conhecíamos? Não importava, adoramo-los, são, tirando os Wu-Tang Clan, a banda mais CIMENTO. de sempre.
Há umas semanas fui ao Pacha de Madrid. No andar de baixo a música era terrível, alternada com algo decente muito de vez em quando. Aborrecido, encontrei um segundo andar que passava rap e r&b e no qual toda a gente dançava feliz e contente e alegre. Eu fiz o mesmo. Gosto das canções, mas senti-me sujo. Sei que a música de dança e as discotecas devem ser anónimas, com o foco sobre a música e não sobre a pessoa que a passa, e que é tudo isso que faz a cultura de DJs ser diferentes. Todas aquelas canções estavam escolhidas para agradar ao máximo a quem lá ia, sem qualquer personalidade ou critério. O DJ não se mexia, não parecia ter grande prazer no que estava a fazer. Nós, CIMENTO., não sabíamos fazer passagens (às vezes esforçávamo-nos mais ou menos e lá saía uma sem querer), mas sabíamos divertir-nos e ter prazer no que estávamos a fazer. Sabíamos dançar e ficar contentes e passar-nos completamente e, parece, passar esse entusiasmo para as pessoas.
Há uns anos, íamos mais ou menos uma vez por semana à Carbono comprar discos. As prateleiras dos cinco euros eram todas nossas. Recheámos as nossas malas com discos de rap e r&b e éramos, invariavelmente, julgados pelos tipos claramente roquistas que estavam ao balcão. Tenho a certeza de que se riam quando nos íamos embora. Éramos óptimos clientes, clientes habituais, mas éramos sempre mal tratados. Mesmo assim, era um ritual porreiro, que mostrava como encarávamos isto tudo: pensávamos constantemente sobre as malhas que queríamos passar e ansiávamos pelo próximo set para podermos fazê-lo. Entretanto abriu a Louie Louie e a Carbono não passa de uma má memória. Só que há uma atenuante: não é má. Por muito que discutíssemos ou amuássemos (e eu à cabeça), as memórias, pelo menos as minhas, são todas boas.
Na segunda metade de 2007, havia sets de CIMENTO. praticamente todas as semanas. 2008 também foi um bom ano, mas lá para o fim começou a escassear. A escassez agravou-se em 2009 e em 2010, sets, mal vê-los. Tudo bem. Os discos iam acumulando e a vontade de passá-los também, sem qualquer escoamento. Fomos a muitos sítios. O principal, a nossa casa, sempre foi o Left, onde começámos e, pelos vistos, acabámos. Mas também fomos presença assídua durante uns tempos no Mini-Mercado (lembro especialmente a passagem de Agosto para Setembro de 2007 e o meu aniversário em 2007 e 2008), tocámos uma vez no Lux, umas três ou quatro vezes no Lounge, duas vezes (noites incríveis) na Casa Conveniente, fomos ao Plano B no Porto (com a Joana M. e a Sara, obrigado), à Sociedade Harmonia Eborense em Évora (com a Joana B., talvez a maior groupie de sempre de CIMENTO.), ao Cinema Paraíso em Leiria (foram acompanhar-nos o Nicolai, a Joana B. e o Ramos), um casamento, ao primeiro aniversário do Museu Berardo, a uma festa da Católica no Porto, a Santa Maria da Feira, a uma festa da Time Out. Não me lembro de mais agora, mas, por quatro anos, pude andar por Lisboa e por Portugal a passar música com dois dos meus melhores amigos. Podia ter sido muito pior. Passei de ficar em casa por não ter nada para fazer para fazer o melhor que havia para fazer. Até, uma vez no Lux, fui reconhecido por duas raparigas, que me perguntaram se não era dos CIMENTO. "Gostamos bué de CIMENTO., vimo-vos uma vez no Mini-Mercado." Foi o meu único momento de fama.
Fizemos dançar muitas pessoas e, especialmente, fizemo-nos dançar a nós próprios. Amigos e amigas, alguns que conheci lá, ou não, gente como várias Joanas, a Carin, a Sara, a Maria, a Rita, a Ana e, last but not least, até a Nika. E montes de outras pessoas, espero eu. Cada segundo valeu a pena e foi provavelmente das melhores coisas que já me aconteceram na vida desde sempre. Espero que sejamos como o Jay-Z (alguém que os três adoramos) e regressemos da reforma daqui a pouco tempo.
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