segunda-feira, agosto 27, 2012

Expendables 2

Fui ver o Expendables 2. O Chuck Norris é, como sempre, ridículo, grande parte da cena meta-referencial não funciona (saídas inteligentes vindas de bocas que nem frases normais conseguem acabar, como a do Dolph Lundgren ou a do Schwarzenegger nos dias que correm, é algo muito parvo), o Van Damme tem presença, o Sly continua a divertir-se como o caraças, o Jason Statham é um boss, o Bruce Willis também fica bem ali, é mil vezes menos divertido que o primeiro, talvez por ter demasiada consciência da sua condição, etc. Mas o que me surpreendeu mais foi a tradução do Luís Zanguineto. Há dois anos, foi o Expendables que me fez ficar a conhecer o trabalho magnífico de um dos tradutores mais incríveis que alguma vez tivemos por cá. O rapaz também trabalhou na sequela e finalmente, talvez depois de imensa gente se ter insurgido contra a falta de respeito pelas pessoas que pagam bilhetes de cinema para ver filmes que foi o facto de ele traduzir "I'm out" como "estou do lado de fora", aprendeu que isso quer dizer "já não tenho balas" ou algo parecido. Escreve até a expressão várias vezes. A tradução é apenas fraca, em vez de estupidamente péssima, como é hábito do Zanguineto. Se não fosse o facto de ele este ano já me ter feito quase vomitar e sair da sala de cinema completamente irado com o The Five Year Engagement e o Attack the Block, tratados inacreditáveis de imbecilidade e de falta de competência, diria que ele melhorou, creceu, e é melhor naquilo que faz. Mas não consigo acreditar nisso.

sexta-feira, maio 04, 2012

MCA

Devo tanto ao MCA que até me assusta pensar nisso. Fiquei tão triste, foda-se.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Dúvida


Bell Biv DeVoe - Do Me por Stylz

Às vezes tenho dificuldade em perceber se esta é a melhor canção de todo o sempre ou se é apenas a melhor canção do mundo.

domingo, novembro 20, 2011

Nico

Caros senhores que fazem os Os Compadres e Nico à Noite: homonímia não é humor e não sei como é que vocês conseguem dormir à noite.

sábado, novembro 12, 2011

Tower Heist

Não é estranho que, no dia a seguir ao Brett Ratner se demitir da produção dos Óscares por ter feito um comentário homofóbico, se estreie em Portugal o último filme dele em que "bitch" é traduzido como "panilas" nas legendas, adicionando homofobia onde ela não existe? A Zon devia repensar seriamente a política em relação às traduções. Esta nem é do Luís Zanguineto, é de um tipo chamado Gonçalo Sousa. Ninguém revê estas merdas? Esta gente vive mesmo de traduzir filmes? Ganha a vida a fazer merdas destas? Custa-me a acreditar.

quarta-feira, novembro 09, 2011

:(

Por um lado, é muito triste que o Eddie Murphy já não vá apresentar os Óscares. Por outro, é bom confirmar o que eu sempre soube: o Brett Ratner é o pior ser humano de sempre.

terça-feira, novembro 08, 2011

A/C Donald Glover/Childish Gambino

O teu álbum é fixe e eu percebo, tu curtes bué música indie e o caraças, mas custava-te muito não teres uma banda com guitarras no Late Night? É foleiro e ninguém, tirando os Roots e MUITO POUCOS OUTROS, consegue. Juntar rap e rock é complicado, não tentes, por favor. A sério, eu consigo ignorar na boa as guitarras na versão gravada da "Bonfire" e o facto de não seres só um Lil Wayne fraco é porreirríssimo, mas porra...

sábado, novembro 05, 2011

Eddie

"On the other hand, though, Mr. Murphy’s blend of exuberance and hostility is just what “Tower Heist” needs. Younger viewers who know him only as Dr. Dolittle and the voice of Shrek’s sidekick Donkey will catch a glimpse of an earlier, more volatile performer, and conscientious parents will hasten to add “48 Hours,” “Trading Places” and the “Beverly Hills Cop” movies to the Netflix queue." - A.O. Scott

Só precisava destas frases para passar a querer ver o Tower Heist. Que se lixe o Brett Ratner ser o pior de sempre, há coisas mais importantes na vida, nomeadamente o Eddie Murphy.

domingo, setembro 04, 2011

Uma história em vinte imagens

Há imagens que valem mais que mil palavras e o caraças, mas estar a dizer não só é estúpido e banal, é uma perda de tempo do caraças (o que não impede gente idiota de começar textos assim). É este o caso. Mais especificamente, são vinte imagens de uma cena curta mas pungente do Fast Five, um filme notável que tem o condão de ser melhor que o primeiro e o segundo (nunca vi o terceiro, muito menos aquele que se passava em Tóquio, por isso não sei dizer). Se isso não mostra evolução, não sei o que mostrará. Basicamente, a equipa do Vin Diesel e do Paul Walker e do Ludacris e do Tyrese Gibson precisa das impressões digitais do Joaquim de Almeida (traficante de droga e dono de metade do Rio de Janeiro, com um sotaque brasileiro brilhante) para abrir o cofre onde ele guarda o dinheiro. O japonês não sabe o que fazer, mas a colega dele. Quase sem diálogos (eles até podem ter passado o tempo a falar, mas não me lembro e acho que não quero saber), as imagens mostram tudo o que acontece. Lembras-te de tu e de toda a gente que tu conheces, achando que estavam a dizer algo de novo, disseram que aquela sequência em que se conta sem palavras a história da relação do velho do Up com a viúva dele eram dos melhores minutos cinematográficos dos últimos anos por serem tão brilhantes? Esquece isso e olha para isto:






















Caso não tenhas percebido, passo a explicar. Eles estão na praia, e o Joaquim de Almeida tem uma espécie de secção de um restaurante ou um bar ou um clube ou o caraças mesmo em cima da praia onde costuma estar com os capangas dele. A tipa mete-se em bikini e vai até ele. A princípio os gorilas do Joaquim não a deixam passar, mas depois ele olha para ela e, como qualquer bom criminoso poderoso, faz sinal para os capangas a deixarem entrar. Ela cumprimenta os cúmplices dele e depois senta-se ao colo dele. Automaticamente, o Joaquim desloca a mão dele para a colocar no traseiro dela. Repara: eu não estou a julgá-lo. Acho que todos faríamos o mesmo se estivéssemos na posição dele. E não será isso também um exemplo do quão boa é a escrita e a realização do filme? Identificamo-nos até com os maus. O Joaquim de Almeida fala, no filme, da maneira como os portugueses conquistaram o Brasil sem violência, mas a subjugar as pessoas, isto como imagem para o que ele faz nas favelas, dando condições de vida às populações para elas não se importarem com o crime, mas mesmo assim ainda olhamos para ele e revemo-nos nos actos dele. Além disso, o sorriso do gajo é impagável. Depois eles chegam ao Luda e ao Tyrese, dão-lhes a parte de baixo do bikini e pimba, eles já podem pegar nas impressões digitais do Joaquim de Almeida e abrir o cofre. É um momento belíssimo de um filme estupendo que me lembrou do quanto gosto do Ludacris como actor, já que é uma pessoa que, não sabendo representar, faz-me sempre feliz com todos os aspectos da prestação dele em qualquer que seja o filme.

