domingo, março 06, 2011

Knowing

Quando era miúdo sonhava com ter à minha disposição todos os episódios alguma vez feitos dos Simpsons para poder vê-los quando quisesse. Achava que dessa forma nunca poderia estar aborrecido, nem sequer triste. Mesmo que visse episódios repetidos, eram tantos e tão densos que era impossível lembrar-me de tudo e, mesmo assim, não tenho nada contra rir-me outra vez das mesmas piadas se estas forem realmente boas. Sem o James L. Brooks, produtor executivo daquilo, a série nunca teria sido a mesma (além do nome dele ter aberto portas, consta que há pouca gente como ele a saber dar a volta a histórias e piadas que não funcionam). Já para não falar do facto de, algures nos anos 90, o Brooks ter reparado num menino chamado Wes Anderson e ter servido de mentor dele, tanto em termos de escrita como em termos de negócio. Ou seja, não era preciso adorar os filmes dele para adorá-lo. Mas também os adoro.
Vi o As Good as it Gets em 1998. Não sei por que raio, mas uma professora e um colega tinham recomendado o filme na aula, o que não era propriamente comum nas aulas do sexto ano. Acho que fui a um aniversário qualquer no Burger King e depois atravessei a rua para ir às Amoreiras ver o filme com a minha família. Não me lembro assim tanto de pormenores do género sobre outros filmes que vi na altura, por isso deve querer dizer alguma coisa. O essencial é: ninguém escreve personagens (e relações entre elas) e diálogos como o James L. Brooks (o meu irmão, que raramente decora citações de filmes na perfeição – como qualquer pessoa normal, engana-se sempre numa ou outra palavra –, ainda hoje sabe de cor a parte em que o Jack Nicholson apresenta a Helen Hunt ao Greg Kinnear: "Carol the waitress, Simon the fag"). E isso ainda hoje é verdade.
Apesar de o How Do You Know? ser fraquinho, não é mau. O Paul Rudd continua a ser o tipo mais adorável de sempre, das poucas pessoas no mundo com quem é impossível embirrar e das raras pessoas que têm talento, beleza e piada ao mesmo tempo, e vai bem, tal com o Owen Wilson. Não gosto da Reese Witherspoon, mas também não vai mal. O problema é que o Jack Nicholson nunca, nem num milhão de anos, seria o pai do Paul Rudd, e parece só estar no filme porque o James L. Brooks acha que ele é o melhor actor de sempre, o filme tem meia hora a mais – o Brooks, que tanto entretenimento me proporcionou ao longo dos anos, aborreceu-me num ou noutro momento – e parece, superficialmente, uma comédia romântica banal, apesar de não ser (a sala estava quase cheia, mas quase ninguém se riu das piadas, se calhar há ali qualquer coisa que, em termos de tom ou de ritmo de piadas, não bate certo, mas eu ri-me na mesma; isto se calhar explica o facto de ter sido um flop) e de dar voltas inteligentes aos lugares comuns do género. Não consigo perceber por que raio é que levou tanta porrada. Não é o Broadcast News? Claro que não, nenhum filme é o Broadcast News, porra. O James L. Brooks pode ter sido ultrapassado pelos discípulos dele (o James L. Brooks é muito mais um escritor do que um realizador, e o Wes Anderson é ambos e o Judd Apatow – fã confesso – anda a aproximar-se do nível dele e nunca fez, como realizador, nada tão fraco como este How Do You Know?), mas não ficou senil e não deixou de saber escrever. E isso é muito importante.

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