terça-feira, agosto 09, 2011

I'm yo' Pusha

Há poucas visões tão deprimentes quanto a do Pusha T a aparecer no final do concerto do Kanye West no Sudoeste só para debitar a parte dele da "Runaway" e voltar lá para trás. Não estou a falar de um tipo desprovido de talento tipo Big Sean ou Kid Cudi ou algo do género, estou a falar de um dos grandes, de metade dos Clipse, uma banda que vendeu milhões de singles e fez a única obra-prima propriamente dita do rap dos anos 2000, o Hell Hath No Fury (pode haver discos com malhas melhores, mas nenhum disco é tão bom do início ao fim). Nem houve direito a "Kind of Like a Big Deal" ou algo do género. Nada. Só ao Kanye com aquele fato de cabedal vermelho a evocar o Eddie Murphy no Delirious. Como é natural, ninguém reparou. A imprensa portuguesa fartou-se de escrever sobre o Kanye e sobre a própria "Runaway", mas mencionar a metade de um duo bastante respeitável que estava em palco é pedir demasiado? O Kanye, mais do que um "artista" ou coisa que o valha, é um puto nerd sem grande talento (adoro a forma como ele rappa, mas ele engasga-se imenso, até mais do que em 2006, não sei é de propósito, mas começou várias malhas mais umas frases à frente do que era suposto, e mesmo quando está em pico de forma é esforçado) que soa muito bem e faz música maravilhosa, e um gajo que gosta muito de mamas (é isso, mais do que uma qualquer declaração estética, que o leva a ter dezenas de dançarinas em palco todas as noites). Mas ainda é um puto, e isso nota-se, por muito grande que a produção de palco seja (e isso é adorável). O espectáculo dele é, como é natural e seria de esperar, completamente ridículo (e incrível, nos dois sentidos da palavra, tanto no de ser inacreditável quanto o de ser espectacular), está divido em actos, começa com o gajo em cima de uma torre, tem um fundo com estátatuas e um terceiro acto que começa ao som de Vangelis com as raparigas a dançar com um pano branco por cima enquanto ele vai vestir o tal fato de cabedal. A música é óptima, como qualquer pessoa que tenha ouvido os cinco álbuns dele sabe (e ainda houve direito à parte dele da "Swagga Like Us" do T.I., em que ele diz "swagga on a hundred thousand trillion"), e às vezes esqueço-me do quanto gosto dele. Em 2004, na gala de finalistas da minha escola, pus a tocar a "Slow Jamz". Ninguém gostou. É algo que ainda acontece, é provável que seja das minhas malhas favoritas de sempre, mas ninguém gosta de ouvi-la num contexto dançante. O que é ridículo, e não no bom sentido de um espectáculo do Kanye.

domingo, agosto 07, 2011

Falling and Laughing

There is truly nothing more important than comedy. Well, that may be an overstatement. There are a few things more important than comedy but they aren’t funny. Until we make them funny. - Marc Maron, no final do discurso de abertura do Just For Laughs

Quando fui ver o Bridesmaids a um visionamento de imprensa com um amigo meu, partimo-nos a rir tão alto que, na fila da frente, um tipo e uma tipa que riam pouco, perguntaram por que é que estávamos a rir tanto. "Não tem assim tanta piada", disseram. Passo uma boa parte da minha vida em transportes públicos ora a ler ora a ouvir podcasts (muitos deles são episódios do WTF?, do supra-citado Marc Maron) e a tentar conter o riso para não parecer uma pessoa ainda mais estranha do que sou na vida real. Quando vou ao cinema e estou a ver algo hilariante, rio alto. Se não o fizer ali, onde raio é que o farei?
Porque, tal como o Maron, acredito que não há nada mais importante na vida que a comédia. Seria muito complicado para mim viver sem metade das séries, podcasts, vídeos e filmes que fazem parte da minha vida e, porra, sem me rir com elas. Quando falo delas é só porque quero partilhar o meu entusiasmo com o mundo. Não é namedropping, é apenas falar do que mais me interessa. Fora de merdas, a comédia é para mim uma das coisas mais importantes do mundo. É por isso que fico possesso quando vejo más traduções de óptimos filmes, que me insurjo contra a falta de piada da maioria dos cómicos portugueses que só fazem as piadas mais óbvias do mundo, que uma parte de mim morre cada vez que ouço as canções humorísticas feitas a martelo do Vasco Palmeirim ou que fico com vergonha alheia sempre que vejo salas cheias em silêncio a assistir aos skits ofensivamente maus com o Luís Franco-Bastos que passam antes de alguns filmes. Não é má vontade, é apenas vontade de rir e que isso seja tratado com dignidade e o respeito que merece em Portugal, algo que nunca acontece.
Não estou a fazer muito sentido, mas tudo o que eu quero na vida é que haja momentos que me façam rir tanto quanto este, que tem provavelmente uma das minhas citações cómicas favoritas de sempre* e da qual me lembro vezes sem conta:



E acredito que as pessoas que mencionei sejam excelentes seres humanos e é óptimo se conseguirem sequer fazer uma pessoa rir no mundo, porque rir é mesmo importante, mas acredito plenamente que não é com um gajo a imitar vozes (na perfeição ou não) que se vai lá.

* "Yes, it's true. This man has no dick."

segunda-feira, agosto 01, 2011

Triple trouble, y'all

Paul Feig

It's safe to say that Paul Feig changed my life. I was 14 when I first saw Freaks and Geeks, ten years ago, when it was shown on Portuguese TV. I loved it automatically and it subconsciously made a comedy geek out of me. Three years ago, when the New York Times profiled him, I was so sad that someone so great and so important to me was by all acounts a failure. Now, with the success of Bridesmaids, I'm happy for the guy, although I never met him and only talked to him on Twitter and 40 minutes on the phone. As the already published Portuguese version of this interview is short, I thought I'd post this, a somewhat more complete transcript.

Before Bridesmaids came out in the UK, you told the Guardian you still felt like a loser. Isn’t it getting harder and harder to maintain that perspective, what with all the box office success and critical acclaim?

It’s definitely more difficult. Yeah, I feel less like a failure. It’s been really nice and exciting. You go into every project hoping you’ll have an outcome like this that it’s always very shocking and demoralizing when it doesn’t.

Because stuff like Freaks and Geeks, although it’s loved but many people, failed.

A lot failed. The whole reason you make stuff is that you hope many people like it. People loved it, but audiences didn’t really find the things I did. It’s built into a much bigger thing. Sadly, at the time my things didn’t make it. I lost people money. It’s expensive, you have to make people a profit or they are less likely to hire you again.

You have two books about your own adolescent pains and you’ve written about fictional character’s adolescences in Freaks and Geeks. How do you feel that adolescence shapes people?

My adolescence certainly made me more supportive of the underdogs of the world, the ones that don’t normally get noticed. Regular movies tend to be about beautiful people going through problems or more successful people. They tend to focus on people we aspire to be. Movie stars are all very attractive and appealing. For me things have always been about being kind of an outsider. I’m not in tune with the popular, beautiful kids. My background has put me in tune with the people who were regular people, who did interesting things but nobody cared as much. To balance out all the beautiful people.

Your work seems to be grounded on a uncommon, even painfully honest sort of realism. Is that conscious?

That’s the kind of stories I want to tell. I just like to tell real stories in which things happen that don’t make you ever go “oh, that’s fake!” We relate to those stories more. I don’t find life is like the movies a lot. Rarely the things that happen are giant good things. I like smaller stories about what people are going in their lives and then making it funny.

I heard Annie Mumolo on The Q&A with Jeff Goldsmith podcast talking about how she and Kristen Wiig, who hadn’t written a feature film before, spent years going back and forth with Judd Apatow with the screenplay. Were you, as a director, part of that process?

They were doing that for a few years before I came on. I came on four or five months before shooting. We got into breaking the script down, brainstorming on that, with some of us taking a crack at things, but always giving it back to Annie and Kristen for them to putt their stamp on them. We were hard on every scene and point of the story. Many things don’t work because people aren’t hard enough, or they’ll fudge something. That’s how you get those moments when the audience doesn't believe it.

You always seem to avoid clichés, like the girls not going to Las Vegas. Is that conscious?

Judd and I have always been obsessed with that. How do you not do what all the others do? We all fall victim to this. It’s hard to separate what you’ve seen in movies and what happens in real life. You have to take a step back and ask yourself if you’re doing something because you’ve seen it before or if it would happen in reality. For me, the test is asking “what would I do in that situation?” The Vegas sequence was also a function of us saying that The Hangover had done Vegas so well, so why would we take it on? We needed Annie to do her last big screw up that gets them fired. So I asked: “what if they never get there?” It allowed her to be funny. It’s that great kind of moment where everybody lets their guard down, and usually behave poorly or weirdly. And there’s alcohol involved.

A lot seemed to go into the casting of this movie. There’s all sorts of silent roles filled with familiar faces from TV and comedy.

I don’t like wasted roles. I like when the “they went that way” roles – when people ask someone where another person went, and they say “they went that way” – are funny. Why not make them weird or interesting?.

You yourself seem to have cornered the market on this year’s 5-second comedy movie cameo. You were on Bad Teacher and you appear at the end of Bridesmaids.

My friend Jake Kasdan did that movie and he tends to put me in his work. In Bridesmaids I was playing Rita’s husband, the guy who’s a sexual dynamo. But then we decided to not ever see the guy. I cut myself out.

Is that the comedy geek in you showing off? The cast comes mainly from a varied selection of TV show. Like Chris O’Dowd is from the British show The IT Crowd and Melissa McCarthy does Mike & Molly, which doesn’t necessarily have the same fans as many of the shows that people in the movie do.

Some are like that. Chris is solely there because I’m a huge fan of The IT Crowd. And also because he came in and auditioned and was great. That’s the only way I knew him. I had never seen Mike & Molly, she got that after we did the movie. She had only shot the pilot then. Melissa had worked with many people in the before and they said she was hilarious. She completely got the role. I’d worked with Ellie Kemper on The Office, Wendi McLendon-Covey on Reno 911!, Maya Rudolph I was just a fan of and I had cast Kristen on Unaccompained Minors, her first movie. I’d also worked with Jon Hamm on Mad Men.

About Jon Hamm. How can a guy so conventionally handsome grow up to be so funny and also a comedy geek? Isn’t that weird to you?

I know. It’s a mystery to me. I’d have to say it comes out of personality. You just grow up liking comedy. He’s such a gregarious happy guy, he likes to laugh and to have a good time. The thing I love is that he’s so happy when he’s doing obscure things. He’s everywhere.

Yeah, he was doing a reading at Jon Glaser's book release party. Guys who look like that when they're young don't do that.

I love that someone like him is getting to do what he likes. He could have been a total nerd growing up. I don’t know, maybe he didn’t look like that in high school.

He did. I’ve seen photos.

Then I don’t know.

Is it true that the first time you showed up to direct a Mad Men episode you were mistaken for a cast member?

Yes, I lke that old style of dressing and the first day I showed up to the pre-production offices I was told that casting was down the hall.

I was looking at the cover of Superstud, where you’re awkwardly dressed in a Steve Martin-ish white suit and I was wondering how one go from that to being featured as a dapper gentleman in the pages of The New Yorker, GQ and Esquire.

Honestly, I always liked it back them. I liked Steve Martin’s style, the three-piece suit and all. I was just obsessed with men’s fashion, GQ always put out a compendium of how guys should dress and I bought that every year. I thought it was a great look, I was a big Groucho Marx fan and he was very judgmental against guys who don’t dress well. I personally think guys are funny when they’re doing things in a suit. It’s always funnier. John Cleese wouldn’t have been as funny if he weren’t wearing a suit.

How different was Melissa’s character on the page? I heard that she came and totally made it her own.

Melissa’s confident character used to be more nervous. People who were really good auditioned for it and played it weird, but Melissa came in and made it her own kind of weird, with that guyish attitude and liking men and being no-nonsense. It really appealed to us and made us laugh. It’s funny unexpected stuff. She’s a real master of improv and she elevated it to the next level. As soon as we had her on, we worked the script a little bit. The scene where she beats some sense into Annie was originally a debt-collecting Indian woman on the phone, giving her this hard talk about life. But why were we handing it off to a stranger? Melissa had to do it and I’m so glad we did it.

About the “are women funny?” question, don’t you feel you’ve been spoilt and sheltered from it by working with some of the funniest people alive who just happen to be women? You’ve directed Tina Fey, Amy Poehler and Mindy Kaling on TV, and you’ve worked with all these great people on Bridesmaids.

I never understand the question, I’ve known funny women my whole life. So many of my friends were really funny women. I can understand how it can happen, especially in the last 20 or 30 years, women haven’t been allowed to be that funny. They’re always stuck in the role of the nagging wife or girlfriend. It’s something that comes from the male perspective. “All my friends are really funny and our girlfriends and wives ruin the fun by making us be adults.” That is an experience, but it’s not the only experience. It’s just silly, though. I like women’s comedy ultimately more, because guy comedy is very confrontational, ugly and resorting to name-calling. The comedy of women tends to be a little goofier, sillier and very passive-aggressive. They aren’t going toe to toe, they like to pretend everything’s nice and then they go and discuss with their friends. It’s gentler, but sillier and funnier. Just being on set with those women, they’d make me laugh so much. On set, Maya and Kristen would do these weird dances and imitations that were just fun. There was no ugliness. The last scene, where they sing, that was them, I was just pointing the camera and just having fun. It came out of them knowing that song and being old friends and grabbing their boobs. I could never tell them to do that.

How about that feeling that if the movie didn’t make it, no women would ever be allowed to be funny in movies again?

It’s very weird. I became aware of it. I guess I went into the project with the knowledge that that might be the case. I put that pressure on myself. I had a lot of female friends with women-led projects waiting to be approved and they had to wait to see how the movie did. You have no idea if people were going to show up. The fact that studios were going to use as the litmus test added more responsibility. And it wasn’t fair. They don’t do that with guy comedies. It’s a crazy way to look at it.

How do you think Sam, Neal and Bill, the comedy movie-loving geeks from Freaks and Geeks, would feel about Bridesmaids?

I think Sam and Neal would like it, but I think Bill wouldn’t like it. He thought Groucho sucked, but he liked Stripes. He would think women weren’t as funny as guys. I’d have them do that if I ever wrote that scene.

Note: the long stretches where I couldn't remember how to speak properly because I was talking to one of my fucking heroes (and where I subsequently wound up praising him and telling him that he turned me into a comedy geek) were cut out.

Só uma coisa

O próximo post será americano porque me apetece.

quarta-feira, julho 13, 2011

Feig

Entrevistei o Paul Feig, um dos meus heróis. Faz-me contente ver que ele está finalmente a ter o reconhecimento que merece.

quarta-feira, julho 06, 2011

Ainda mais Zanguineto

Lembrei-me desta agora. "Pixar movie" é "banda desenhada". A sério. Existe uma pessoa que é paga pela Zon para fazer isto.

terça-feira, julho 05, 2011

Outra vez Zanguineto

O rapaz é dos poucos tradutores de cinema que são automaticamente reconhecíveis. Logo que li "estás apanhada" percebi que era ele. É um verdadeiro auteur das legendas.

Olá Luís Zanguineto

O meu tradutor favorito está de volta! No Bridesmaids ele traduz "you are a total catch" de uma maneira deliciosa: "estás apanhada". Também escreve "encontrá-mo-la" (sic) e, para ele, um "gay prostitute" é um "chulo". Mesmo assim, a Zon continua a dar-lhe dinheiro para fazer traduções. O nosso país não apoia a incompetência.

quarta-feira, maio 11, 2011

domingo, maio 08, 2011

Foda-se

Há nove anos fui ver o Mulholland Drive. A meio do filme, quando uma tipa estava a cantar e a voz dela estava a ir cada vez mais para cima, deixou de haver som. Só se ouvia o metro a passar. Por ser um filme do David Lynch, ninguém estranhou até aparecerem legendas. Que me lembre, nunca mais aconteceu nada do género, é só uma das milhentas memórias que guardo dos cinemas do Saldanha Residence. Queria ter ido lá hoje, mas agora nunca mais poderei lá ir. Foda-se. Foram anos e anos a ir lá quase todas as semanas, centenas de filmes vistos, de comédias românticas nojentas a filmes franceses aborrecidos como tudo, do Life Aquatic ao Live Free or Die Hard – e, porra, quão impressionante é o facto de o Timothy Olyphant, que é um badass incrível na vida real e no Deadwood e no Justified, ter sido o pior mau de sempre nesse filme? – sessões duplas, sessões repetidas, etc. Nunca mais vou ouvir o metro e não estranhar. É triste.

quarta-feira, abril 27, 2011

quinta-feira, abril 07, 2011

Parté



Posso dizer, sem sombra de dúvida, que este trailer é das coisas mais bonitas que já me aconteceram na vida. Acho que depois do visionamento do filme posso morrer feliz. Basicamente, muitas das pessoas mais incríveis do mundo estão envolvidas nisto, e ainda por cima é dos Beastie Boys, espécie de heróis de adolescência e a razão pela qual gosto de rap. Muito bonito.
A terceira temporada do Eastbound and Down só deve chegar em 2012, mas parece-me que, entre isto e o Your Highness (espero mesmo que se estreia já para a semana), o Danny McBride parece-me um dos vencedores do ano. O que é notável, tendo em conta que ele também dominou 2009 e 2010. E espero que continue a ganhar por muitos anos mais.

terça-feira, abril 05, 2011

O meu bigode

Não sei quando é que começou o fascínio pouco natural que nutro por barbas. A primeira barba que deixei crescer foi em 2002, durante o Verão. Era uma barba básica, ainda sem ligação entre o bigode e o resto dos pêlos, mas não fazia mal. Afinal, conheço gente com mais de 30 que ainda não a tem. Não era má para miúdo de 15 anos, vá. Apesar de ter sido uma decisão um bocado estúpida (eu era gordo e no Verão a barba ajuda a suar mais), gostei. Ao longo dos anos fui tendo sempre algum tipo de pilosidade facial, de patilhas das quais me arrependo brutalmente a barbas quase messiânicas (nunca nada de muito abusado, tenho medo disso).
No começo, o amor era só pela minha barba, até que comecei a observar as dos outros. Talvez tenha sido algures em 2004/2005, altura em que vi pela primeira vez o Comedy Central Presents do Zach Galifianakis. A barba dele ainda não era o colosso que é hoje, mas já era portentosa. Acho que, de uma maneira ou de outra, todas as barbas que deixei crescer desde então foram em homenagem à dele (e, claro, ao facto de o tipo ser um dos gajos mais hilariantes do mundo, e de eu ficar muito feliz sempre que o vejo a ficar mais famoso de ano para ano). Há barbas que me fazem feliz, da do Kyp Malone (não tive coragem para afagá-la, morri de inveja do Stephen Colbert quando ele a afagou no programa dele – e claro que não foi a primeira vez que morri de inveja do Stephen Colbert, afinal, o gajo é o Stephen Colbert) à barba que o William Hurt envergou orgulhosamente nos Globos de Ouro de 2010. Em Portugal, adoro as barbas do Quim Albergaria e do Nélson Gomes (e já as afaguei muito mais vezes do que quero admitir em público).
Reparo agora que só falei de barbas grandes, mas gosto de todo o tipo de barbas, tirando talvez aberrações como os passa-piolhos, barbas que ignoram totalmente a parte por baixo do queixo, barbas demasiado aparadas nas bochechas ou combinações de bigode e pêra (salvo raras excepções como o Simon Pegg ou o Danny McBride). É mais ou menos como gosto de mamas, só que neste caso é uma relação estritamente platónica. De momento, vou alternando o uso de barba com o uso de bigode. Ou melhor, deixo o bigode e depois não faço mais nada e a barba cresce sozinha. No momento em que não se nota que tenho um bigode maior que a barba, deixo outra vez o bigode. O que me leva ao essencial: não há nada no meu bigode que seja irónico. É tudo sentido. Gosto genuinamente de bigodes, como gosto genuinamente de Hall & Oates (e do bigode do John Oates).
Desde quando é que um bigode tem de ser irónico? Alguma vez houve pessoas a chegarem-se ao pé do Burt Reynolds ou do Tom Selleck e a acusarem-nos de terem um bigode irónico? Não. Por que raio é que eu, aos 24 anos, não posso usar bigode? O Eddie Murphy ficou famoso aos 20 ou 21 e tinha bigode. Ninguém se queixou. Achar que o caso dele é diferente do meu é ser racista (ou então é achar que só porque um gajo era sido dos melhores cómicos de sempre isso lhe dava o direito de usar o que quisesse por cima do lábio, o que eu até aceito).
Houve três razões, ou melhor, pessoas, que me levaram a perceber que ter um bigode não precisava de ser irónico, que podia simplesmente fazer parte de mim. Uma delas, talvez a maior, foi o Ron Swanson/Nick Offerman, porque o Parks and Recreation é, sem sombra de dúvida, das melhores partes da minha existência, algo que não só me faz rir sem desiludir semana após semana, como também me põe um sorriso na cara sem entrar em sentimentalismos foleiros. Outra foi a maneira como, sempre que acaba um filme, o Darren Aronofsky aparece em público com bigode, sem chamar a atenção para isso. Outra foi o Paul F. Tompkins, em especial neste maravilhoso vídeo do Ted Leo:


No domingo fui ver o Ted Leo. Depois do concerto – que foi incrível, não ouvia um disco dele há meses e conhecia todas as canções de cor; só foi uma pena estar praticamente vazio –, interpelei o próprio para lhe dizer que o Paul F. Tompkins no vídeo dele era uma das razões pelas quais eu tinha bigode. Porque é um tipo que, sendo hilariante, não usa o bigode para a comédia. Expliquei-lhe que o Paul F. Tompkins me ensinou que um bigode não precisa de ser a gozar, pode ser sincero, pode apenas fazer parte da cara de alguém. O Ted Leo concordou, e disse que me assentava na cara, o que é um óptimo elogio. Pegou no iPhone dele, tirou uma fotografia, e disse que enviá-la ao Paul F. Tompkins. Posso ter sido um pouco rude, já que só lhe elogiei o concerto durante pouco tempo e passei o resto da nossa conversa a perguntar-lhe por que é que tem amigos tão incríveis (falei-lhe especialmente da Julie Klausner, de como a primeira vez que conheci o Aziz Ansari foi neste vídeo com o próprio Ted Leo, e de outras pessoas). Mas o que interessa é que o Paul F. Tompkins, do Mr. Show, do There Will Be Blood e de outras coisas que eu adoro, um tipo que quase me fez chorar na entrevista que deu ao invariavelmente bom WTF do Marc Maron que ouvi ainda há uma semana, viu o meu bigode. Provavelmente.

sexta-feira, março 18, 2011

Ferrell e Rodgers

Por falar em Ferrell, não fazia ideia de que o Nile Rodgers tinha sido responsável por esta pérola, o que só prova a minha teoria de que o Rodgers é uma espécie de divindade.



Quer-se dizer, poderia alguém que não fosse uma divindade vestir-se assim?

Como um boss

Depois de ter ouvido, de manhã, o Adam McKay a falar de como constrói os filmes com ele, ontem à noite lembrámo-nos do quão grande é o Will Ferrell e de como, sempre que ele abre a boca para cantar (e não só, claro), o mundo é um sítio bastante melhor. É uma delícia quando, muito raramente, a melhor pessoa a fazer uma coisa é também a pessoa mais bem sucedida e conhecida. Faz-nos ter fé na humanidade, o que não é fácil. Era só isto.

quarta-feira, março 16, 2011

Cantor de rap

O gigante Nate Dogg morreu. Às vezes lia em jornais aparentemente sérios como o Público a detestável expressão "cantor de rap" para se referirem a um rapper. Em que é que eu pensava quando lia "cantor de rap"? No Nate Dogg, o tipo que, antes do auto-tune, cantava os refrães todos da malta da Death Row. Não era, certamente, num rapper. Ironicamente, o gajo morre e o Público noticia a morte de um rapper, coisa que ele não era propriamente.

quinta-feira, março 10, 2011

Lowe

Afinal existe justiça no mundo.

Lowe

Temo-nos todos divertido imenso com o Charlie Sheen, mas é muito grave se ele for substituído pelo Rob Lowe no Two and a Half Men. É impossível sublinhar o quão má e detestável a série é, e pensar que o Lowe – uma pessoa que, tal como o Paul Rudd, é ao mesmo tempo hilariante, bonito, talentoso e adorável – pode deixar o Parks and Recreation, onde faz um trabalho maravilhoso como uma personagem que está constantemente feliz, e começar a trabalhar numa das maior abominações da sociedade ocidental é assustador. Tenho medo, muito medo.

terça-feira, março 08, 2011

Return of the Mac

O Prodigy saiu ontem da prisão, onde esteve durante anos não sei por que raio (nem quero saber, por medo). Só me lembro de que o Return of the Mac era incrível e esta cantiga nova tem um beat magistral, naquela onda de "vivemos no início dos anos 90" contra a qual não tenho nada se for tão bem feita como é aqui.

Fiasco

Era 2005 e, por cima de um sample da "Move On Up" do Curtis Mayfield, o Kanye West tocava o céu. Algures a meio aparecia um tipo vindo do nada, alguém de quem nunca tinha ouvido falar, que se apresentava ao mundo com "Yes, yes, guess who's on third? Lupe still like Lupin the Third." Fiquei impressionado, o flow era incrível, cheio de personalidade. Seguiu-se "Kick, Push", um clássico moderno, e um disco que tinha algumas malhas fixes. O sucessor não era tão bom, mas ainda tinha um bocadinho de nada porreiro. Não me lembro – por ser tão mau – do que é que aconteceu entretanto, mas ontem chegou-me o Lasers às mãos e fiquei verdadeiramente triste. Onde é que este gajo errou? Por quê? Tanta promessa, tanto talento e depois...tanta parvoíce. Não perdi o respeito por ele quando, numa homenagem aos A Tribe Called Quest – que, quando apareceu, dizia nunca ter ouvido –, disse "I lik'em yellow, brown, Puerto-rican and Haitian" – qualquer pessoa que tenha martelado até à exaustão a "Electric Relaxation" sabe que o Phife diz "I lik'em brown, yellow", o que é totalmente diferente – e depois se esquece do resto da letra. Mas, foda-se, Lasers é tão, cheio de tão maus beats (a sério, não há ninguém escolha mais mal beats no mundo inteiro), armado em Black Eyed Peas (há um gajo qualquer chamado MDMA ou que é que canta três refrães nojentos), a almejar ser a banda sonora irritante de uma ida à Pull & Bear num sábado à tarde. Há três que se safam, e o Lupe Fiasco ainda tem talento, mas é tão mal usado que chega a ser confrangedor. O gajo não podia, tipo, contratar o Rick Ross ou alguém do género para lhe escolher beats? A sério, esse gajo sabe.

domingo, março 06, 2011

Knowing

Quando era miúdo sonhava com ter à minha disposição todos os episódios alguma vez feitos dos Simpsons para poder vê-los quando quisesse. Achava que dessa forma nunca poderia estar aborrecido, nem sequer triste. Mesmo que visse episódios repetidos, eram tantos e tão densos que era impossível lembrar-me de tudo e, mesmo assim, não tenho nada contra rir-me outra vez das mesmas piadas se estas forem realmente boas. Sem o James L. Brooks, produtor executivo daquilo, a série nunca teria sido a mesma (além do nome dele ter aberto portas, consta que há pouca gente como ele a saber dar a volta a histórias e piadas que não funcionam). Já para não falar do facto de, algures nos anos 90, o Brooks ter reparado num menino chamado Wes Anderson e ter servido de mentor dele, tanto em termos de escrita como em termos de negócio. Ou seja, não era preciso adorar os filmes dele para adorá-lo. Mas também os adoro.
Vi o As Good as it Gets em 1998. Não sei por que raio, mas uma professora e um colega tinham recomendado o filme na aula, o que não era propriamente comum nas aulas do sexto ano. Acho que fui a um aniversário qualquer no Burger King e depois atravessei a rua para ir às Amoreiras ver o filme com a minha família. Não me lembro assim tanto de pormenores do género sobre outros filmes que vi na altura, por isso deve querer dizer alguma coisa. O essencial é: ninguém escreve personagens (e relações entre elas) e diálogos como o James L. Brooks (o meu irmão, que raramente decora citações de filmes na perfeição – como qualquer pessoa normal, engana-se sempre numa ou outra palavra –, ainda hoje sabe de cor a parte em que o Jack Nicholson apresenta a Helen Hunt ao Greg Kinnear: "Carol the waitress, Simon the fag"). E isso ainda hoje é verdade.
Apesar de o How Do You Know? ser fraquinho, não é mau. O Paul Rudd continua a ser o tipo mais adorável de sempre, das poucas pessoas no mundo com quem é impossível embirrar e das raras pessoas que têm talento, beleza e piada ao mesmo tempo, e vai bem, tal com o Owen Wilson. Não gosto da Reese Witherspoon, mas também não vai mal. O problema é que o Jack Nicholson nunca, nem num milhão de anos, seria o pai do Paul Rudd, e parece só estar no filme porque o James L. Brooks acha que ele é o melhor actor de sempre, o filme tem meia hora a mais – o Brooks, que tanto entretenimento me proporcionou ao longo dos anos, aborreceu-me num ou noutro momento – e parece, superficialmente, uma comédia romântica banal, apesar de não ser (a sala estava quase cheia, mas quase ninguém se riu das piadas, se calhar há ali qualquer coisa que, em termos de tom ou de ritmo de piadas, não bate certo, mas eu ri-me na mesma; isto se calhar explica o facto de ter sido um flop) e de dar voltas inteligentes aos lugares comuns do género. Não consigo perceber por que raio é que levou tanta porrada. Não é o Broadcast News? Claro que não, nenhum filme é o Broadcast News, porra. O James L. Brooks pode ter sido ultrapassado pelos discípulos dele (o James L. Brooks é muito mais um escritor do que um realizador, e o Wes Anderson é ambos e o Judd Apatow – fã confesso – anda a aproximar-se do nível dele e nunca fez, como realizador, nada tão fraco como este How Do You Know?), mas não ficou senil e não deixou de saber escrever. E isso é muito importante.

quinta-feira, março 03, 2011

Anne & Jerry 2

Já voltaram, sobre os Óscares e quão bom era o frango nos jantares dos Emmy e dos Tony a que foram. Delicioso e adorável, como sempre.

Foda-se

Num país onde o talento é recompensado, o Tim e o Eric (do Awesome Show, Great Job!, que é a coisa estranha mais hilariante do mundo) juntam os seguintes nomes no elenco do primeiro filme que vão fazer: o Will Ferrell e o Zach Galifianakis (que são o Will Ferrell e o Zach Galifianakis), o Will Forte (que é o MacGruber e partiu loiça como convidado no 30 Rock e no Flight of the Conchords), o Jeff Goldblum (ainda não me saiu da cabeça aquele dueto com o Biz Markie), o John C. Reilly (lembrei-me recentemente da canção incrível que ele cantou nos Óscares há uns anos sobre o facto de a comédia nunca ganhar prémios, ele mencionava o facto de que apareceu no Talladega e no Boogie Nights), o Robert Loggia (nem sabia que ainda estava vivo, pensava que ou o Al Pacino o tinha morto no Scarface ou o Tom Hanks o tinha cansado até à morte com aquele piano de pés do Big) e o William Atherton (o douchebag burocrata por excelência dos anos 80, a sério, o Die Hard e o Ghostbusters – duas das coisas mais puras e bonitas que o mundo já conheceu – não seriam tão incríveis sem ele). Por cá, A Família Mata. Não há por onde falhar.

quarta-feira, março 02, 2011

30 Rock

Por muito que o Luís diga que o 30 Rock anda fraquinho – e ele tem razão, até certo ponto –, o Alec Baldwin continua a ser a razão pela qual me levanto todos os dias. O que me lembra este discurso tocante da Tina Fey e a citação do Michael Keaton que me fez perceber que não era só a voz do Baldwin (algo que me faz preferir o Royal Tenenbaums ao Rushmore: pode ter menos Bill Murray, mas tem a narração do Alec Baldwin) que me fascinava, era também o cabelo: When you look at the [clip] reel of this guy ... and the photographs and pictures, and you see the range of the things he’s done ... I think to myself, What an extraordinary head of hair this man has. No, he does.

terça-feira, março 01, 2011

Sopranos, misoginia e os Óscares

No This Recording, um must-read da Molly Lambert. Sou um gajo (tipo é mais simpático, não é?), sim, e gosto imenso de mamas (e de rabos, e ainda bem que nunca tive de fazer a escolha que o Kenny "Fucking" Powers teve de fazer na segunda temporada do Eastbound and Down), mas muitas vezes sinto-me como o Ira Wright, a personagem do Seth Rogen no Funny People (e, por falar nisso, ele sempre achei que ele escrevia muito bem para mulheres, e até antes disto):

My friends are very sexually aggressive, which is hard for me. You know, we’ll watch television and they’ll just see a hot girl will come on and they’ll just be, “Man, I wanna fuck the shit out of that girl, man!… I’m gonna fuck that girl!” And I, like, can’t even say that. I can’t even pretend I would do that. I see a hot girl on TV and I’m like, “Man, I would friend the shit out of her!… I’d friend her all night! I would be her girlfriend!… I would drive her to the airport, man!… I would hold her purse while she shopped, all over her tits!

Entre as coisas que mais quero ver em 2011 contam-se o Bridesmaids (e não é só por ter sido realizado pelo Paul Feig – que terá para sempre um espaço reservado dentro do meu coração –, é por todas as mulheres envolvidas e por parecer ter realmente muita piada, se bem que ache que é um pouco ofensivo ninguém ter convidado a Mindy Kaling – que, a par da Abby Elliott, foi a melhor parte do Friends With Benefits –, quer dizer, tipo, a Ellie Kemper tornou o Somewhere mais tolerável) e a adaptação televisiva do I Don't Care About Your Band, o livro incrível da Julie Klausner que é tipo Sexo e a Cidade, mas em bom (sem ter nada a ver, claro, que ter isso como referência máxima e almejar fazer humor com esse universo como objectivo nunca fez bem a ninguém). Vai ser com a Lizzy Caplan, e não há ninguém melhor no mundo. Por falar em Klausner, lembrei-me desta citação dela numa entrevista:

Q: What do you hope to see from ladies in comedy in the future?
A: I want the funny best girl friend in comedy movies to be every bit as fucking fat as the leading man.


Eu também quero ver isso. O mundo só tem a ganhar com isso. E não, não é com aberrações do Chuck Lorre que vamos lá.

(por outro lado, também tenho medo de que isto pareça uma daquelas cenas do género "não sou racista, tenho imensos amigos pretos" ou "não sou homofóbico, gosto de duas canções do Elton John" – ainda por cima gosto de muito mais que duas)

Anne & Jerry

Um dos pontos altos das minhas semanas é ver, às segundas-feiras, os vídeos da Anne Meara e do Jerry Stiller – os pais do Ben Stiller – a improvisar sobre a actualidade. Gente que é casada há mais de 55 anos, que tem piada natural para dar e vender – e para passar de geração em geração. A cereja no topo do bolo é que, como qualquer pessoa com dois dedos de testa, não gostam do Dane Cook. É terça-feira e ainda não há episódio desta semana. O Jerry Stiller tem 83 anos, a Anne Meara 81. Deverei ficar preocupado?

Comunidade

Com o The League, o Jon Lajoie ensinou-me o que eram eskimo brothers, ou seja, esquimós que partilharam o mesmo igloo, dois rapazes que se tornaram amigos porque ambos usufruiram da companhia da mesma rapariga. Mais recentemente, no terrível Friends With Benefits, o Ludacris, além de ter usado a pior selecção de camisas que já vi num filme (e de ter continuado o que faz na "Area Codes" ao fazer ainda mais um trocadilho com "ho", algo que eu não achava fisicamente possível depois dessa tour-de-force) , mostrou-me o que era um tunnel buddy, que é mais ou menos a mesma coisa, só que sem a parte da amizade. Nunca na vida conheceria estas expressões ou estes contextos se não fosse esta gente e quase que vivo vicariamente através dessas personagens. Por isso é que gosto tanto do Abed do Community: tudo o que ele aprendeu sobre a vida e as relações foi através da televisão. Não sou totalmente assim – tenho, sei lá, uma vida e tal –, mas é uma das razões que fazem com que o Community seja a minha série favorita neste momento. É isso e os quatro episódios da série que são verdadeiras obras-primas: o do paintball, o do filme da máfia, o de Natal e o do Dungeons & Dragons (se eu fosse realmente como o Abed ou como o Judd Apatow saberia de os títulos deles, mas devo voltar a sublinhar que tenho uma vida e, por isso, não sei...vá, pronto, sei que o do paintball se chama Modern Warfare).

Charlie Sheen

O melhor disto tudo é que o Charlie Sheen, depois de anos a tentar, está finalmente a ter piada.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Brooks

Os meus Brooks favoritos, por ordem alfabética:

Albert
James L.
Mel

Bale

Gostei muito do facto de o Christian Bale ter dado uma de Daniel Day-Lewis e ter aparecido de barba. Aplaudo intensamente a maneira como ele apresentou aquela barba ruiva – sim, é uma cena, imensa gente morena/loira/etc. tem barba ruiva – fraquíssima ao mundo. Está tudo na atitude, é preciso confiança para usar uma barba tão pobre com a beard swagger de um Zach Galifianakis ou alguém do género.

Shaolin

Aquilo ontem acabou com um coro de crianças de Staten Island a cantar e eu já nem me lembrava disso. Huh? É desprestigiante para uma cerimónia que se quer séria juntar mais de sete pessoas de Staten Island em cima de um palco e dar-lhes microfones sem nenhuma delas se chamar RZA, GZA, Ol' Dirty Bastard, Method Man, Raekwon, Inspectah Deck, Masta Killa, U-God ou Cappadonna.

Ideia

E que tal o Justin Timberlake para o ano? Não é como se o James Franco não fosse fisicamente capaz de ter piada – teve, até certo ponto –, é só que não se esforçou minimamente. A sério, o gajo tem piada (foi das melhores partes da cerimónia de ontem, o que não é dizer muito), não há ninguém no mundo que não goste dele (nem há quaisquer razões para isso), a criançada gosta dele e ia ter imenso tempo para se preparar. Afinal, não é como se andasse a fazer música. Se é apelar à juventude que eles querem, sem usar cómicos a sério e gente que sabe realmente o que está a fazer, não vejo melhor solução.

127 Horas

Não é porque o gajo está preso numa fenda durante a maior parte do filme (os gajos conseguem, até certo ponto, dar a volta ao problema de isso ser intrinsecamente aborrecido), não é por causa dos flashbacks e das alucinações foleiríssimas em que o pai dele é o tipo do Everwood (algo que, na minha cabeça, transporta o filme automaticamente para o campo do manhoso), nem é porque os truques e efeitos especiais são irritantes. É mesmo por terem a Lizzy Caplan a fazer de irmã dele e desperdiçarem-na numa mensagem de voice-mail e em duas imagens tenebrosas. O tipo de gente que tem a Lizzy Caplan ao seu dispor e não faz nada com ela é o tipo de gente com o qual não quero ter nada a ver.

Um pensamento assustador

Se a ideia é tornar os Óscares uma cerimónia menos chata e mais apelativa para os jovens, por que raio é que fazem uma cerimónia SEM PIADA? Terá a ver com o facto de a juventude gostar de aberrações sem comic relief como o Twilight? É um bocado triste/assustador pensar num mundo em que as pessoas são treinadas desde pequenas para nunca se rirem.

Vai-te lixar, Bruce Vilanch

Há uns dias, o AV Club publicou uma entrevista com o Bruce Vilanch, um tipo que é pago a peso de ouro para ter um corte de cabelo ridículo e usar t-shirts sem piada mas fazer o ar de quem tem a maior piada do mundo. É também um dos responsáveis pelo que sai da boca dos apresentadores dos Óscares, que este ano foram especialmente terríveis (por razões óbvias, o James Franco terá para sempre um lugar no meu coração). Isto foi o que ele disse sobre o Ricky Gervais a apresentar os Globos de Ouro:

I mean, he never hit funny. Making jokes about The Tourist is just not funny; it’s just kind of mean-spirited and cruel. I think that partially is that he lost his cuddly—he was heavier and befuddled and kind of looked a bit lost [last year], and this year, he came out and he was like a shark. He took his jacket off, and his body’s all worked out, and it’s not a sympathetic character up there. He was just a mean kind of player. Plus, I thought his targets were lame. I mean, Charlie Sheen and how old Bruce Willis is? I mean, this is old stuff. Scientology and who’s gay and who’s not? This is not fresh target material to make jokes about. All you can be is outrageous—you’re not going to be funny. All you’re going to get is a lot of “oooooohhhhh.” And that’s what he got. He got a lot of “oooooohhhhs.”

And yet, a cerimónia sem piada foi a escrita por ele (e até houve direito a bocas ao Charlie Sheen). Vai-te lixar, Bruce Vilanch. E é óbvio que actores nunca mais deviam apresentar os Óscares. Bom esforço, malta, vou continuar a olhar para o Daniel Desario e para a...huh...errr...a sério, não tenho nada contra ela, mas não me consigo lembrar de um único papel dela ou não ser aquele em que ela mostra as mamas e tem Parkinson numa comédia romântica ou aquele em que ela é uma princesa de uma ilha qualquer e neta da Julie Andrews (são coisas que não acontecem todos os dias nos filmes)...vou continuar a olhar para vocês com o mesmo respeito de sempre, mas aborreceram-me de morte. Foi quase tão mau como o Hugh Jackman. Quase.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Swag

É impressão minha ou isto é incrível? Concordo com o guincho histérico do Mos Def no fim. Loucura.


terça-feira, fevereiro 15, 2011

Swanson

Que me perdoe o Tom Haverford, mas o Ron Swanson (e, por conseguinte, o Duke Silver) faz-me feliz. A sério que faz.

Offerman e Mullaly

Gostava que o Nick Offerman me desse aulas de carpintaria.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Vencer

Quando o Seth Rogen era gordo, não era tão gordo quanto eu era quando era gordo. E quando ele emagreceu, não emagreceu tanto quanto eu. Ele fê-lo por uma razão específica, para fazer o Green Hornet (e para se enrolar com a Aubrey Plaza no Funny People). Eu não, fi-lo porque me apeteceu. Toda a gente, ou pelo menos quem escreveu criticamente sobre ele, odiou o Green Hornet. Eu não. Diverti-me, ri-me e senti-me como uma criança altamente entretida. Era um filme sobre o facto de os americanos terem crescido ricos e mimados e terem óptimas condições mas serem preguiçosos e os chineses, que nunca tiveram nada, terem-se esforçado e treinado para serem melhores que eles em tudo, não era? Dou pontos extra ao split screen à Thomas Crown Affair. Só não gostei de ter pago uma exorbitância para vê-lo, sob condições deploráveis, numa sala terrível, ainda para mais cheia de crianças de 10 anos que pura e simplesmente não se calavam. De certa maneira, senti-me como elas se devem sentir quando vêem o Twilight ou filmes detestáveis do género. Ou seja, contente, mas com a adição de me ter rido, algo que só acontece no Twilight em cenas que eram supostamente sérias (é isso, aliás, que é verdadeiramente detestável nessa saga nojenta: a falta de vontade de fazer rir). O filme foi um sucesso de bilheteira, rendeu algum dinheiro, mas de certa maneira falhou. Eu não. Há que dizer que nunca venci o que quer que fosse na vida. Nada, absolutamente nada. E, mesmo assim, houve, no mundo, quem me tenha considerado um vencedor, o que me levou a dizer, num certo sítio, um chorrilho de parvoíces ridículas (e a esquecer-me de mencionar que tenho saudades de ter mamas e de suar mesmo durante o Inverno). Há sempre uma primeira vez, que também será provavelmente a última. É que posso ter ganho esta etapa, mas acho que o Seth Rogen vai ganhar as outras.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

O melhor emprego do mundo

Há cinco anos, se me falassem do Jimmy Fallon, provavelmente diria uma variação de "esse gajo é o pior de sempre". E teria razões para tal. Afinal, estamos a falar de um tipo que era conhecido pelas imitações de celebridades – e, por falar nisso, imitar vozes de outras pessoas não é um talento significativo ou válido em lado nenhum, o que interessa é a piada que está por detrás das imitações, e adorava que um dia Portugal percebesse isso, porra – e por se partir a rir em tudo o que era sketch. Um gajo que fez o Taxi – que no outro dia estava a passar na SIC ou na TVI e não é assim tão horrível como passei anos a pensar que seria, é só muito fraquinho –, alguém que tentou uma carreira em Hollywood mas falhou. Quando o anunciaram como substituto do Conan O'Brien quase chorei. "Este gajo não tem piada", pensei eu. E continua a não ter, ou, pelo menos, não tem piada natural.
Mas é divertido. E o programa dele é divertido. Pode não ser hilariante ("funny"), mas é "fun" ("divertido"). Ele é porreiro, tem um faro para boas ideias e rodeia-se das pessoas certas (os Roots e o A.D. Miles, por exemplo), isto além de ter uma cultura cómica fora do normal (ele adora aquilo, idolatra as coisas que interessam, dá espaço a boa gente). E tem momentos incríveis. Não falo do medley com o Justin Timberlake sobre a história do hip-hop – que é óptimo –, mas, por exemplo, de ter o Jeff Goldblum, do nada, a tocar piano e a cantar "Just a Friend" com o Biz Markie, um daqueles momentos totalmente gratuitos que me fazem sorrir de orelha a orelha (como o próprio Fallon sorri). Ou o Steven Tyler a cantar "Walk This Way" com o Jimmy Fallon e o Black Thought a fazerem de Run e DMC com Adidas e calças pretas. Tudo incrível, tudo delicioso. Ele diverte-se e eu também. Ele tem o melhor emprego do mundo. De sempre. Nem sequer precisa de ter piada, algo que lhe tira imensa pressão de cima.
Já para não falar dos convidados musicais em si. Que outro sítio do mundo é que pode ter Liquid Liquid, Tom Tom Club, a reunião dos Dismemberment Plan e ainda haver espaço para uma banda residente que fica tão boa a tocar "Late in the Evening" com o Paul Simon como "Bring the Noise" com os Public Enemy, "Straight Outta Compton" com o Ice Cube, "So What'cha Want" com os Beastie Boys ou canções do último do Ludacris, dos Clipse ou do Rick Ross?
Isto só serve para provar que às vezes os ódios não duram para sempre e que quem é mau hoje poderá ser bom amanhã, ou que daqui a uns anos posso olhar para trás e pensar que afinal não era assim tão mau. Continuo, porém, com a certeza de que quem faz piadas básicas com o nome "Lyonce Viiktórya" não merece uma segunda oportunidade. É que já percebemos, toda a gente do mundo sabe que o nome é estranho, ridículo e hilariante, não é preciso mesmo mais nada.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

segunda-feira, novembro 15, 2010

Incredibilidade 2010

My Beautiful Dark Twisted Fantasy (e G.O.O.D. Fridays).
The Social Network.
Scott Pilgrim vs. the World.
I Don't Care About Your Band.
Kenny "Fucking" Powers (pelo segundo ano consecutivo) + Eduardo Sanchez.
Justified e Luther.
Treme.
Contra, The Stimulus Package, The Monitor Sir Lucious Left Foot e The ArchAndroid.
Boardwalk Empire.
O Twitter do Steve Martin.
Os abraços do Wayne Coyne, do Esau Mwamwaya (e da Nika).

terça-feira, novembro 02, 2010

Being Charlie Sheen

Não é fácil. Charlie acorda todos os dias, empurra a prostituta da noite anterior para o lado, levanta-se da cama e olha-se ao espelho. Sente-se mal, velho, acabado. Passam-lhe uma dúzia de pensamentos negativos pela cabeça: "O meu pai é incrível, foi o melhor presidente dos Estados Unidos de sempre, e eu não"; "Em termos de filmes do John Hughes, eu fiz de criminoso no Ferris Bueller's Day Off, o meu mano fez de beto desportista no Breakfast Club e, ao contrário de mim, parece ser um ser humano com o qual as pessoas podem simpatizar"; "Nasci e cresci rico, sou o actor mais bem pago da televisão", etc.
É aí que entra em jogo o primeiro risco de cocaína do dia. Entra-lhe pela narina e, tal como a água limpa a sujidade, o detergente colombiano livra a sua mente de dúvidas. Dá duas chapadas, uma em cada face, e, a muito custo, decide que vai acordar e encarar mais um dia de trabalho. "O mundo precisa de ti, Charlie", pensa ele enquanto tira do armário uma das centenas de camisas de bowling feias que lá guarda. Logo a seguir, mete-se no carro. No lugar do morto vai a primeira acompanhante de luxo do dia, que trabalha enquanto ele guia até ao estúdio onde é filmado o Two and a Half Men. A meio do caminho, Charlie liga à sua mulher. "Também tenho pensado em ti, amor. Não, nunca mais te apontarei uma faca."
A dor intensifica-se quando olha para um dos actores com quem ele partilha a série. "Este gajo foi o Ducky do Pretty in Pink, eu fui um criminoso no Ferris Bueller's Day Off." Vai ao camarim e acompanha um risco com um shot de whisky. Tudo corre bem. O guião é, como sempre, imaculado. A história do episódio envolve o facto de um homem rico e emocionalmente imaturo estar à procura do amor enquanto dorme com centenas mulheres bonitas e educa o seu sobrinho. As piadas são das melhores que o Chuck Lorre já escreveu para ele, cheias de inteligentíssimos trocadilhos e metáforas sexuais ou reciclagens de frases machistas anteriores.
Sem grande esforço, acaba o trabalho. Mais um dia, mais um zero para a conta bancária. Será mesmo assim? Não, Charlie prefere não ir para casa descansar. Ainda tem muito que fazer. Afinal, há prostitutas para contratar e usar, dealers por contactar e, do alto da bebedeira, quartos para destruir e esposas para ameaçar violentamente. É difícil ser Charlie Sheen e devíamos estar todos muito gratos pelo facto de ele, dia após dia, continuar a lutar para que nos possamos rir. Com ele, nunca dele.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Coincidência?

Nesta (altamente deprimente) entrevista, o Mitchell Hurwitz diz que o objectivo dele, ao criar o Arrested Development, era fazer uns Simpsons com imagem real. Nesta mesa redonda com o Edgar Wright, o Judd Apatow, o Todd Phillips, o Adam McKay e o John Landis, o Wright diz que o Spaced era uma tentativa de fazer uns Simpsons com imagem real. Ou seja, duas das melhores séries cómicas dos últimos 11 anos (a sério, o Spaced já tem 11 anos) surgiram a tentar transpor os Simpsons para o mundo real. Será que isso quererá dizer alguma coisa? Não encontro nenhuma citação do Dan Harmon, mas parece-me que o objectivo do Community era basicamente esse. Se ao menos o Chuck Lorre tivesse esse objectivo em mente quando cria sitcoms, em vez de "apelar ao mínimo denominador comum e fazer rir pessoas sem cérebro com as mesmas piadas batidíssimas de sempre", talvez o mundo fosse um sítio melhor. E é mesmo muito, muito triste que Running Wilde não tenha pegado. Supostamente, se pegasse, a fama da série daria finalmente ao mundo o filme do Arrested Development. É por estas e por outras que não podemos ter coisas boas, o mundo estraga-as.